O assassinato do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em Campos dos Goytacazes (cidade no Norte Fluminense), Cícero Guedes dos Santos, tem características de execução encomendada, de acordo com as primeiras investigações da Polícia Civil. Ele é o terceiro sem terra morto no município nos dois últimos meses, segundo o MST.
Guedes dos Santos foi morto a tiros na madrugada de sábado. A hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte) não é considerada pelos investigadores. Os peritos do Instituto Médico Legal (IML) constataram que a vítima foi atingida por quatro disparos na cabeça e seis no tórax.
O trabalhador rural, que tinha 49 anos, foi sepultado neste domingo. Ele coordenava o assentamento Zumbi dos Palmares, no Sítio Brava Gente, em Campos, desde 2002. As investigações indicam que o líder sem terra sofreu uma emboscada ao sair de uma reunião no assentamento Luiz Maranhão, na usina Cambahyba. Nenhum pertence da vítima foi levado, segundo as informações prestadas por parentes aos policiais encarregados da apuração do crime.
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"Certamente foi uma execução. Descartamos totalmente a hipótese de latrocínio", disse a delegada Madeleine Farias. da 134ª Delegacia de Polícia.
Até domingo, três testemunhas foram ouvidas: um filho de Guedes dos Santos e duas pessoas que moravam perto do local do crime, uma estrada vicinal. A partir de amanhã, o delegado titular, Geraldo Assed, assume o caso.
O acampamento coordenado por Guedes dos Santos fica em um antigo engenho com sete fazendas em uma área de 3.500 hectares. Para o MST, o assassinato está ligado à disputa de terras. Há 14 anos espera-se que a Justiça desaproprie o terreno. Mas desde novembro passado cerca de 200 famílias de sem terra ocupam o lugar. A propriedade pertence aos herdeiros de Heli Ribeiro Gomes, vice-governador do antigo Estado do Rio de Janeiro (antes da fusão com a Guanabara, em 1975) entre 1967 e 1971.
"A hipótese principal é que foi uma ação do latifúndio histórico de Campos. A polícia tem que chegar aos executores e ao mandante dessa barbárie", disse Marina Santos, da direção nacional do MST. Segundo ela, não houve embate recente entre os assentados e fazendeiros da região.
Em nota, o MST sustenta que "a morte do companheiro Cícero é resultado da violência do latifúndio, da impunidade das mortes dos sem terra e da lentidão do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para assentar as famílias e fazer a reforma agrária".