No sítio Monte Cristo 2, perto do Patrimônio Guairacá (zona sul de Londrina), as luzes da casa da família Martinoti se acendem antes de a madrugada virar dia, conforme os galos começam a cantar alto no terreiro. O relógio marca 5h15 quando Mateus, 15 anos, sai da cama e vai se arrumar para mais um dia de aula. A esta altura, a mãe dele, Márcia Martinoti, já está à beira do fogão passando um café.
O adolescente levanta tão cedo porque às 6h10 tem que estar na estradinha vicinal que passa pelo sítio, de 14 alqueires, onde a família planta soja, milho e trigo. É nesse horário que a Kombi, dirigida pelo motorista Eduardo Bueno Frederico, chega para dar início a mais uma viagem em busca de educação.
Mateus é um dos 4.519 alunos, incluindo as redes do Estado e do Município, que são transportados para escolas e colégios dos distritos rurais de Londrina. Ao todo, são 283 linhas, que percorrem, diariamente, 9.143 quilômetros. Para se ter uma ideia do que isso representa, em linha reta, a distância entre o Arroio Chuí (RS), ponto mais ao sul do Brasil, e o Monte Caburaí (RR), no extremo Norte do País, é de 4.394 quilômetros.
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Mas quando chega o transporte, o estudante não está interessado em atravessar o Brasil. O que ele quer é chegar logo ao Colégio Estadual Professor Altair Aparecido Carneiro, no distrito de Paiquerê, a uns 14 quilômetros dali. No entanto, essa distância se alonga por causa dos desvios necessários para pegar outros alunos em sítios e fazendas da redondeza. E o tempo de viagem se alonga mais ainda por causa das condições ruins de parte das estradas. A Kombi vai sacolejando.
Em dias de chuva, fica impossível transitar em boa parte das estradas e muitos alunos perdem aulas. "Assim que avistamos o primeiro relâmpago ou escutamos o primeiro trovão, levamos o Mateus para dormir na casa da avó materna dele, em Guairacá. Partindo de lá, a estrada é melhor e aumentam as chances de ele chegar à escola", explica Edson Martinoti, pai do Mateus. "Tem hora que a gente pensa até em mudar para a cidade, para facilitar as coisas", complementa o pai.
A viagem do nosso personagem é dividida em duas etapas. A primeira, de Kombi, é feita boa parte por estradas vicinais. A segunda, é de ônibus, quando o motorista Eduardo entrega a meninada que buscou aos cuidados de Jair Caetano. Ele dirige um coletivo, no qual já estão outros estudantes que embarcaram em Guairacá, e vai pela estrada principal.
Mateus e alguns colegas passam de um veículo para o outro em uma localidade conhecida como Gleba 80 Alqueires, perto do Rio Taquara, onde a chuvarada de janeiro de 2016 levou uma ponte. Atualmente a travessia é feita por meio de uma estrutura provisória instalada pelo Exército Brasileiro.
Jair estaciona no pátio do colégio por volta das 7h20. Toda a viagem de Mateus, em dias de tempo bom, dura pouco mais de uma hora. Ele não reclama de ter que acordar cedo e nem do fato de o percurso ser longo. Até se diverte nas conversas com os colegas. Mas acha injusto as estradas serem tão ruins, fazendo até com que muitos percam aulas.
"Todo sacrifício para estudar vale a pena. Mas tudo poderia ser melhor com simples soluções para as estradas de terra. Esse é um problema que eu gostaria de ver resolvido para a minha geração e também para as próximas de crianças e adolescentes da área rural", comenta.
Leia reportagem completa na edição desta quinta-feira da Folha de Londrina