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Comentário machista de aluno de medicina da UEL causa revolta na internet

Luís F. Wiltemburg e Isabela Fleischmann - Redação Bonde
01 set 2017 às 14:22

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- Reprodução/Facebook
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Uma postagem em uma comunidade de jogos esportivos dos cursos de medicina do Paraná, o Intermed, que será realizado em Toledo neste ano, levantou a fúria das mulheres e dos homens contrários à desigualdade de gênero, na noite de quinta-feira (31). Após a publicação, o aluno de medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Gustavo Wolff Cardoso foi proibido de participar do evento e deve responder a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na instituição de ensino.

A postagem de Wolff foi publicada na página do Intermed Paraná no Facebook, que tem acesso restrito e apenas pessoas autorizadas podem participar. No texto, com palavras de baixo calão, ele chama as mulheres da Universidade Federal do Paraná (UFPR) de "vagabundas" e pede que estejam limpas para que pudesse praticar ato sexual anal com elas. "As que tiverem [sic.] com corrimento, igual ano passado, sugiro que comecem a tratar ESTA noite", afirma no texto.

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Em entrevista ao Portal Bonde, o universitário disse que errou, que está arrependido e que espera que o teor dos hinos das atléticas dos cursos sejam revistos, de modo que não subjuguem mais as mulheres ou outras minorias. O comentário que ele publicou seria o trecho de um desses hinos.

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O caso aconteceu na mesma semana em que um homem foi detido por "eventual crime de estupro", após ejacular no pescoço de uma mulher em um ônibus de São Paulo. Esse homem foi solto pouco tempo depois, com a conivência do Ministério Público (MP) e do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo. O juiz que autorizou a liberdade dele, José Eugênio do Amaral Souza Neto, considerou que o ato não configuraria estupro, mas "importunação ofensiva ao pudor".

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Reação na internet


A reação na internet foi imediata à postagem do estudante da UEL. O coletivo feminino Maria Falce de Macedo, do curso de medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), reproduziu a publicação, cobrando um posicionamento do Intermed Paraná em relação "à fala machista e violenta" de Wolff e aos que curtiram a publicação.

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"Não aceitaremos, em uma sociedade cuja imagem da mulher é rebaixada em todos os níveis, mais uma atitude que nos subjugue e nos VIOLENTE e que perpetue a cultura de estupro", escreve o coletivo, exigindo que o estudante fosse expulso do evento – o que acabou ocorrendo na manhã desta sexta-feira (1º). A publicação viralizou na internet, angariando reações contrárias ao estudante.


Expulso

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Na manhã desta sexta-feira (1º), a organização do Intermed decidiu, de forma unânime, pelo cancelamento da inscrição do acadêmico e, em nota pública, disse que repudia as atitudes dele.


A Atlética Medicina Londrina também emitiu nota pública em que afirma: "em nenhuma hipótese aceitamos, concordamos, apoiamos e incitamos QUAISQUER manifestações de ódio, violência sexual, misoginia, homofobia, racismo ou outro tipo de preconceito".

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O coletivo da UEL também diz que trabalha para desconstruir pensamentos de antigamente. "Lutamos por um Intermed construído por competição, rivalidade e interesse em lutar carregando nosso brasão e nossa Gloriosa Medicina UEL". A Atlética diz que a atitude do estudante não representa o próprio coletivo.


A coordenadora do colegiado de Medicina da UEL, Ligia Marcia Mario Martin, pediu na manhã desta sexta que a Atlética deixe de participar do evento. Além disso, advertiu Wolff e solicitou que ele publicasse um texto de "mea culpa" no Facebook. A publicação, no entanto, sofreu rejeição e acabou apagada. Ela ainda disse que solicitou a abertura de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra o aluno, mas não soube dizer a quais penalidades pode estar sujeito ao fim da apuração.

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Lígia afirmou que o colegiado tem ações internas para coibir ações que subjuguem mulheres ou outras minorias. "O Colegiado de Medicina abomina esse tipo de pensamento e trabalha diariamente para combater esse 'currículo oculto' que existe nas universidades, composto por essas pautas que permeiam a sociedade."



'Não é o que acredito'

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Ao Bonde, Wolff disse que é "totalmente" avesso à violência e à cultura do estupro, mas que, no contexto dos jogos, os estudantes "cantam essas músicas repetidas há décadas e não pensam que é um assédio". "Mas percebo que o que eu fiz é ridículo. O conteúdo é bem claro e não é justificável eu ter escrito aquilo." Ele ressaltou ser contra a violência à mulher e amigo de militantes de movimentos feministas. "Mas continuo [continuei] cantando essas músicas. Esse comportamento é ridículo."


