Em fevereiro de 2016, fotos de homens e mulheres nus no campus da UEL (Universidade Estadual de Londrina) "viralizaram" na internet. Três anos depois, as imagens voltaram a circular nas redes sociais na última semana em meio às postagens de usuários que apoiam o corte de recursos na Educação, anunciado pelo governo federal. Do outro lado, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, também foi criticado nas redes sociais por chamar algumas ações em universidades de "balbúrdia". Assim, a apresentação da UEL voltou ao centro da polêmica.
O Bonde apurou que as fotos são de uma perfomance promovida pelo professor do Departamento de Música e Teatro da UEL, Aguinaldo Moreira de Souza, para seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do curso de Filosofia. Os "peladões" eram atores que se voluntariaram em uma convocação aberta pelo professor no Facebook.
Em entrevista ao Bonde, Moreira, que tem mestrado em Artes Corporais pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e mestrado e doutorado em Letras pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), lembrou que decidiu fazer mais uma graduação para aprofundar seus conhecimentos em filosofia, ética e política.
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De acordo com ele, a monografia, intitulada "Compreender e imaginar: texto e cena mediados por um estudo estético-político", aborda a atuação dos performers como ações políticas, traçando paralelos com o estudo de Hannah Arendt, filósofa política alemã, sobre o Holocausto judeu.
Moreira afirma que a apresentação foi resultado de sete anos de pesquisa com viagem à Polônia para visitar museus e campos de concentração e embasar o trabalho.
A performance retratou o sofrimento das vítimas desde o desembarque dos judeus nos campos de concentração até a morte. "Eram três etapas, a chegada nos campos de concentração, quando as vítimas se despiam, a passagem aos campos de extermínio e a morte, quando os corpos eram empilhados", explicou.
A foto que mostra os atores nus jogando futebol em uma aparente cena de descontração foi uma das que mais repercutiram na internet, mas, segundo o professor, ela foi recortada e descontextualizada. "Antes de irem aos campos de extermínio, algumas vítimas jogavam bola para distrair. Era uma tentativa de reumanização", justificou o professor.
"Mas, as fotos foram cortadas e não mostravam os outros atores, que estavam deitados como corpos no meio do jogo do futebol. Então, algumas pessoas tomaram conclusões precipitadas", rebateu.
Moreira lamenta que, por falta de informações na época, muitos viram as fotos "fora do contexto" e não entenderam a "tragicidade" da apresentação, que ficou claro para quem a observou ao vivo. "Escolhi a performance por ser uma linguagem moderna, que extrapola alguns limites de outras artes e tem o poder de chocar quem assiste. Quem viu somente as fotografias acabou erotizando as representações de vítimas e cadáveres", afirmou.
Entretanto, se em 2016 houve uma interpretação equivocada, a divulgação dessas fotos três anos depois, de acordo com o professor, é algo planejado para atacar as universidades. "Há algumas semanas fui bloqueado no Facebook porque estavam recuperando essas fotos em meu perfil e descobri esse movimento, que surgiu após o anúncio de cortes na educação pelo Governo Federal", alegou.
Todo a pesquisa de Moreira para esse trabalho virou um livro intitulado "Dor e Silêncio: Performance e Teatro Sobre o Holocausto Nazista", publicado pela Appris Editora em fevereiro deste ano.
O professor lamenta a escalada do patrulhamento em redes sociais e o cerceamento à liberdade nos dias atuais. "Se fizesse a performance hoje, acho que seria preso, mas faria do mesmo jeito. A arte tem que questionar e propor reflexões", argumentou.
*Sob supervisão do editor on-line, Rafael Fantin