Dez caminhões lotados com mais de 2,5 mil produtos diversos, superando R$ 3 milhões em roupas, brinquedos, eletroeletrônicos e, principalmente, CDs e DVDs piratas. Estes foram os principais números registrados pela Operação Capitão Gancho 2, que completa quatro anos nesta terça-feira. No dia 12 de julho de 2007, os camelôs contabilizaram até R$ 30 mil de prejuízos por loja. Por isso, foram às ruas, indignados e protestaram.
A reação violenta, que invadiu as principais ruas do centro da cidade e até o Terminal Central, foi contida pela Polícia Militar. Houve confronto entre policiais e manifestantes. Ninguém foi preso, mas pelo menos três pessoas ficaram feridas.
O conhecido camelódromo, localizado na esquina das ruas Sergipe e Mato Grosso, tinha o aval da administração petista de Nedson Micheleti (PT). O poder público ficou responsável pelo pagamento dos primeiros alugueis da "casa nova" dos camelôs, e a prefeitura também ofereceu ajuda financeira para muitos deles que tiveram todo o material apreendido, por meio da Casa do Empreendedor.
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E hoje, após quatro anos da operação Capitão Gancho e muito trabalho, o presidente da ONG Canaã, Samuel dos Santos, vê com bons olhos a ação realizada pela Polícia Federal. "Depois da apreensão, começamos a mobilizar todos os lojistas e falar sobre a importância da regularização", destacou. A ONG é responsável pela parte administrativa do camelódromo.
A mobilização deu resultado, pelo menos no entendimento de Santos. "Atualmente, 80% de todos os nossos lojistas estão regularizados dentro da Lei do Microempreendedor Individual. Temos CNPJ, recolhemos impostos e estamos conseguindo apagar a imagem criada pela população anos atrás, do camelô vendendo mercadoria contrabandeada pelas ruas da cidade", ressaltou.
E o principal objetivo do camelódromo, atualmente, é a regularização de todos os lojistas. "Já fizemos um ótimo trabalho, mas precisamos de mais lojistas dentro da lei, 100% deles."
Santos ressaltou ainda a importância da ajuda recebida pelo município, mas garantiu que os próprios lojistas são responsáveis pelo aluguel do prédio da rua Sergipe. "São mais de R$ 100 mil pagos por mês ao dono do imóvel, que se tornou parceiro do nosso trabalho."
A regularização também vem de encontro com as melhorias autorizadas ou feitas pelos lojistas no atendimento à população. "Instalamos ar-condicionado e até escadas rolantes no prédio. Acabamos de finalizar uma reforma no mezanino, para atender as normas do Corpo de Bombeiros. O investimento foi alto, de R$ 150 mil, mas necessário para dar mais comodidade ao lojista e, principalmente, aos clientes", garantiu Santos.
Regularização não acabou com o contrabando
Apesar da regularização por parte dos lojistas do Camelódromo Central, os números passados pela Receita Federal mostram que o contrabando de produtos pirateados está longe de acabar em Londrina.
Só no primeiro semestre deste ano, a Receita apreendeu R$ 3.417.248,03 em mercadorias, mais de 57% só em informática e eletroeletrônicos, que dominam as prateleiras das lojas do camelódromo.
Só nestes dois segmentos foram quase R$ 2 milhões de mercadorias apreendidas. O número de autos de apreensão lavrados também chama a atenção: 454 só nos seis primeiros meses de 2011, além de 27 veículos apreendidos e 15 pessoas detidas por contrabando e descaminho. "Isso é um problema nacional, que combatemos o tempo todo. O contrabandista analisa muito qual o perfil do consumidor e vai direcionando os produtos para a clientela. Informática hoje é uma necessidade básica da população", explicou o delegado-chefe da Receita Federal de Londrina, Luiz Fernando da Silva Costa.
Para combater a criminalidade, a Receita vem aprimorando os setores de pesquisa e inteligência. "Vamos a lugares que fornecem mercadorias. A gente também trabalha com muita comunicação entre as delegacias e temos conseguido rasoável sucesso", afirmou.
O delegado-chefe da Receita Federal de Londrina fez um apelo importante: são necessária mudanças na legislação para coibir o contrabando. "O brasileiro não tem educação fiscal. Claro que ninguém gosta de pagar imposto, mas tem que ter consciência que aquilo que que é arrecadado vai voltar na forma de serviços. Outra questão é a reforma tributária, que evitaria ainda mais o contrabando", concluiu.