Há 50 anos, quando o professor Newton Freire Maia foi contratado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) com a missão de fundar o Laboratório de Genética da instituição, cromossomos, genes e genética ainda eram "um bicho de sete cabeças" até mesmo para os geneticistas, que engatinhavam em suas primeiras grandes descobertas. O professor, que na época trabalhava na Universidade de São Paulo (USP), foi o pioneiro na realização de pesquisas na área no Paraná.
"A genética nasceu em 1900. Mas por falta de equipamentos e tecnologia, nos primeiros 50 anos descobriu-se muito pouco. Foram nos últimos 50 anos que explodiram as grandes descobertas", resume o cientista Freire Maia.
A UFPR seguiu o mesmo caminho. Em abril de 1951, Freire Maia fez o Paraná dar o primeiro passo no estudo das hereditariedades, com a criação do Laboratório de Genética, ligado à cadeira de Biologia Geral. À medida em que as descobertas do setor apareciam em todo o mundo, também na UFPR as pesquisas foram se intensificando. Em 50 anos, o laboratório ganhou status e virou Departamento de Genética. Hoje sua estrutura envolve 20 professores da ativa, quatro seniors (aposentados que continuam trabalhando), além de um professor visitante.
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"Ainda é pouco se comparado a outros centros de genética do País, mas o departamento se diversificou, trabalha em várias áreas e desenvolve um bom número de pesquisas", diz o chefe do departamento, professor João Carlos Guimarães. Em 50 anos, o departamento produziu aproximadamente 1,3 mil trabalhos de pesquisas, teses e artigos publicados, formou centenas de estudantes em 12 cursos de graduação, especializou funcionários de universidades e institutos de pesquisa, além de manter dois cursos de pós-graduação. Desde a criação do mestrado em Genética, em 1969, a UFPR formou 110 mestres. Outros nove doutores conseguiram o título desde 1994, com a criação do Doutorado em Genética.
Estes números não significam que tudo são flores no departamento. Ao contrário. O Laboratório de Citogenética Humana, por exemplo, realiza estudos importantíssimos sobre o câncer, mas é obrigado a conviver com um microscópio de 1968. Por falta de recursos, os cientistas têm que se adaptar a um aparelho de 33 anos de idade.
"A falta de dinheiro para pesquisa é geral no Brasil", diz Freire Maia. O que ocorre, é que alguns estados aplicam mais do que os outros. A Fundação Estadual de Amparo às pesquisas de São Paulo (Fapesp), por exemplo, financia mais da metade das pesquisas feitas no País, de acordo com o professor José Sebastião Cunha Fernandes, que estuda melhoramento de plantas. Já no Paraná, só no ano passado, foi criada a Fundação Araucária, que repassou em 2000 cerca de R$ 2 a R$ 3 milhões para a área de pesquisas. Fontes do governo federal, como o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Caps) também vêm ficando escassas, a cada ano. De acordo com Cunha, no ano passado o departamento teve que se virar com apenas R$ 51 mil, entre recursos da Caps e de outras entidades.
"Nos últimos anos houve uma redução muito grande de recursos, principalmente para as bolsas de estudo", queixa-se o chefe do Departamento. "Sem uma política para o setor, o Brasil está perdendo excelentes profissionais, que vão para fora fazer suas pesquisas", reforça o professor Iglenir João Cavalli, aposentado sênior, que trabalha há 36 anos com Citogenética Humana na UFPR.
Justamente pela falta de recursos para pesquisas, os professores ressaltam a importância do departamento na formação de novos cientistas. A coisa mais maravilhosa é ver o idelaismo dos jovens que querem aprender, e o mais aviltante para nós é ter que suprir este idealismo sem ter condições", diz Cavalli. Em função do destaque que a genética alcançou ultimamente, nos últimos três anos, os interessados em cursos de pós-graduação aumentaram de 25 candidatos por ano para 45, segundo Cunha.
A falta de condições ideais, de acordo com Freire Maia, não faz os cientistas pararem. "O importante é a beleza que se encontra dentro da ciência", fala, deixando transparecer a sua paixão pelo mundo das ciências. Paixão, aliás, que é sentida entre praticamente todos os professores empenhados em pesquisas. Sua colega de profissão, professora Enilze Maria de Souza Ribeiro, emenda: "Não é por isso que vamos ficar chorando pelos cantos. Vamos continuar a ensinar e fazer nossas pesquisas", diz.