Depois de um ano, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) volta a realizar uma nova manifestação na Praça Nossa Senhora Salete, que fica em frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba. Hoje, representantes do movimento, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e outras entidades ligadas à questão fundiária estarão realizando um protesto na mesma praça, que, durante 172 dias de 1999, abrigou um acampamento com 800 famílias de sem-terra. Na época, as famílias reivindicavam agilidade e mais recursos para reforma agrária, além do fim da violência no campo.
Os manifestantes escolheram a mesma data que aconteceu o despejo (27 de novembro de 1999) para voltar a pedir soluções e dinamismo no processo de reforma agrária no Paraná. Às 14 horas, eles estarão colocando faixas e rosas nas grades que cercam a sede do governo do estado. "As rosas são para lembrar cada um dos líderes que morreram durante o mandato do governador Jaime Lerner", disse o advogado da Comissão Pastoral da Terra, Darci Frigo.
Segundo Frigo, o protesto foi a forma que as entidades encontraram para protestar com a atual política de reforma agrária adotada no Paraná. "Em um ano de desocupação do Centro Cívico o processo retrocedeu", reclamou um dos coordenadores do MST, Roberto Baggio. "O governo passou a estimular ações violentas contra sem-terras e os assentamentos. Já o Incra, passou a ser aliado do serviço reservado da Polícia Militar", complementou.
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A Folha procurou ontem o superintendente do Incra, José Carlos de Araújo Vieira, e o assessor estadual da Política Fundiária, Antônio carlos Coelho, para que se pronunciassem sobre o assunto. Foram deixados recados em suas casas e feito contato com as assessorias de imprensa de Vieira e Coelho, mas até o fim do dia eles não retornaram as ligações.
Frigo afirmou que o Incra deixou de se preocupar em reforma agrária e passou a querer apenas cadastrar os sem-terras. "Esses cadastros estão servindo para que as polícias do Paraná e as milícias dos fazendeiros ataquem os assentamentos certos, sabendo onde encontrar cada liderança do movimento", afirmou o adavogado da CPT. Segundo ele tem crescido assim, as agressões, torturas, prisões arbitrárias e, inclusive, assassinatos de coordenadores do MST. Apenas neste ano, duas pessoas morreram.
Por outro lado, Roberto Baggio questiona a falta de agilidade do processo de reforma agrária. "O Incra não tem feito o número de desapropriações necessárias para atender a demanda pela terra", afirmou. Neste ano, Baggio informou que foi realizado apenas uma desapropriação de propriedade improdutiva. "Os assentamentos estão sem recursos por atraso nos repasses de custeios", queixou-se. O coordenador do MST afirmou que o Parná e a União não querem resolver o problema, mas apenas estão preocupados em desmoralizar o movimento. "Diversas denúncias infundadas estão sendo lançadas contra o MST, apenas para desestabilizar a nossa articulação", afirmou.
Entenda o caso da ocupação no Centro Cívico
18 de abril: O governo federal estadualiza o processo de reforma agrária no Paraná, permitindo que o governador Jaime Lerner nomeie José Carlos de Araújo Vieira, então assessor estadual fundiário, para o cargo de superintendente regional do Incra.
21 de abril: Cerca de 100 sem-terra vem para Curitiba e fica na frente do Palácio Iguaçu, querendo liberação de verba e punição para o assassinado de dois líderes do movimento, mortos no Noroeste e Sudoeste do Estado.
02 a 16 de maio: Governo estadual realiza uma série de desocupações de áreas, deixando, segundo contas do MST, quase 500 famílias sem umlocal para morar.
07 de junho: O MST anuncia que está realizando uma caravana que vem de Ponta Grossa para armar um acampamento em frente ao Palácio Iguaçu. Eles queriam verbas para custeio da reforma agrária e fim de agressão no campo. No mesmo dia, uma fita é divulgada no Jornal Nacional, contendo diálogo de lideranças estaduais e nacionais do MST, no qual estariam incitando a violência no campo.
8 de junho de 1999: Em torno de 400 famílias de sem-terras chegam a Capital e montam o acampamento em frente ao Palácio Iguaçu. Movimento acusa que fitas foram feitas irregularmente
09 a 30 de junho: Movimento mantém uma série de reuniões com o governo, que de concreto apenas obtém o apoio logístico do Estado e da Prefeitura de Curitiba para sustentar o acampamento.
8 de julho de 1999: O governador Jaime Lerner se compromete com o MST, Igreja Católica, que o Incra no Paraná vai liberar de recursos federais e as medidas adotadas para novos assentamentos no Estado. Proposta é rejeita pelo MST.
12 de julho de 1999: Justiça concede a prefeitura reintegração de posse da Praça Nossa Senhora de Salete.
22 de julho: Ministro da Política Fundiária, Raul Jungmann desisite de vir ao Paraná para tentar um acordo com lideranças do MST.
14 de setembro de 1999: Incra anuncia que tem meta de assentamento de 3 mil famílias até o final desse ano no Estado. Mas é preciso fazer um cadastramento das família, proposta rejeitada pelo MST.
16 de novembro de 1999: Incra e líderes do MST suspendem o diálogo em reunião realizada na Superintendência do Incra em Curitiba. Tudo por causa do cadastramento de 1.200 famílias.
27 de novembro: 750 policiais militares cercam a praça, às 3 horas da madrugada, e retiram os sem-terra, enviando de ônibus para o interior do Estado. Policiais agridem líderes sem-terras, prendendo alguns deles.