Por outro lado, ele disse entender que as únicas informações que o público tem sobre ele são sua foto, seu nome e o texto que escreveu, o que justifica os revides que enfrentou na internet. "Sou eu que tenho de provar que não sou assim."


Ele ainda disse achar que, como consequência, deve haver uma mudança nos hinos desses eventos. "Isso [letras agressivas às mulheres] vai acabar comigo."


A pedido da coordenadora do colegiado de Medicina, Ligia Marcia Mario Martin, Wolff publicou um texto em que admite a culpa, pede desculpas por seu ato e afirma não acreditar nas ideias que publicou. Entretanto, a publicação foi apagada horas depois, junto com o bloqueio do perfil no site de relacionamentos, após receber vários comentários hostis, alguns deles com a reprodução de uma conversa no aplicativo Whatsapp em que o universitário ironiza a repercussão de suas ações.


Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook


Após o pedido de desculpas, o coletivo da UFPR emitiu nova manifestação na qual diz não crer no "mea culpa". "Nós gostaríamos de acreditar que o pedido de desculpas foi sincero, mas não, não acreditamos, e estávamos certas, uma vez que já recebemos informações mostrando que seu comportamento fora do ambiente público permanece o mesmo, seu deboche, e menosprezo pelo movimentos que num texto tão bonito disse apoiar."


Confira, na íntegra, o pedido de desculpas de Gustavo Wolff que foi retirado do Facebook


Ontem à noite, eu publiquei um comentário dentro de um grupo de discussões dos jogos entre as faculdades de medicina do Paraná (INTERMED) que acontecerão na semana que vem. Escrevi no comentário parte de uma das músicas que utilizamos dentro dos jogos. O conteúdo foi publicado dentro do grupo e no contexto das rivalidades que são postadas entre as universidades. A mensagem foi printada e está correndo agora as redes sociais.


Eu fiz a publicação embalado nesse contexto de rivalidade e mesmo dentro desse contexto, eu vejo que isso jamais deveria ser publicado, jamais deveria ser cantado entre as universidades e jamais deverá ser repetido.


A música faz referência às meninas de uma das outras universidades com quem competimos e tem conteúdo explicitamente violento, machista e misógino. A música possui conteúdo que para qualquer mulher que leia, sinta-se ofendida, atacada, desprotegida, violentada e as afete psicosocialmente.


O conteúdo da mensagem não está de acordo com o meu pensamento, nunca esteve. Eu fui embalado pela competitividade dos jogos e me sinto patético por tê-lo feito.


Eu peço desculpas a todas as mulheres, não só aquelas que participarão dos jogos, mas a toda e qualquer mulher que esteja lendo esta mensagem. Peço desculpas aos grupos de apoio e luta que fomentam o movimento todo.


Toda essa violência à mulher por conta de jogos e toda violência implícita e mascarada deve ser rediscutido e o pensamento que gira em torno desses comentários que na minha cabeça era apenas parte das rivalidades do INTERMED que vem acontecendo por todos estes anos, deve acabar.


Meus amigos, familiares, meus docentes, preceptores sabem que eu respeito e valorizo as mulheres, que eu convivo com mulheres que lutam diariamente pelo fim da violência contra a mulher, que lutam pelo fim desta cultura da qual eu acabei fazendo parte ao publicar este post. Aqui em Londrina, na UEL e na medicina UEL este movimento já é antigo e está cada vez mais organizado e mais forte, o pessoal dá o sangue por isso, e o que eu fiz foi lhes dar um tapa na cara. Peço perdão à Londrina, à Universidade Estadual de Londrina e ao curso de medicina da UEL.


Se essa mensagem não tivesse tido a repercussão que teve, muito provável teria mais uma vez continuado batida e eu teria continuado na mesma, passando a diante o que vem sido passado há tanto tempo, mas devido a todas as pessoas e grupos que se indignaram e não se mantiveram em suas posições de confronto, ela não continuou invisível, e agora eu digo, vocês conseguiram e a partir disso que aconteceu vão conseguir ainda mais pelo bem-estar e direito da mulher. O que eu fiz é injustificável. Minha cabeça em relação a isso não é mais a mesma e eu vou responder a todas as consequências advindas do meu ato.


Estou aberto para conversar com vocês sobre o que mais precisarem e mais uma vez, minhas sinceras desculpas.

(Colaborou Danilo Brandão)


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