Foi pensando em desviar os jovens de bairros simples da zona leste de Londrina do caminho das drogas e da criminalidade que o Lar Espírita Irmã Scheilla passou a ofertar gratuitamente cursos de computação e de manutenção e montagem de micros para diversas comunidades.
Há dois meses, a primeira turma se formou e hoje a escola é uma alternativa importante para dezenas de adolescentes que buscam suas primeiras experiências no mercado formal de trabalho.
São jovens que cresceram nos jardins Marabá, Santa Fé, Interlagos, São Rafael, Morumbi e Vila da Fraternidade. Acostumados a verem seus bairros mais nas páginas policiais do que em reportagens positivas abordando o dia-a-dia das pessoas, estes jovens querem mostrar que também podem mostrar seus talentos quando conseguem meios e oportunidades para tanto.
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Mesmo assim, são categóricos em afirmar que não gostariam de viver em outro lugar. ''Gostamos de morar aqui. Crescemos aqui, conhecemos as pessoas e é aqui que estão nossos amigos.'' Eles afirmam, porém, que quando dizem onde moram o preconceito fala mais alto e muitas empresas desistem da contratação.
Kathucia Renata Kerber tem 16 anos e mora no Jardim Santa Fé desde que nasceu. A mãe fabrica e vende bijuterias de porta em porta para garantir a renda que sustenta a família, formada por quatro pessoas. Ela já passou por diversos cursos, até mesmo de mecânica, mas faz alguns meses que não consegue emprego.
Kathucia diz que não teria condições de pagar pelo curso de computação - cerca de R$ 40,00 mensais. Como não tem microcomputador em casa, seu medo é esquecer o que está aprendendo no curso se não conseguir um emprego em pouco tempo e reclama da pouca receptividade demonstrada pelas empresas. ''Não adianta nada a gente fazer o curso e depois não ter a continuidade'', lamenta.
Reclamação semelhante tem a estudante Danielly de Jesus Cordeiro, 16 anos. ''Quando a gente fala que é do Santa Fé, somos excluídos e discriminados'', apontou. A colega de turma, Manuelle Maria Alves dos Santos, 16 anos, tem o sonho de ser jornalista para mudar essa realidade, ''mostrando o lado bom''. Por enquanto, vê nas aulas de computação uma oportunidade rara de crescer profissionalmente. ''Esse é o único meio que a gente tem fazer parte da sociedade'', destaca a jovem.
Para quem já tem noção de computação, o Núcleo oferece o curso de montagem e manutenção de computadores. Érika Maria Martins Miguel, 27 anos, garante que consegue resolver os problemas dos micros. Ela agora quer terminar o ensino médio e prosseguir trabalhando na área de informática.
Morando com a mãe e mais três irmãos, ela afirma que ''não teria condições de pagar um curso particular'', que custa em média R$ 750,00. Daniela Cristina Pastana, 18 anos, faz parte da mesma turma e decidiu se matricular no curso ''pensando no futuro'', já que faltam profissionais dessa área no mercado. ''Nunca é demais aprender as coisas'', resume.