O traficante Edson dos Santos Rodrigues, 31 anos, conhecido como Zóza, foi condenado a 22 anos e oito meses de prisão por homicídio e tentativa de homicídio em julgamento que durou dois dias. A sentença foi prolatada agora há pouco, às 3h20, pela juíza Adriana Katsurayama, que presidiu o Tribunal de Júri. Até o final do julgamento, a sala de sessão estava lotada.
Por quatro votos a três, os jurados entenderam que Zóza foi co-autor da morte do menino Dener Washington Matias, 11 anos, que brincava na Rua Leste, no Jardim Leste-Oeste, em julho de 2006, quando foi atingido por uma bala perdida. O tiro foi disparado durante a tentativa de homicídio de Lincoln de Lima Nascimento, 24, que foi ferido nas nádegas e sobreviveu.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, Lincoln era desafeto de Zóza e a tentativa de homicídio ocorreu em decorrência da "guerra do tráfico". Havia, segundo a acusação, uma disputa por pontos de venda de droga entre traficantes do Jardim Leste-Oeste e Nossa Senhora da Paz, a chamada favela da Bratac, na zona oeste.
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Zóza pilotava uma motocicleta e os tiros foram disparados por um homem – não identificado – segundo a denúncia, que estava na garupa.
A sessão do Tribunal do Júri começou às 9 horas de terça-feira, dia 31. Dez testemunhas de defesa e acusação foram ouvidas; uma diligência ao local do crime foi realizada.
As promotoras que atuaram no caso, Suzana Lacerda Feitosa e Márcia Menezes dos Anjos, tiveram trabalho para convencer os jurados, uma vez que a maioria das testemunhas mudou as versões dos depoimentos prestados na fase de inquérito. Elas sustentaram que as provas foram forjadas e as testemunhas estavam coagidas, temendo por suas vidas ao delatarem um líder do bairro.
Uma das primeiras pessoas que acusou Zóza do homicídio e da tentativa foi a tia de Dener, porém, voltou atrás, e disse que seu depoimento foi dado por vingança. A dona de um hotel em Ibiporã garantiu aos jurados que no momento do crime Zóza estava hospedado em seu estabelecimento com seus filhos. Uma nota fiscal – apontada como fria pelo Ministério Público – foi apresentada pela defesa, mas não convenceu os jurados.
Dois adolescentes, hoje maiores, assumiram serem os autores do crime, mas, segundo as promotoras, também foram forçados a fazer tal confissão. Um deles estava tremendo diante dos jurados, relatou a promotora.
Zóza foi defendido por André Salvador e Antonio Amaral. Este último, renomado criminalista de Londrina, foi contratado já em adiantada fase do processo para tentar impedir junto às instâncias superiores da Justiça – no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília – que o Ministério Público utilizasse no julgamento a longa ficha de antecedentes criminais de Zóza. São 23 processos; em alguns foi absolvido; em outros, condenado; e atualmente cumpre pena por um dos crimes.
Zóza permaneceu durante todo o julgamento na sala de sessões, algemado. Seus familiares e moradores do bairro também acompanharam atentamente os dois dias de sessão. Grande quantidade de policiais fez a segurança da sala do Tribunal do Júri. O advogado André Salvador disse que irá recorrer uma vez que, segundo ele, o veredito foi contrário às provas dos autos.