Aparentemente inofensivas, ''as pulseirinhas do sexo'', acessório que virou mania entre crianças e adolescentes, fizeram sua primeira vítima grave em Londrina. Uma adolescente de 13 anos foi violentada por quatro rapazes na semana passada depois de sair da escola. De acordo com os policiais da Delegacia do Adolescente, onde está sendo investigado o caso, as pulseirinhas foram a causa da agressão à menina. Em seu depoimento, ela relatou que teria conhecido o grupo de rapazes no Terminal Urbano de transporte coletivo, os quais teriam arrebentado as pulseiras e depois obrigado-a a manter relações sexuais. Algumas escolas já estão proibindo o acessório e especialista alerta para a gravidade da situação.
''Até o momento, conseguimos ouvir apenas um dos meninos. Ele relatou que as relações teriam acontecido na casa dele, com o consentimento da menina. Mas confirmou que tudo começou por causa das pulseiras que ela utilizava. Já a garota relatou que aconteceu um estupro. O mais importante é fazer um alerta aos pais e à sociedade quanto ao perigo que pode significar essas pulseiras'', comentou o delegado-adjunto da 10 Subdivisão Policial e ex-titular da Delegacia do Adolescente, Willian Douglas Soares.
O atual titular dessa delegacia, Júlio César de Souza, que assumiu o serviço na última semana, disse que ainda precisa ''analisar o caso'', pois teria levado alguns dias para se interar sobre a nova função. ''Talvez façamos até uma acareação. Também estamos em diligências para ouvir outros garotos que estariam envolvidos, mas ainda não posso precisar quantos'', explicou Souza.
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Pulseiras
As pulseiras começaram a ser usadas pelos jovens na Inglaterra e ganharam destaque mundo afora. No Brasil, muitos usam como acessório da moda, mas o que outros tantos desconhecem que é que para cada cor de pulseira existe um significado.
Numa espécie de jogo, aquele que tem a pulseira arrebentada por outro, tem que realizar o que a cor determina. Os ''castigos'' vão de um simples abraço a um beijo na boca. Os mais ousados, vão de dança sensual, sexo oral e sexo propriamente dito. Há ainda a pulseira dourada, que vale tudo, ou seja, a pessoa tem que realizar tudo o que todas as cores significam. (Colaboraram Silvana Leão e Wilhan Santin)
O significado de algumas das cores
- Amarela: abraço
- Rosa: mostrar o peito
- Laranja: ''dentadinha de amor''
- Roxa: beijo com a língua
- Vermelha: dança erótica
- Verde: sexo oral a ser praticado pelo rapaz
- Branca: a menina escolhe o que quer
- Azul: sexo oral a ser praticado pela menina
- Preta: sexo com quem arrebentar a pulseira
- Dourada: todos os itens acima
Escolas impedem uso do adorno
Na Escola Municipal Nina Gardemann, localizada no Jardim Tóquio (Zona Oeste de Londrina), alunas de 2, 3 e 4 séries (de 8 a 10 anos) começaram a usar as pulseiras coloridas há cerca de 15 dias. Foi o suficiente para a direção se reunir imediatamente com os pais e tomar a providência de recolher os adornos. ''Alguns pais já tinham ouvido falar do significado das pulseiras, outros ficaram bem assustados'', contou a supervisora pedagógica da escola, Patrícia Luz Pereira de Mello, que logo depois ouviu, na própria escola, alunos comentando o caso da adolescente violentada na semana passada.
O mesmo foi feito em outras escolas públicas e particulares. No Colégio Estadual Nossa Senhora de Lurdes, localizado no Jardim Brasília (Zona Leste), assim que os primeiros alunos apareceram com o adorno no colégio, foram orientados a não mais usar. Segundo a diretora, Tânia Cristina Firmiano Tudisco, o que mais chamou a atenção foi que algumas alunas sequer sabiam o significado das pulseiras, e compraram por achá-las bonitas.
Um dos maiores colégios particulares de Londrina, o Maxi, também foi radical. ''O uso destas pulseiras está proibido e ponto final'', afirmou o diretor geral da instituição, Virgílio Tomasetti Jr. ''Sabemos que a maioria das escolas tem preferido ignorar o assunto, esperando que o modismo passe. Nós fomos por outro caminho'', completou.
Para o professor, um dos perigos do uso do acessório é a vulnerabilidade da criança ou adolescente. ''Os pedófilos de plantão estão de olho em quem as porta. Quando uma jovem ou um jovem usa tal artifício deixa claro que é vulnerável a qualquer tipo de abordagem. Aquilo que aparentemente é apenas rebeldia pode tornar-se chamariz para as mentes doentias desses psicopatas.'' Tomasetti lembrou ainda que os pais devem estar cientes dos riscos que seus filhos correm ao usar os chamados ''sex bracelets''.
