Havia muito tempo que eu não noticiava uma morte. Desde que deixei a Folha de Londrina, lá se vão quase quatro anos, tenho feito mais matérias – como freelancer - que chamamos de "frias" no jargão jornalístico. Trocando em miúdos, são reportagens que podem ser publicadas hoje, amanhã ou depois de amanhã e não perderão o "prazo de validade". Já o factual, como é o caso de um acidente, de uma morte ou novos fatos de uma operação da Polícia Federal, deve ser publicado o mais rapidamente possível.
O curioso é que um repórter deixa uma redação, mas parece que a redação nunca abandona o repórter. Às vezes, mesmo escrevendo um simples texto despretensioso como este para ser publicado no blog, sinto que estou estourando o horário de fechamento e que levarei bronca do editor por escrever demais.
Além disso, aquela máxima de que jornalista é jornalista 24 horas por dia, parece uma praga a não me abandonar. Foi isso que aconteceu na noite do último sábado, 10, quando uma amiga me avisou da morte do neurocirurgião Luiz Henrique Garcia Lopes.
Procurei nos sites locais algo a respeito. Não encontrei. Descobri que ninguém ainda noticiara porque o fato ocorrera em Piracicaba, no interior de São Paulo. Quando dei por mim, já estava com o telefone na orelha tentando falar com as polícias de lá, Militar e Civil, Bombeiros, Samu, IML, assessoria da EsalQ, onde o médico caiu com seu paraquedas.
Outro ditadinho jornalístico, atribuído originalmente ao americano Herbert Matthews, diz que "jornalista tem que ter paciência, persistência e sorte". Eu não tive muita sorte. Consegui apenas vagas informações da PM e do Samu. Às 21h30 de um sábado, era de se esperar.
Foi o suficiente para digitar um breve texto, que complementei com algumas informações do pessoal do G1 que cobre Piracicaba e região, dando os devidos créditos, é lógico.
Depois fui dormir, com uma sensação de tristeza por noticiar uma morte e me sentindo culpado por publicar algo tão pouco apurado. Ainda não aprendi a lidar com a velocidade da Internet.
Além disso, procurei ser frio no texto para não deixar transparecer a minha proximidade com a vítima. Como assessor de imprensa do Hospital do Coração, conversei muito pelos corredores com o doutor Luiz Henrique. Bom papo, alto astral, apaixonado pelo paraquedismo. Um cara que os colegas recomendavam pela técnica cirúrgica muito apurada.
No domingo, sites e portais de Londrina, inclusive o Bonde, trouxeram a notícia com mais detalhes. Hoje, jornais, telejornais e radiojornais complementaram ainda mais com depoimentos de familiares colhidos no velório. No fim, os colegas aliviaram a minha culpa de informar pouco.
Escrevi tanto, no fundo, para dizer que um jornalista não se sente feliz quando tem que dar uma notícia de morte. Fazia tempo que eu não sentia na pele esta sensação do ofício. O acidente com o neurocirurgião foi o primeiro post de 2015 no meu blog e o que teve mais audiência em toda a história do mesmo, em torno de 10 mil visualizações. Dificilmente será superado. Espero que os próximos sejam de menos cliques e melhores notícias.
Em tempo, que tenhamos um feliz 2015.