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Supersafra gera migração de prostitutas a Paranaguá

Israel Reinstein - Folha do Paraná
20 mai 2001 às 16:54

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No auge da exportação de grãos, mulheres deixam interior do estado e outras regiões portuárias brasileiras para aproveitar dinheiro de caminhoneiros e marinheiros no Paraná

A exportação da supersafra de grãos pelo Porto de Paranaguá, no Litoral do Estado, está provocando uma migração inusitada. Prostitutas vindas de diversas regiões do Paraná e também de outros Estados estão sendo atraídas pelo dinheiro movimentado no cais do porto, o segundo maior do País. Muitas são originárias de outras regiões portuárias do Brasil.

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"A gente é igual a andorinha. Vai onde tem fartura", sintetiza Tainá, 21 anos, garota de programa que veio do interior do Estado para a Boca do Cais, zona de prostituição próxima ao porto. Tainá, como as demais prostitutas entrevistas pela Folha em quatro noites de apuração, não quiseram dar o nome completo, mas apenas o apelido de rua.

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Chegadas na boléia do caminhão, de carona nos navios ou de ônibus, essas mulheres buscam uma alternativa de vida, que ajude a resolver um problema urgente: a falta de dinheiro. "Aqui existe possibilidade de melhorar de vida. A gente pode ganhar dinheiro em diversos tipos de moedas, inclusive dólares", avalia Patrícia, 20 anos, que veio do Porto de Rio Grande (RS) há 25 dias.

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Realmente. A cidade paranaense movimenta bastante dinheiro a cada safra. A estimativa é que a exportação de grãos gere US$ 5 bilhões em divisas para o Brasil. O setor de transportes arrecada cerca de R$ 40 milhões nesse período do ano. Desse dinheiro, R$ 8,28 milhões ficam no porto, na forma de tarifas.


Mas, conforme desce na hierarquia da economia, o dinheiro vai se diluindo. Assim, das migalhas que ficam com o setor operacional da safra -caminhoneiros, marinheiros, estivadores e operadores -, uma pequena parte acaba nas mãos das prostitutas.

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Em uma viagem de Cascavel a Paranaguá, um caminhoneiro autônomo pode ganhar até R$ 800,00. Já um marinheiro fatura em torno de US$ 1 mil. "Um pouquinho do que eles (caminhoneiros) ganham enche meu bolso", avalia Neide, 36 anos, que normalmente trabalha na beira da estrada, na região de Ponta Grossa, e migrou ao Litoral nesta safra.


"Vi na televisão que tinha bastante movimento por aqui. E, como estava tudo parado no Rio Grande, por causa dos custos de exportar a safra, vim para Paranaguá, onde tem muitos marinheiros e operadores de navios", diz a gaúcha Patrícia. "A gente sabe quando tem riqueza nos portos e, por isso, vai se deslocando", narra Regina, que na última quinta-feira pegava uma carona para o Porto de Santos (SP). Com 30 anos, ela veio da cidade portuária paulista em busca do dinheiro da safra paranaense. "Volto para casa para ver meu filho, mas retorno", prometeu.

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Esse movimento das prostitutas só é conhecido empiricamente. A Prefeitura de Paranaguá sabe o que acontece, mas não possui estudos que avaliem os impactos dessa migração nos portos. O processo também é desconhecido pelos governos estadual e federal.


O resultado da falta de conhecimento é que não existem programas de atendimento exclusivos para as mulheres e travestis que trabalham nas áreas de prostituição. Tudo que acontece é pontual, desenvolvido por organizações não-governamentais (Ongs). Apesar dos esforços, esses organismos não são capazes de atender tamanha demanda.

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O fator mais complicado é com relação à saúde. "Sabe-se por comentários que, na época da safra, vêm prostitutas de diversas regiões do Paraná e de outros Estados, mas não se tem informação de quantas são", resume o secretário de saúde de Paranaguá, Volney Bonotto.


A falta de informação não é uma característica municipal. Quando entrevistado, o técnico responsável da Coordenação Estadual de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (DST/Aids), Francisco Carlos dos Santos, não sabia que vinham mulheres de municípios do interior paranaense, como Londrina, Maringá e Cascavel. "O trabalho da Secretaria (Estadual de Saúde) é dar estrutura para Ongs atender as profissionais do sexo. Também se procura orientar os caminhoneiros", afirma Santos.

Diante dessa falta de estrutura -seja da cidade ou dos serviços sociais estaduais-, as prostitutas vão seguindo a vida. Com a experiência de um mês de prostituição, a parnanguara Iza, 19 anos, resume: "O jeito é a gente ser esperto porque, se não, te comem vivo".


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