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Quarta, depois do meio-dia

03 mar 2014 às 15:50

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Esta é uma crônica de divagações de um sujeito pensativo na segunda carnavalesca. Advirto-te a não seguir adiante.

Trabalhar em hospital, como é o meu caso, sobretudo em dias assim, é bom para aprender. Andando pelos corredores, conversando com pacientes e acompanhantes, concluo que só há duas coisas que são problemas de verdade: doença grave e a morte.

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Você já parou para pensar que para todas as outras coisas há soluções se você for um sujeito decente? O carro amassado é só mandar para o funileiro. O limite estourado no banco é possível renegociar, parcelar. Para a unha encravada, podólogo. Até para doença grave há remédios, da ciência e da fé.

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Voltando aos corredores do hospital, vejo gente guerreira, amiga, cheia de esperança. Gente que ora e espera por melhora. Gente que não desiste, que acompanha alguém e que nem se lembra que é Carnaval. Outros se lembram, cantam um pedaço de uma marchinha, assobiam, sorriem. Música e sorriso, dois santos remédios. Agem diretamente no coração. Sem contraindicações.

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Hospital só tem porta por mera formalidade. Ela está sempre aberta, em qualquer dia, a qualquer hora. É comovente ver o pessoal da enfermagem, da fisioterapia, da nutrição, da farmácia, da psicologia, da limpeza, da medicina fazendo os cuidados como em qualquer outro dia. Para eles, não existe quarta, depois do meio-dia. A hora é agora.


Só então percebo o quanto somos idiotas a perder tempo com picuinhas, diz que disse, discussões no trânsito, falta de humildade para soltar um "desculpa aí". Ah, se eu pudesse hoje dar um abraço em cada uma das pessoas que já magoei. E muitas eu nem sei que magoei. A elas gostaria de dizer que não fiz nada por mal.

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A verdade, bravo leitor, é que não nos lembramos do óbvio. Esta vida é bonita, como escreveu e cantou Gonzaguinha. E o melhor dia de toda a nossa existência é hoje! Sim, são clichês. Mas não é verdade? A verdade é simples, não costuma fazer rodeios ou se revestir de formalidades.


Não espere o amanhã, tampouco aguarde a quarta-feira de Cinzas. Cante, dance, distribua abraços, sorrisos e afagos. Não precisa ser na avenida, pode ser na sua casa mesmo. Não te preocupes à toa. Há soluções para as intempéries da vida. Cedo ou tarde elas aparecem. As intempéries e as soluções.


Se você chegou até aqui, agradeço pela companhia. Não me sinto culpado de tê-lo feito ler um texto de divagações. Eu adverti lá no começo para que não seguisse adiante.

No mais, viva!


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