Sabe aquele descaso com o dinheiro público? Então, ele pode ser visto na Rua Mercúrio, 1, no Jardim do Sol, zona oeste de Londrina. É lá que funciona a estrutura da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Maria Angélica Castoldo. Inaugurada há menos de três anos, ela aparenta ter décadas de uso e de falta de manutenção. A obra, que custou cerca de R$ 4 milhões, foi iniciada em julho de 2013 e teria prazo de entrega em junho de 2014, porém diversas interferências adiaram esse prazo e a UPA foi inaugurada em setembro de 2015. Ela precisou de reparos antes mesmo da entrega, quando surgiram as primeiras rachaduras e sofreu alguns danos após as fortes chuvas de janeiro de 2016.
Uma equipe da Compdec (Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil), o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, e o vereador Vilson Bittencourt (PSB) foram até à UPA na segunda-feira (7) para realizar uma vistoria nas estruturas do prédio. O engenheiro civil Heleno Solano Rabello, da Compdec, disse que apesar da estrutura estar bem abalada, não é o caso por enquanto, de interdição. "Existem vários problemas. A gente vê que a estrutura está abalada. Mas a princípio não apresenta risco iminente. Pode ser uma falha na execução e havido algum erro no processo de fundação", disse. "A enfermaria está mais problemática. Houve um rebaixamento do piso, várias trincas. A parte do fundo da UPA foi a mais afetada", apontou. Um laudo estrutural, com detalhes da vistoria deverá ser feito pelo engenheiro e encaminhado para a Secretaria Municipal de Saúde.
Já Bittencourt mostrou-se indignado com a situação do local. "O que a gente quer ter é a certeza de que essa estrutura ainda tenha condições de receber os pacientes aqui dentro", disse. "Uma obra nova e está nessas condições... É inadmissível uma situação dessas. A gente acredita que isso possa acontecer, mas com 20, 30 anos de prédio e não com três", esbravejou.
Leia mais:
APP-Sindicato questiona equidade no programa Parceiro da Escola em Londrina
Prefeito de Londrina entrega título de Cidadão Honorário a Oswaldo Militão
Sarau une poesia e crônica para celebrar os 90 de Londrina nesta sexta
Anne Moraes presta depoimento após Polícia Ambiental encontrar ossadas de animais na ADA
Felippe Machado afirmou que os problemas serão reparados. "Solicitamos uma autorização na Procuradoria Jurídica do município, que nos autorizou a fazer os reparos. Vamos licitar um laudo estrutural para termos o real dimensionamento das intervenções necessárias, mas se ficar comprovado que houve falha na execução da obra, a construtora é responsável", ressaltou.
O que diz a construtora
A Meridiano Obras Ltda, responsável pela construção, aponta que as rachaduras existentes na UPA "foram causadas pelo entupimento de uma galeria pluvial", e declara que buscou realizar o desvio ainda na fase de escavação do terreno, em outubro de 2013, e que a equipe de fiscalização da Prefeitura na época não teria autorizado o serviço de realocação dos blocos, fazendo apenas a "substituição das estacas sobre a galeria por tubulões".
No dia 7 de fevereiro de 2015, a obra foi entregue de forma provisória, sendo que no dia 20 do mesmo mês foi assinado um termo de recebimento da mesma. A cláusula oitava do contrato entre a Prefeitura e a Meridiano previa que após a entrega do termo provisório, uma comissão deveria ser criada para vistoriar a obra e que se tudo estivesse nos conformes, o termo definitivo seria emitido.
A Meridiano enviou à reportagem um documento informando que a comissão não foi criada e nem a obra vistoriada. "Caso a Administração tivesse obedecido às normas que instituiu", os problemas estruturais poderiam "ter sido verificados e sanados para o fim de se emitir termo definitivo".
"Acredito que o termo não tenha sido assinado e nem criada a comissão. Pode estar faltando alguma documentação para isso", disse Fabio Simões Prado, engenheiro fiscal da obra na última gestão. "Quando você finaliza a obra, certas irregularidades só vão aparecer depois do prédio entrar em funcionamento", completou, justificando que a estrutura da UPA não mudaria antes da inauguração, não tendo efeito uma suposta vistoria.
A construtora declara que passado mais de um ano da entrega provisória, a Secretaria de Obras comunicou "a existência de irregularidades". Sobre o entupimento, Prado comentou que a galeria ligada à enfermaria, na época da elaboração do projeto, não estava cadastrada no sistema porque estaria desativada. "A galeria da parte da frente, recebia fluxo pluvial de outra rua. Ligaram na galeria do fundo e que estava desativada, o que pode ter ocorrido a obstrução".
Em março de 2016, foi solicitado à construtora que fizesse o reparo interno e externo da UPA. "Eles realizaram apenas os reparos externos", disse o engenheiro diretor de Edificações Públicas, José Eduardo Soncin. Deste fato, foi colocado um processo administrativo contra à Meridiano. Além disso, a empresa pede o pagamento de valores de aditivos e reajustes no contrato, devido às prorrogações no prazo de entrega.