A assistente do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Londrina, Marlene de Mello, ao ser informada do significado de cada uma das cores das pulseiras, disse que o órgão deverá orientar os professores a trabalhar o assunto junto aos alunos, alertando para os riscos do seu uso. (Silvana Leão/Equipe Folha)
Uma lista de abusos em Londrina
O caso de estupro de uma garota de 13 anos é a primeira ocorrência grave relacionada às tais pulseiras que chega ao conhecimento das autoridades londrinenses. De acordo com a promotora da Vara da Infância e Juventude, Édina de Paula, esta é uma situação que merece toda a atenção tanto dos pais quanto das escolas, já que as pulseiras são de fácil acesso e valor baixo. A reportagem adquiriu quatro pulseiras ao valor de R$ 1, no Camelódromo, localizado na Área Central de Londrina.
''Não podemos esperar que mais casos como esse aconteçam. Os pais e as escolas não podem permitir que seus filhos façam uso desse acessório. É importante ressaltar, no entanto, que não basta apenas proibir, é necessário que se explique a gravidade às crianças, porque elas não sabem o risco que estão correndo. Depois que acontecer um desastre, não há mais o que fazer'', destacou a promotora, acrescentando que chegou ao seu conhecimento outros quatro casos de abuso na cidade, ''mas não houve denúncia.''
Ainda não há nenhuma ação efetiva a ser realizada, mas a promotora pretende reunir representantes da sociedade, da imprensa e das escolas para discutir a questão. ''Não podemos apenas fazer um alarde sobre o uso das pulseiras, mas conscientizar sobre o perigo que elas oferecem às crianças.''
De acordo com a secretária municipal de Educação, Vera Hilst, existe um trabalho com os educadores da rede sobre educação sexual, mas não especificamente sobre as pulseirinhas. ''Há uma orientação de que os professores fiquem atentos ao comportamento das crianças referente ao uso das pulseiras e, qualquer mudança, comunicar os pais. Mas diante deste caso, creio que será necessário reforçar o alerta'', disse. (Marian Trigueiros/Equipe Folha)
Psicóloga pede ação urgente
A psicóloga do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas 3), Alessandra Rocha Santos Silva, responsável pelo primeiro atendimento e encaminhamento da adolescente agredida e de seus familiares a outros serviços, ressaltou que o assunto merece atenção e ação urgente por parte de pais, educadores, trabalhadores sociais e psicólogos. ''É preciso levar isto a sério porque envolve situações de abuso sexual, de relações de poder, de banalização da sexualidade e das relações afetivas no universo infanto-juvenil, do direito do outro de dizer não'', enumerou.
Para a psicóloga, o problema deve ser colocado em pauta em casa, nas escolas, igrejas e demais comunidades. Ela ressaltou, porém, que as pulseiras não são o problema em si, mas o fato de tornarem-se um instrumento que tem sido usado para expor e estimular a sexualidade indiscriminada. ''Elas devem servir de alerta para que trabalhemos no sentido de tornar os adolescentes indivíduos críticos, que saibam dizer não e que respeitem os direitos do outro.''
Para Alessandra, a imaturidade, no caso da garota violentada, foi justamente um dos problemas que agravaram a situação. ''Embora ela soubesse o significado das pulseiras, não teve maturidade suficiente para evitar aquela situação e acabou vítima da coersão.'' Segundo a psicóloga, o acessório deixa as crianças e jovens bastante expostos, porque nunca se sabe qual interpretação o outro vai fazer do seu uso. E revela uma situação oposta à desejável em termos de desenvolvimento de relação afetiva adequada.
De acordo com Alessandra os primeiros atendimentos da adolescente agredida foram feitos na manhã de terça-feira passada, menos de 24 horas após a agressão. Antes, porém, ela já havia se deparado com a gravidade do uso das pulseiras, ainda maior em determinadas regiões da cidade. ''Na sexta-feira anterior eu havia ouvido o relato de uma garota de nove anos, que usava o acessório, sobre uma outra menina da região onde ela mora, da mesma idade, que tinha tido que pagar com sexo pelo rompimento de uma das pulseiras.'' O assustador, segundo a psicóloga, é que a menina deu a entender que, se o mesmo acontecesse com ela, teria que agir da mesma forma. (Silvana Leão/Equipe Folha)