Em 1876, os Estados Unidos completavam o primeiro centenário de sua independência. Para comemorar, organizaram um mega-evento na Filadélfia, a "Exposição Internacional de Arte, Manufatura e Produtos dos Solos e das Minas."
Num cantinho da exposição, por onde os jurados nem passariam, instalou-se um certo professor escocês chamado Alexander Graham Bell. Ele já estava desanimado, vendo os julgadores indo embora sem nem olharem para a mesinha de madeira sobre a qual exibia a sua invenção, que chamava de "novo aparato acionado pela voz humana".
De repente, o professor escutou uma voz chamando por ele. Era ninguém menos que o imperador do Brasil, dom Pedro II. Eles haviam se conhecido algumas semanas antes, quando o brasileiro visitara um projeto de educação para surdos no qual Graham Bell dava aulas. Coincidências da vida.
Membro de honra da comitiva de jurados, Dom Pedro II pediu ao professor que mostrasse sua invenção. Rapidamente, ele esticou um fio de cobre de mais ou menos cem metros e colocou o monarca brasileiro do outro lado da linha, com uma concha metálica, ligada ao fio de cobre, no ouvido. Graham Bell pronunciou algumas palavras.
Ao ouvir a voz do inventor, Dom Pedro II pronunciou: "Meu Deus, isso fala!".
Depois desse fato, a invenção do escocês foi reconhecida pelos julgadores da exposição como a maior de todas as novidades ali apresentadas. O resto da saga do telefone você já sabe.
Esta fantástica história está no livro "1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil", escrito por Laurentino Gomes. (Globo Livros, 2013).
Em 1962, na Copa do Mundo do Chile, o Brasil não conseguiu superar a Tchecoslováquia na primeira fase. Foi um jogo duro, que acabou zero a zero. As duas equipes voltariam a se encontrar na finalíssima.
Quando contaram a Garrincha qual seria a seleção adversária do Brasil no último jogo daquela Copa, ele perguntou: "Qual que é mesmo a Tchecolosváquia?"
Os companheiros explicaram que era aquela do empate na primeira fase, jogo no qual Pelé se machucara para não voltar a jogar naquele Mundial. Garrincha se saiu com esta: "Ah... É aquele São Cristóvão cheio de Paulo Amaral."
A Tchecolosváquia tinha a camisa branca, igual ao time do São Cristóvão, do Rio de Janeiro. Mas o preparador físico da seleção, Paulo Amaral, quis saber: "Por que cheio de Paulo Amaral?".
Garrincha: "Porque são todos grandes e fortes, mas não jogam nada."
Esta passagem engraçada está num livro comovente, uma obra jornalística de primeira linha, que muito me emocionou: "Estrela Solitária – Um brasileiro chamado Garrincha", de Ruy Castro. (Companhia das Letras, 1995).
Darly Alves da Silva, o homem condenado por ser o mandante do assassinato do ambientalista Chico Mendes, saiu de Umuarama, aqui no Paraná, em 1973, rumo ao Acre, onde seu destino, pouco mais tarde, se cruzaria com o de Chico.
Darly era acusado de um assassinato no município paranaense, por isso se mandou para o Norte do País. Quando ocorreu a morte do ambientalista, ele estava sumido.
Depois tentou justificar, ao jornalista Zuenir Ventura, que seu sumiço na ocasião do assassinato de Chico não tinha nada a ver com esse assassinato, mas com aquele que ocorrera no Paraná. A Justiça daqui mandara uma carta precatória para a do Acre, pedindo a prisão de Darly, que teria se escondido para não ser preso. Ao mesmo tempo, mataram Chico Mendes.
Zuenir perguntou: "Como é que o senhor soube da precatória?"
Darly respondeu: "Justamente por causa do telefonema do meu cunhado que disse que tinha saído notícia na Folha de Londrina que disse que eu tinha saído de lá com um rastro cheio de sangue, mentira, aquele negócio de jornal."
Olha aí, a nossa brava Folha incomodou o tal Darly. Ou seja, o jornal fez o seu papel.
Tudo isso está no livro "Chico Mendes – Crime e Castigo", de Zuenir Ventura. (Companhia das Letras, 2003).
Contei essas histórias para mostrar que os livros colocam todo o conhecimento do mundo em nossas mãos. Tenho a pretensão der despertar o gosto por eles naquelas pessoas que ainda dizem ter preguiça de ler.
E não me venha com este papo-furado de que, no Brasil, é caro ler. Isso é mentira. Nos sebos, é possível encontrar boas obras a cinco ou dez reais. Além disso, na Biblioteca Municipal você pode emprestar livros gratuitamente.
Com o perdão do trocadilho bobo, ler é o maior barato.