Dizem que todo grande time começa com um bom goleiro. Mas o nosso time, veja só, tem um guarda-metas de pouca estatura para a função e que, ainda por cima, usa óculos de grossas lentes.
Dizem que a juventude é importante para o esporte, mas nosso escrete não dá bola para frases feitas. Temos um atleta de 64 anos, que também é o treinador e o presidente, e vários outros jogadores na casa dos quarenta. Felizmente, também temos alguns que ainda contam seus vinte e poucos anos.
Nosso time se reúne apenas uma vez por semana, aos sábados, para jogar futebol de campo, no belo gramado da AFML. Para muitos dos nossos é a única atividade física da semana. E a única chance de jogar bola, coisa da qual todos tanto gostamos. Também gostamos – amamos, é melhor - as nossas esposas, mas elas não gostam muito que joguemos futebol. Um dia quero entender a razão disso.
Agora veja o mais interessante. Contra todas as perspectivas, nosso time é vencedor, mesmo quando perde. Já faz mais de quarenta anos que ele existe. E o grupo atual está junto faz um tempão.
É de praxe, depois de resultados adversos, quebrarmos o pau no vestiário. Às vezes também discutimos após as vitórias. Sempre tem alguém que acha que poderíamos ter jogado melhor.
Porém, do vestiário só levamos para casa as chuteiras. O resto fica por ali mesmo. Quando, por acaso, sobra alguma roupa suja para ser lavada, é na resenha antes do jogo da semana seguinte que ela vai para o tanque, ganha sabão e alvejante em forma de palavras sinceras e tudo fica bem.
Antes de começar a partida, sempre rezamos um "Pai-nosso". Você dirá que todos os boleiros fazem esta oração, mas no nosso time muitas vezes ela é colocada em intenção a alguém ou ao familiar de alguém. Não é bonito?
Mas acalme-se, caríssima leitora. Não estou com este papo todo só para falar das qualidades do nosso grupo de vinte e poucos marmanjos que correm atrás de uma bola de futebol.
É que, ao pensar em time, lembrei que tudo na nossa vida é feito em grupo. Mesmo que não pratique esporte algum, você faz parte de um ou mais times. O homem não foi feito para ser solitário. Adão e Eva não me deixam mentir. Mas ser solidário é fundamental. Repare que, de uma palavra para outra só há uma letra de diferença, porém o sentido...
Formamos times no trabalho, na faculdade, na igreja e até na nossa família. Veja que o Felipão, técnico da Seleção Brasileira, é mestre na estratégia de formar times, que se entendem antes de tudo, para ganhar títulos. Foi assim em 2002, com a "Família Scolari". E será da mesma forma na próxima Copa. Nas entrevistas, ele sempre dá um jeito de falar que está atrás de "atletas de grupo".
A CBF deu um grande golpe de marketing ao chamar de volta o homem que forma famílias de jogadores para exacerbar nossos melhores sentimentos pela Seleção.
Trocando em miúdos, vale mais um grupo que se dá bem nos bastidores do que uma junção de craques que não se dão.
Isso serve de lição para o nosso dia a dia. Devemos treinar nossos olhos e nossos corações para olhar mais as virtudes do que os defeitos daqueles que jogam conosco. Com as virtudes em evidência, os defeitos – que também devem ser conhecidos – são superados mais facilmente.
Lembre-se de que todo time precisa de palavras de apoio, de motivação, de incentivo, de confiança, de torcida. Você pode ser o atleta que pede a bola e faz a diferença ou o "corneta" que fica na arquibancada só jogando o grupo para baixo. A escolha é sua.
Voltemos ao nosso time de sábado à tarde. Se olhássemos só os defeitos uns dos outros, já teríamos colocado para escanteio o goleiro baixo e com dificuldades visuais. Sorte que não é assim, pois o goleiro, por acaso, sou eu.