Um terreno de 8 mil m² localizado na Rua Hikoma Udihara, no Jardim Califórnia (zona leste de Londrina), doado recentemente pelo Lions Club para o Centro de Apoio ao Paciente com Câncer (CAPC) foi invadido por 53 famílias neste fim de semana. Os primeiros sem-teto começaram a erguer os barracos na manhã de sábado. Eles reivindicam moradias junto à Companhia de Habitação de Londrina (Cohab).
O presidente da Associação de Moradores do Jardim Nova Conquista, Marcos Luiz dos Santos, assumiu à frente das negociações. Segundo ele, no entanto, ninguém da prefeitura tinha ido ao terreno até a tarde de ontem. "Vamos expor a situação dessas famílias que, em alguns casos, esperam há mais de 20 anos por uma casa e nunca são contemplados", adianta. Ele justifica que as famílias não conseguem pagar aluguel e estão sendo despejadas.
Em um dos primeiros barracos erguidos no terreno, próximo à rua, um pedaço de um outdoor com a fachada de um prédio de alto padrão foi usado como parede. "E eu só quero uma casinha que eu possa pagar", lamenta, apontando a placa, a dona do barraco, a merendeira Edna da Silva Mota, de 46 anos, servidora pública municipal. O contrassenso não para por aí. "Minha filha mais velha era pequena quando dei entrada no pedido da casa. Hoje ela tem 24 anos. Todos esses anos retorno a cada seis meses e sempre renovam o cadastro e não dão sequer previsão", critica.
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Janaína Campos, que fez o barraco apegado ao de Edna, também lamentou a demora da fila da Cohab. "Até desanima de saber que tem gente esperando há tanto tempo. A única saída acaba se tornando a invasão", justifica. Enquanto homens e mulheres trabalhavam, crianças se divertiam alheias ao drama vivido pelos pais. Irani da Silva Macedo, de 38, cuidava da neta de apenas 2 meses enquanto os pais da criança buscavam telhas para cobrir o barraco. "Não é lugar para um bebê tão pequeno, mas o que podemos fazer? Ninguém está aqui porque gosta", comenta.
Por telefone, o presidente da Cohab, José Roberto Hoffmann, informou à FOLHA que as equipes vão analisar o caso na manhã de hoje. "Soubemos da invasão e, à princípio não se trata de um terreno público. Vamos tomar as providências na segunda pela manhã", disse. No ano passado, o mesmo grupo já havia invadido um terreno próximo. "Eles dizem que a invasão não ajuda, mas eu consegui minha casa assim. É uma atitude de desespero", conta a dona de casa Maria Gorete da Silva, de 43, que ajudava parentes na nova invasão. O presidente da Cohab informou que não vai mais negociar com invasores.
Antonio Gilson de Freitas, um dos coordenadores do Lions Clube de Londrina, confirmou que o terreno é o mesmo doado pelo clube de serviço para o CAPC. A associação fundada em 2013, projeta iniciar ainda este ano a construção da sede própria no terreno. O projeto é erguer um prédio de três andares com 10 mil m² para oferecer serviços de psiquiatria, odontologia, ortopedia, nutrição, fisioterapia, terapia ocupacional e farmácia.