Nove meses depois de ter sua pintura classificada como propaganda de um estacionamento particular, o artista londrinense Tadeu Roberto de Lima Jr., mais conhecido como Carão, vê outra obra de sua autoria envolvida em nova polêmica.
Na semana passada, um grafite em um dos muros do Bosque Central de Londrina foi apagado pela Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU). Uma negra, com olhar triste e olho roxo, estampava a parede da avenida Rio de Janeiro. Ao lado esquerdo, uma mensagem pedia: "Não à Violência contra a Mulher". O artista se assustou, na última sexta-feira (26), ao se deparar com o local repintado.
"Eu estava indo para o estúdio quando me deparei com aquilo. Fiquei muito chateado, acho uma total falta de respeito. Fiz um desenho de combate à violência contra as mulheres e eles preferem um cinza do que o meu trabalho", disse o grafiteiro, em entrevista ao Portal Bonde.
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A obra, segundo ele, foi feita com material próprio em 2011. "Não reclamo pelo dinheiro, mas pela desvalorização. Não dá para grafitar em Londrina por causa disso. Não culpo o prefeito, nem a secretária de Cultura, mas a CMTU não sabe diferenciar arte de poluição visual", protestou.
A CMTU, por meio da assessoria de imprensa, informou que a pintura dos muros faz parte do processo de revitalização e padronização do bosque bem como de outros espaços públicos. A companhia ainda garantiu que a cobertura não foi uma forma de repressão e agressão ao artista e sua arte, e enfatizou que o serviço já estava programada há alguns meses. Afirmou também que o grafite estava desgastado porque era antigo. Carão, por sua vez, disse que a obra não estava deteriorada. "Todo mundo sabia que aquele trabalho era meu, levava minha assinatura e tinha os meus traços".
Ainda conforme o órgão municipal, o artista está convidado a elaborar um protocolo para grafitar em local público de sua escolha, cujo pedido será analisado por uma comissão interna. As regras seguem o decreto assinado pelo prefeito Alexandre Kireeff em agosto deste ano, cujo texto regulamenta as produções artísticas enquadradas na lei Cidade Limpa.
A partir de agora, quem quiser grafitar em edificações públicas precisa fazer uma solicitação junto à CMTU, com descrição de local, dia e motivos. A arte não pode conter elementos promocionais ou publicitários alusivos a comércios circundados.
As regras surgiram após a polêmica envolvendo o grafite do piloto brasileiro Ayrton Senna, também feito por Carão em um estacionamento na rua Goiás. À época, o estabelecimento foi notificado por propaganda irregular.