O vereador Filipe Barros (PRB) postou um vídeo nas redes sociais em que aparece xingando de vagabundos grupos de manifestantes que participaram da greve contra as reformas trabalhista e previdenciária promovidas pelo governo Michel Temer (PMDB), na sexta-feira (28). Logo no início da manhã, Barros percorreu as ruas do centro da cidade em seu carro, sendo filmado por um assessor, que também ajudou nos xingamentos. Ainda havia pouca gente concentrada para o início da passeata. As imagens são compartilhadas por aplicativos de smartphones, como o Whatsapp, e provocam indignação de quem aderiu à manifestação.
No começo do vídeo, o vereador conta que viu apenas "meia dúzia de gatos pingados" de manifestantes numa barraca da Avenida Higienópolis. Diz que o movimento estava "fraquíssimo" e que "todo mundo tem de trabalhar, são uma cambada de vagabundos". Barros também afirma que havia passado em frente a colégios e também não teria encontrado manifestações.
Mais adiante na gravação, ao avistar um grupo pequeno de pessoas concentradas na Avenida Leste Oeste, ele anuncia: "Tem uns 50 grevistas aqui, vamos fazer um bullying." Com o vidro aberto e sem parar o veículo, ele grita: "Vão trabalhar, vão trabalhar seus vagabundos". O assessor, que não aparece nas imagens, também grita: "Lula na cadeia". Ambos dão risadas. "O negócio é bullying, bullying em grevista", afirma Barros.
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Em seguida, ao passarem por outro grupo, o vereador pergunta se as pessoas não têm vergonha na cara. O assessor grita: "Vamos trabalhar p****", soltando um palavrão. Barros ainda disse que, se a manifestação fosse feita em frente à sua loja, desceria o "porrete em todo mundo".
Neste domingo (30), a FOLHA entrevistou o vereador, que estava na Concha Acústica. Ele não vê quebra de decoro pelo fato de passar pelas ruas xingando as pessoas e afirma que se dirigia "apenas aos sindicalistas, que estariam muito revoltados com o fato de que o imposto sindical está para acabar". Esta é uma das propostas que constam da reforma trabalhista em tramitação no Congresso Nacional.
Segundo Barros, os sindicalistas estariam impedindo colegas de trabalhar. "Ninguém se indigna com os trabalhadores que não conseguiram chegar nos seus respectivos trabalhos por conta da greve dos ônibus. Ninguém se indigna com as crianças que não tiveram suas aulas", reclamou.
Questionado se espera sofrer processo por quebra de decoro, ele responde: "Não sei. Não posso dizer". E emenda: "Assim como eu tenho direito de manifestar minha justa indignação, as pessoas têm o direito de recorrer aos meios para isso [processá-lo]", disse. A reportagem perguntou ao vereador se xingamento não é diferente de manifestar opinião e ele repetiu que suas críticas são apenas aos sindicalistas.
À FOLHA, o presidente da Câmara, Mário Takahashi (PV), disse que não poderia comentar o conteúdo do vídeo porque uma "pré-análise" poderia colocá-lo em suspeição caso algum requerimento seja apresentado pedindo a punição de Barros. O presidente da Comissão de Ética, Gerson Araújo (PSDB), afirmou que estava fora da cidade e que só comentará o assunto nesta terça-feira (2), depois de assistir o vídeo.
(Atualizado às 19h02)