A maior parte das crianças tiradas dos pais por situações de risco ou abandonadas por eles acabam ficando, definitivamente, em orfanatos e outras instituições assistenciais. Uma das entidades de Curitiba, a Associação Cristã de Assistência Social (Acridas), estima que apenas 5% das crianças levadas para lá são adotadas. A instituição mantém, em Curitiba, aproximadamente 330 crianças em 18 "casas-lares", sob os cuidados de pais voluntários. Desse total, apenas oito ainda são bebês.
Abigail Pereira Lopes, voluntária e relações públicas da Acridas, disse que o maior empecilho para a adoção é a demora no processo ou, até mesmo, as restrições impostas pela lei. "Muitas vezes a família acaba desistindo porque quando sai a adoção a criança, que era recém-nascida, já está com dois, três anos."
Ela conta que já passou por uma experiência dessas quando tentou adotar um bebê que foi entregue à instituição. Outras quatro crianças já tinham sido tiradas da mesma mãe (viciada em drogas) e já estão há seis anos na Acridas. A adoção foi negada. Abigail só poderia adotar a criança caso adotasse, também, as demais. De acordo com a lei, os irmãos não podem ser separados.
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Outros cinco irmãos vivem em situação semelhante. Uma delas, com 15 anos, desde os sete anos está sob os cuidados de instituições. Ela e os irmãos, de 16, 12, nove e cinco anos estão na Acridas e dificilmente serão adotados.
Essas e outras questões em torno do abandono e adoção estão sendo discutidas no VI Encontro Nacional das Associações e Grupos de Apoio à Adoção e o I Encontro Brasileiro de Crianças e Adolescentes Institucionalizados, que começou nesta quarta-feira e se estende até sábado. O evento está sendo promovido pelo Projeto Recriar, que reúne pais adotivos que auxiliam pais candidatos à adoção.
A professora da UFPR e psicóloga Lídia Natália Dobriansky Weber é uma das palestrantes do evento. Ela desenvolveu pesquisas com 400 famílias de 17 Estados e 105 cidades brasileiras, traçando o perfil dos pais e filhos adotivos.
O estudo, segundo Lídia, mostrou que "as famílias que adotam crianças no Brasil o fazem para resolver problemas de esterilidade ou infertilidade; não são adequadamente preparadas para este papel pelos Serviços de Adoção; ressentem-se dos preconceitos existentes sobre adoção, mas podem ser tão felizes quanto as famílias com descendentes biológicos."