Um grupo de 30 jovens bailarinos teve o privilégio de participar das aulas da coreógrafa e bailarina japonesa Setsuko Yamada, na oficina de Butô realizada durante a semana no 1º Encontro de Novas Dramaturgias do Corpo, no Teatro Guaíra. Considerada um dos grandes expoentes da dança contemporânea, ela está em Curitiba para apresentar seu novo trabalho e para dividir com os alunos o seu imenso conhecimento.
Hoje à noite, no auditório Salvador de Ferrante do Teatro Guaíra, acontecerá a única apresentação em Curitiba do espetáculo "Land Dreams", criado e dirigido por ela.
Ontem, entre aulas e ensaios, Setsuko parou alguns instantes para atender com exclusividade à reportagem da Folha. Ela abordou temas como o confronto entre a dança oriental e ocidental, sua própria formação, o Brasil e o espetáculo "Land Dreams":
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Folha: Como você concilia as tendências orientais e ocidentais em seu trabalho?
Setsuko: No cotidiano, a gente come pratos ocidentais e pratos japoneses. Eu moro em Tóquio e lá nós temos esta mistura da tradição ocidental e oriental no cotidiano. Mesmo o senso de estética, que é cultivado por várias gerações e é algo muito oriental, acaba sendo somado à estética ocidental que recebemos hoje em dia...
F: Na infância você estudou balé clássico, mais tarde foi formada por um dos mais importantes criadores do butô japonês, Akira Kasai. De que forma o clássico influenciou em sua formação mista ocidental/oriental?
S: Acho essencial ter uma base no balé clássico. Na minha vida isto foi muito importante... Quando era criança, eu não queria ser bailarina. Minha vontade era de fazer Artes Cênicas, mas foram meus pais que me levaram para a dança... Meu pai era um ótimo bailarino de dança típica japonesa.
F: Qual é a mensagem de "Land Dreams". O que você pretende transmitir ao público com esta coreografia?
S: Existem várias coisas que me fizeram criar este espetáculo. Nele, eu não falo exatamente sobre o sonho das pessoas. Eu fiquei pensando... será que são só as pessoas que sonham??? Na verdade, eu acho que a Terra, o planeta Terra deve ter em sua memória, há um longo tempo, um sonho próprio. O ser humano apenas expressa este sonho que a Terra possui. Pensando nisto, surgiu o tema "Land Dreams" e eu fiquei imaginando: onde será este lugar?... Não é porque estou agora no Brasil que eu vou dizer isto, mas eu pensei que este lugar poderia ser a América do Sul. E eu nunca imaginei, nem em sonho, que um dia eu pudesse dançar o "Land Dreams" no Brasil. Eu estou me sentindo muito feliz em poder apresentar este trabalho aqui.
F: Há músicas brasileiras na trilha sonora do espetáculo ("Naumu" e "15 Canções de Hai Hai Hai", de Marlui Miranda). Por que você as escolheu?
S: Não foi nada proposital, foi por acaso... Casualmente, eu ouvi a música da Marlui Miranda e pensei: é esta que eu vou usar. E ela ocupa um espaço muito grande no meu trabalho... No início, eu nem sabia que era música brasileira. Eu já apresentei este espetáculo em cidades como Tóquio, São Francisco, Portland... Não fiz este espetáculo pensando no Brasil, mas acho tudo isto uma coincidência muito curiosa.
F: O "Land Dreams" já passou por que cidades brasileiras?
S: Apenas São Paulo o viu. O workshop foi no dia 28/1 e a apresentação do espetáculo no dia 29.
F: Qual é hoje o papel do professor de dança?
S: O que ele deve fazer é ajudar a colocar para fora as possibilidades que um aluno possui. Acho que é isso. E esta ajuda é importantíssima...
F: Alguns elementos trabalhados em sala de aula, como postura ou respiração, também podem ser aplicados pelos alunos na vida cotidiana?
S: Sim, é muito útil no cotidiano também. Para acalmar o corpo... Mas as vezes isto não é tão fácil, nem mesmo para mim. Na dança é muito fácil, mas quando chega na hora de aplicar no cotidiano... Tentar controlar o estado de pânico por exemplo, entrar em harmonia com os seus sentimentos... Todos os exercícios da dança são muito importantes para isto tudo...
F: Como está sendo a convivência com a bailarina brasileira Vera Sala durante o encontro? Como será o debate entre vocês no domingo?
S: Eu fiquei doente ontem (anteontem) e ainda não pude conhecê-la muito bem. Prefiro não falar nada sobre isto por enquanto...
Serviço: O espetáculo "Land Dreams", de Setsuko Yamada, será apresentado hoje, às 21 horas, no auditório Salvador Ferrante do Teatro Guaíra. O preço dos ingressos é R$ 30,00 e R$ 15,00 (para alunos inscritos no 1º Encontro das Novas Dramaturgias do Corpo). O debate entre Setsuko Yamada e Vera Sala será amanhã, das 10 às 12 horas, no auditório Salvador de Ferrante. Maiores informações pelos fones 41-336-3703 e 41-338-5839.