O número de mulheres vítimas de violência sexual que buscam acompanhamento médico em Londrina é estatisticamente baixo. A constatação é da coordenadora do Programa Rosa Viva, Lianne Hachiya. A enfermeira obstetra da Secretaria Municipal de Saúde diz que é difícil fazer um comparativo, mas pela rotina de trabalho, ela garante que os números reais são bem distintos dos oficiais.
No ano passado, 52 mulheres buscaram apoio do programa, sendo que 25 receberam o tratamento completo, com medicamento, acompanhamento psicológico e de assistente social. Neste ano já são 25. E o número das que estão sendo acompanhadas, mas não se encaixam completamente na descrição do serviço, já é de 19.
"A gente sabe que estatisticamente existem muitas mulheres que são agredidas na cidade. Por isso, temos certeza que não são só esses casos".
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A dificuldade para estabelecer um panorama completo da situação em Londrina se deve ao fato de a Delegacia da Mulher não repassar os dados de vítimas que procuram a delegacia para efetuar uma denúncia. Sem essa ponte, a estatística não fica completa.
Programa
Mantido pela Secretaria Municipal de Saúde, com apoio da Secretaria Municipal da Mulher, o Programa Rosa Viva foi criado em 2001. Desde então, oferece atendimento às mulheres vítimas de violência sexual, contando com assistência médica e de enfermagem, apoio social e psicológico. Durante um período, as vítimas têm acesso aos medicamentos indicados para a contracepção de emergência e profilaxia de DST/Aids.
Paralelo à esse procedimento, para verificar se a mulher contraiu alguma doença por conta da violência, o atendimento envolve ainda orientação e encaminhamento a outros serviços como Centro de Atendimento à Mulher (CAM), Delegacia da Mulher e IML.
O Rosa Viva é um serviço exclusivo à mulheres com idade acima de 12 anos completos. O tratamento completo dura seis meses.
Lianne Hachiya explica que a busca pelo serviço deve ser feita diretamente na Maternidade Municipal Lucila Balallai. A mulher vítima de violência sexual precisa buscar o programa em até 72 horas após o ocorrido. A restrição é porque após esse período o tratamento com medicamentos não surte efeito. Porém, se uma mulher buscar apoio após esse período contará com ajuda psicológica e social. Por isso também há distinção dos casos.
Lá, a mulher é encaminhada ao IML para realização de exames para confirmar a violência sexual e confecção do laudo epidemiológico. A Delegacia da Mulher é avisada do acompanhamento e a vítima é orientada a fazer a denúncia. O programa não pode obrigar, mas a mulher procurando a delegada pode facilitar a busca pelo agressor, ainda mais se for uma pessoa conhecida.
Na avaliação do coordenadora, o programa é totalmente subestimado. Ela enumera alguns fatores para isso. O principal é ainda o preconceito da sociedade.
"O programa é totalmente subestimado. As mulheres ainda tem dificuldade emocional e social para procurar atendimento. A mulher precisa ser tratada como vítima. Se ela sofre uma agressão física ou sexual, ela, antes de tudo, é vítima. Assim, a sociedade precisa entender que ela precisa de ajuda".
A coordenadora do Rosa Viva ressalta que superando essa mentalidade as mulheres vão se sentir encorajadas a buscar apoio.
"Em muitos casos a ameça está dentro da própria casa e o estupro é cometido pelo próprio marido, repetidas vezes. Então, com essa mudança de visão, a mulher se sente encorajada a buscar ajuda, ela se sente amparada".
Do outro lado, falta orientação
Outro problema apontado por ela está na própria rede pública de saúde. Segundo Hachyia, em muitos casos que chegam às Unidades Básicas de Saúde do município, as mulheres não recebem a devida orientação desse serviço que elas tem direito.
"Nem parece que trabalhamos na mesma prefeitura. Ainda existem profissionais que não são engajados, que não perguntam o que aconteceu e não fazem o encaminhamento. É mais fácil esconder do que passar adiante".
Outra barreira está na rede privada. Lianne Hachyia revela que vários casos de violência são acobertados, muitas vezes porque são pessoas com maior poder aquisitivo. "São pessoas que apesar da violência não querem se expor".
Apesar da baixa procura, a coordenadora do Programa Rosa Viva acredita que a criação da Lei Maria da Penha e outras ações de proteção tem contribuído para que mais mulheres busquem ajuda. Isso deve servir para que a cada dia mais mulheres vítimas de violência sexual busquem acompanhamento.