O perfeito e completo desenvolvimento de uma criança está ligado diretamente, entre outros fatores, à sua capacidade de se socializar, respeitar, perceber, e repartir. Não pode existir melhor forma de desenvolver essas virtudes do que a musicalização. As informações são da compositora, diretora musical, produtora fonográfica e arte-educadora Rosy Greca, que inicia, dia 15, um curso de musicalização, chamado "Turma do Barulhinho", para jovens e crianças, no Sesc da Esquina.
Partindo do próprio corpo, instrumento musical extremamente rico e complexo, a musicalização explora materiais sonoros, que não são exatamente instrumentos musicais, como forma de lidar com a percepção, ritmo e melodia. "O estudo do ritmo se dá através da vivência corporal", afirma a atriz. A respiração e a pulsação têm cadência regular e o caminhar em diferentes velocidades possibilita perceber os elementos rítmicos. Brincando as crianças vão adquirindo noções de afinação e melodia.
Durante o curso de musicalização as crianças trabalham a voz desde cedo. "Com os pequenininhos apenas cantamos. Para os maiores, de dez a 12 anos, passamos conceitos de fisiologia da voz (aparelhos respiratório, ressonador e fonador)", esclarece Rosy.
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Segundo a experiência dela, de vários anos em trabalhos como arte-educadora, o contato com os elementos musicais desenvolve, nas crianças, o exercício da prática do canto, da harmonia e do ritmo. "A harmonia está relacionada à vida intelectual, a melodia à vida afetiva e o ritmo à vida fisiológica." Em diferente fases da infância e adolescência esses três fatores são trabalhados e desenvolvidos de forma a promover suas competências.
Rosy explica que o som tem quatro propriedades: a frequência (altura do som, que se refere à melodia ou às notas musicais), o timbre (qualidade do som ligado à fonte sonora ou instrumento), a intensidade (energia atribuída a um som ou a força de manipulação do instrumento), e a duração (tempo que dura um determinado som).
"Desta forma, o que é inato no ser humano é trabalhado conscientemente durante a musicalização. A intensidade tem a ver com as emoções, a frequência com a dinâmica, a duração com a organização, e assim por diante. Todos esses elementos favorecem o desenvolvimento da criatividade, sensibilidade e criação, na criança e no jovem", enfatiza.
A música ajuda no desenvolvimento pleno do ser humano uma vez que lida com elementos formadores do ser. Por exemplo, uma criança que canta com outras adquire respeito pelo grupo, desenvolve o sentimento de solidariedade e a afetividade, que está ligada à capacidade de aprendizado.
"A informação, quando não encontra um campo propício, não é assimilada. A criança não estabelesse relações se não estiver afetivamente bem resolvida. O jovem plenamente desenvolvido torna-se mais participativo, tem maior facilidade em apresentar suas opiniões, sustentar um ponto de vista, argumentar, perceber diferenças, adquire liberdade de ter opiniões, aprende a ser disciplinado sem ser reprimido, não tem medo de se expor e é extremamente criativo."
Desta forma, a capacidade de escutar é também, e seriamente, elaborada. Ouvir vai muito além da fisiologia do aparelho auditivo. É atribuir um significado ao que é escutado. "Nós ouvimos muitas coisas mas escutamos pouquíssimas. Atualmente, as pessoas não escutam quase nada e quando escutam é quase só lixo. E o pior é que muitos adultos já nem percebem mais que estão consumindo lixo, agindo como lixo, tendo sentimemtos de lixo e passando isso para os filhos ou alunos."
As crianças, os professores e os pais precisam voltar a ter uma posição política com relação ao que estão ouvindo, atualmente. Têm de aprender a selecionar o que é importante e a jogar fora o que não tem sentido. "Mas não há interesse político em reverter esse processo, no entanto, temos uma grande responsabilidade nisso tudo.
Para grande alívio de muitos há um universo imenso de compositores extremamente competentes e que têm CDs de altíssima qualidade voltados às crianças e ao mundo infantil. Grupos como o antigo Rumos, o pessoal do Paulo Tatit, Luiz Tatit e Zé Tatit, da Sandra Peres, em Curitiba há o Hardy Guedes, o Hélio Zinskind, que compôs a trilha sonora do programa Castelo Rá-Tim-Bum, a Bia Bedran e o Arnaldo Antunes, entre outros que se sobressaem no cenário musical com um trabalho amplo e belíssimo.
Mas, avisa Rosy, se formos procurar esses CDs em lojas comuns, provavelmente não vamos encontrá-los. A mídia fonográfica coloca na sombra, ou nas prateleiras mais escondidas, os CDs considerados não lucrativos comercialmente. Em Curitiba, apenas lojas de brinquedos educativos oferecem os CDs para crianças, além dos já citados, também do Toquinho, do Ney Matogrosso, da Elba Ramalho, do Antônio Nóbrega e da própria Rosy Greca, que têm a preocupação de explorar a música genuinamente brasileira em composições para crianças.