Londrinenses muito pobres tomaram nesta segunda-feira alguns dos chamados templos de consumo da cidade, efeito do primeiro repasse de cupons do Fome Zero, programa-âncora da política social do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nos oito supermercados credenciados na zona norte B, a visão era incomum para uma tarde de final de mês: mulheres humildes por todos os lados carregando crianças. ''Antes as crianças não vinham porque a mãe fazia uma compra pequena, tinha pouco dinheiro, sabia que ia ter uma choradeira quando dissesse um não'', lembra Ednaldo Streling, 33 anos, sócio-proprietário do Supermercado Matinal, no Conjunto Farid Libos (zona norte).
Dos oito pontos, o Matinal era um dos mais movimentados. De acordo com Streling, até o meio da tarde, já haviam sido atendidos 130 portadores de cupons. No momento em que o comerciante estimava a frequência dos ''novos consumidores'', o movimento continuava aumentando. Havia filas nos caixas e acúmulo de volumes para a entrega de caminhão.
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''Normalmente, o movimento é fraco neste período de entressafra de salário. Agora sabemos que será o dia de maior movimento no mês'', comemorava o comerciante, que dava até brinde, como pote de maionese, para a freguesia. ''O mais importante é a dignidade que eles ganham ao entrar no mercado de consumo''.
A análise de Streling ganhava força quando se via a fisionomia dos frequentadores. A maioria não gastava R$ 50,00 em um supermercado havia muito tempo. ''Tem muita gente que eu nunca vi aqui''.
Era o caso da aposentada Isabela Ribeiro, 66 anos, que ajudava sua neta Priscila Tatiane Ribeiro, 18, e o bisneto Leonardo, de oito meses, a percorrer as gôndolas, atividade quase desconhecida para a doméstica desempregada. Priscila mora com a mãe.
Com os R$ 50,00, eles levaram até ''mistura'' para casa. Passaram no caixa: cinco quilos de arroz, cinco quilos de açúcar, um quilo e meio de macarrão, três quilos de feijão, três latas de óleo, um quilo de café, um quilo de salsichão, um quilo de carne moída, alho, farofa pronta, extrato de tomate, pimenta do reino, chá mate, lã de aço e farinha de mandioca.
Dona Isabela e sua neta, com pesar, tiveram que retirar dois ítens da compra, que excedeu os R$ 50,00: biscoito e arroz. ''No próximo mês, estamos pensando em distribuir calculadoras para evitar este tipo de constrangimento'', prometeu o comerciante.
''Ah! É bem melhor que cesta básica porque a gente pode escolher'', confirmava a desempregada Silvana Constantino Barbosa, 28, moradora do Conjunto Novo Amparo. Diarista sem renda fixa há três anos, Silvana já tinha programa para o resto da tarde. ''Vou encher a geladeira. Faz tempo que ela está vazia''. Os filhos Lucas, 5, e Vitória, 3, nem esperaram chegar em casa para saborear a bolacha.
Regina Ferreira dos Santos, também de 28 anos, comemorava outra vantagem em relação à cesta básica. ''O mercado é pertinho de casa. Para pegar a cesta, andava meia hora.'' Ela tem cinco filhos, entre 12 e dois anos, e comemorava o fato de poder levar frango e fraldas descartáveis.
Já Elizabete Araújo, outra doméstica desempregada de 28 anos, não se furtou em comprar ''coisas diferentes''. A sobrinha Stefani, 2 anos, ganhou um pacote de biscoitos. Os adultos também vão poder desfrutar de leite condensado e guloseimas de padaria. A compra não vai matar a fome por muito tempo, eles sabem. No barraco do Novo Amparo, a geladeira deve esvaziar logo. Afinal, são 10 para se alimentar.