Um dos cartões postais de Londrina tornou-se casa de indigentes. A Concha Acústica, ponto tradicional e turístico que abriga o Memorial dos Pioneiros, virou abrigo de pelo menos cinco pessoas. "As vezes somos em 15", disse Alexsandro Mendes.
Ele já foi pintor, comerciante e completou o ensino fundamental. Agora, aos 32 anos, mora na rua, sem filhos, nem parentes, nem esposa. A companheira está presa no 4º Distrito Policial. Mendes deixou a cadeia há oito meses, onde cumpriu pena por tráfico de drogas. "Sou dependente químico, sou alcoólatra e uso crack. Uso qualquer tipo de psicotrópico", afirmou sem pudor, mostrando um garrafa d´água com bebida alcoólica.
O indigente contou que chegou ao submundo depois de perder os pais. "Morava com meu pai em Assaí, mas ele morreu. Passei a morar com minha mãe aqui na Vila Nova. Ela morreu em 2003. Daí conheci a rua. Passei a caminhar, frequentar bares e pedir", disse. "Eu bebia bastante e conheci a droga também", explicou.
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Questionado se não tentou arrumar emprego depois de deixar a prisão, Mendes foi taxativo. "Sou discriminado. Quando perguntam se já estive preso, eles logo mandam eu embora", afirmou. "Vivo assim, pedindo moedinha. De vez em quando cuido de carros", falou.
É possível constatar no local fogareiro para fazer e esquentar comida, colchão, travesseiro e lençol usados para pernoitar no local. A sujeira e aglomeração de indigentes, principalmente no período noturno, traz sensação de insegurança a quem passa pelo local.
O Sinal Verde já tentou retirar os indigentes da Concha Acústica, porém o grupo insiste em permanecer. "O Sinal Verde vem para ajudar, mas eles mandam para o Bom Samaritano. Lá são só três dias (de permanência). Daí a gente é obrigado a sair e voltar para cá", comentou Renata Ilária da Silva (32). Banhos são improvisados em torneiras do Bosque Central. "Também lavamos roupas. Lá a gente faz de tudo", disse Mendes.
A Secretária Municipal de Assistência Social, Jaqueline Micali, explicou que o grupo é muito resistente. "Tem grupos que são muito resistentes a qualquer tipo de encaminhamento. Alguns já foram chamados, mas eles não aceitam o encaminhamento proposto. Os mais resistentes são os que fazem uso constante de entorpecentes", disse. "O importante é esclarecer que a secretaria não tem o direito de lei, de retirar (indigentes) do local. Isso é inconstitucional. Se eles se recusam, nós não temos o que fazer", enfatizou.