Os policiais civis acreditam que as principais necessidades de investigadores e escrivães atualmente são dinheiro, realização, condições de trabalho, responsabilidade e segurança. Se não forem considerados os votos em branco e nulos (que equivalem a 27% do total), o índice de policiais que reclamam da falta de dinheiro é de 33%. Os que vivem apenas do soldo de seus salários, dizem que têm que conviver com cortes de luz, água e telefone. "Eles ingressam na polícia pensando em ser um super-herói e se sentem marginalizados. Pelo governo, que paga pouco. E pela sociedade, que os confundem com marginais", destaca a psicóloga Roxane Cassanelli Ratin.
Cem por cento dos entrevistados dizem que para melhorar a instituição seria necessária uma mudança na estrutura dos distritos e delegacias, com repartições adequadas, salas de plantão, cartórios, carceragem, alojamentos, cozinhas e banheiros. Eles pedem ainda que todas as delegacias sejam providas de equipamentos policiais, com móveis compatíveis com o trabalho desempenhado, ramais telefônicos em quantidade suficiente, computadores ligados em rede e rádios transmissores. Todos eles querem também a retirada imediata de presos nos distritos e encaminhamento para o Sistema Penitenciário.
Em relação às chefias, eles pedem que os delegados aprendam a tratar os seus subordinados com respeito, que compreendam as limitações de cada um, sejam líderes responsáveis e promovam reuniões com seus subordinados. "O problema é que os delegados agem como se fossem uma espécie de deus. Isto é prejudicial. Falta diálogo entre chefia e subordinados", avalia a psicóloga. "A maioria dos delegados hoje é visita nas delegacias, são omissos, negligentes e alheios ao movimento dentro do local. Só se mexem se vier cobrança de cima. Do contrário são avestruzes", diz um policial civil.
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Psicológico
Dos 206 policiais civis analisados pelas psicólogas, 67% disseram que gostariam de ter atendimento psicossocial. Eles gostariam de falar sobre seus problemas profissionais e pessoais. Os principais pontos que precisariam ser trabalhados, de acordo com a pesquisa, seriam as dificuldades conjugais, sintomas emocionais como depressão, baixa auto-valorização, frustração, fuga do real, abuso de drogas lícitas e ilícitas. "Eles querem ajuda, mas ninguém faz nada. Existe um trabalho psicológico para policiais civis, mas não consegue atender a demanda. Precisamos de investimentos nesta área", declara a psicóloga Roxane Cassanelli Ratin. Ela diz que ficou deprimida e indignada com a situação da Polícia Civil. Num relatório de 57 páginas, ela e a também psicóloga Eliane Bernardelli mostram o problema e fazem sugestões.
Para mudar a atual situação, elas alegam que seria fundamental a implantação da isonomia salarial, contemplando a reposição de perdas no período; melhores condições humanas e adequadas de trabalho; resgate da função do investigador, atualmente atuando indevidamente como agente carcerário; treinamento e cursos de reciclagem para policiais e delegados; programa de avaliação e atendimento periódico do setor psicossocial aos policiais distritais. "Talvez não sejamos atendidos, mas temos que tentar. Por isto fizemos o estudo", afirma.
O estudo será enviado esta semana para o Departamento de Polícia Civil e para a Secretaria de Estado de Segurança Pública. Ontem, a reportagem da Folha entrou em contato com o delegado geral da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, que não quis comentar o assunto. Ele disse que quer ler o relatório antes de se pronunciar oficialmente.