Procuramos o senhor Ueda, o responsável pela manutenção do símbolo da cidade. A boa notícia é que os ponteiros logo voltarão a funcionar.
Hoje em dia, andamos com a cabeça inclinada para baixo, conferindo nos famigerados aparelhos de telefone celular as últimas mensagens do WhatsApp, as atualizações do Facebook, os portais de notícias e até a hora certa. Mas durante muito tempo, em Londrina, mais particularmente na região do Calçadão da Avenida Paraná, as notícias conferíamos nos jornais expostos nas bancas e a hora espichando os olhos para o alto do Edifício América, para o Relojão, que pulsa no alto do prédio de 17 andares desde 1958.
Sumiram com as bancas. Assunto para uma próxima. Mas o nosso grande relógio continua lá, firme e forte, ainda servindo para evitar o atraso de muita gente. O problema é que, já faz mais de dez dias, ele está parado, marcando quinze para as nove.
Será que as engrenagens do velho aparelho, que já funcionou mais de 500 mil horas desde que foi instalado, pararam para sempre? Para responder recorremos ao senhor Ueda Tetsuo, 79 anos, responsável pela manutenção do Relojão desde 1972.
"Quebrou uma engrenagem que liga o motor ao ponteiro dos minutos. Nem a fábrica do relógio produz mais esta peça. Tive que retirá-la e mandar para um torneiro mecânico produzir outra igual. Agora depende do dono do relógio autorizar o conserto", explicou.
O dono do relógio ao qual se refere o senhor Ueda é a rede de farmácias Nissei, que ocupa o térreo do edifício e tem a responsabilidade de arcar com os gastos do aparelho. Segundo o gerente da farmácia, João Paulo Pozzobon, o orçamento já foi aprovado e logo os ponteiros voltarão a andar.
Sem dúvidas, o mais ansioso morador de Londrina para ver o Relojão marcando a hora certa novamente é o senhor Ueda. Quando o aparelho está funcionando normalmente, ele costuma dar umas escapadas da sua Relotex, na Rua Sergipe, de onde não consegue visualizar diretamente relógio de 6,50 metros de largura pela mesma medida de altura, para ir até a esquina com a Minas Gerais para verificar se não há atrasos ou adiantamentos.
Ventos mais fortes podem mexer com os ponteiros. Como as engrenagens também já acusam os golpes do tempo, em média os ponteiros atrasam quase um minuto por dia. Não há semana em que o relojoeiro não vá para o alto do América para fazer a correção.
Em uma reportagem feita por Mariana Paschoal e Lucas Peresin, em 2013, então estudantes de Jornalismo da UEL, com o apoio do professor Luciano Pascoal, o senhor Ueda disse o seguinte: "Se não cuidar, atrasa. O relógio atrasa, a cidade atrasa".
Aproveito para encerrar por aqui e convidar a você para assistir ao vídeo produzido pelos meus colegas. Conta mais e melhor da bonita história do senhor Ueda, "o homem do tempo", como a Mariana e o Lucas o intitularam.
E logo o Relojão voltará a funcionar. Você poderá conferir olhando para o alto, o que, cá entre nós, é melhor do que olhar para baixo.