A Comissão Especial de Direitos Humanos (CDH) iniciou ontem a expedição de busca dos restos mortais do grupo de desaparecidos políticos durante a ditadura militar que teriam sido enterrados em Nova Aurora (61 quilômetros ao norte de Cascavel). Parte da plantação de trigo, apontada como provável local do sepultamento dos guerrilheiros da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), foi preparada para a escavação que será realizada hoje por uma equipe de antropólogos da Argentina.
Ontem foi realizado o mapeamento da área onde um militar disse ter visto o enterro dos corpos. No local descrito há uma plantação de trigo, à margem da PR-239. À tarde, três homens fizeram a roçagem numa área de 180 metros quadrados do trigal para facilitar a escavação. No período roçado existem dois pontos (um de quase quatro metros e outro de dois metros) que possivelmente seriam as covas, conforme rastreamento feito por um radar em maio.
A escavação será feita por dois especialistas do Estudios de Antropologia Forense, de Buenos Aires (um dos institutos mais conceituados da América do Sul neste tipo de pesquisa), que desembarcaram em Foz do Iguaçu e chegaram a Nova Aurora por volta das 18 horas. O horário impediu o iniçio dos trabalhos. Segundo os antropólogos Dario Olme e Miguel Nielva, a escavação será feita manualmente pois o uso de máquinas poderia destruir as ossadas.
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Durante o dia, o deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), representante da Câmara de Deputados na Comissão Especial - criada para, entre outras atribuições, investigar o destino dos desaparecidos políticos -, explicou que ação precisa ser minuciosa para evitar destruição das supostas ossadas do argentino e seis brasileiros da VPR, que saíram da Argentina em julho de 1974 para mover ações armadas no Paraná.
O ex-líder da VPR e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), jornalista Aluízio Ferreira Palmar, 58 anos, que ajudou a localizar a área da suposta cova, também está envolvido nos trabalhos. O jornalista deu início à investigação após receber um mapa indicando que seus companheiros haviam sido enterrados ao lado de uma pista de pouso, próxima ao prédio no qual funcionava uma escola municipal.
A filha do guerrilheiro Onofre Pinto, assessora de imprensa Kátia Elisa Pinto, 34 anos, mora em São Paulo e acompanha a expedição. "Estou presenciando a experiência mais palpável de encontrar o corpo do meu pai. Para a minha família é importante dar um enterro digno a ele".
Kátia tinha sete anos quando Onofre saiu da Argentina em direção ao Brasil. Também está em Nova Aurora a psicóloga Lilian Ruggia, 39 anos, irmã do Argentino Enrique Ernesto Ruggia, que integrava o grupo dos guerrilheiros que desapareceram.
A operação é acompanhada pela representante das famílias dos desaparecidos políticos na Comissão Especial de Direitos Humanos, Susana Lisboa. Além dela e de Nilmário Miranda, compõem o CEDH um representante das Forças Armadas, um do Ministério Público Federal e três da Presidência da República, que não se deslocaram ao município paranaense.