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Impeachment

Primeira mulher eleita presidente, Dilma deixa cargo dois anos antes

Agência Brasil
31 ago 2016 às 14:41

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- Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Em 1° de janeiro de 2011, ao assumir o mandato como primeira presidente mulher do Brasil no Congresso Nacional, Dilma citou em seu discurso os versos de Guimarães Rosa: "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem".

Cinco anos e meio depois, ela voltou ao mesmo cenário em que foi empossada para enfrentar o julgamento do impeachment que a afastou em definitivo do cargo, mais de dois anos antes do fim de seu segundo mandato. Ex-ministra do governo Lula e presa política durante a ditadura militar, Dilma Vana Rousseff nasceu em 14 de dezembro de 1947. Filha do imigrante búlgaro Pedro Rousseff e da professora Dilma Jane da Silva, nascida em Resende, no Rio de Janeiro, Dilma tem uma filha, Paula, e dois netos, Gabriel e Guilherme.

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Ditadura militar

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No ensino médio, em 1964, ela conheceu o primeiro marido, Claudio Galeno, com quem se casou em 1967, ano em que entrou no curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e aderiu ao Comando de Libertação Nacional, organização que combatia a ditadura e que se fundiu com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), formando a VAR-Palmares. A VAR-Palmares fez algumas ações armadas contra a ditadura, mas Dilma, que atuava em estratégia e planejamento, não participou de nenhuma delas. Nas campanhas eleitorais, essa passagem de sua vida era muito explorada.

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No ano seguinte, ela e o marido passaram a ser perseguidos pelo regime em Minas Gerais, entraram na clandestinidade e acabaram se separando. Na clandestinidade, como mandavam os manuais de segurança, Dilma usou vários codinomes. Chamou-se Luiza, Wanda, Marina, Estela, Maria e Lúcia. Galeno foi para o exílio.


Em 1969, Dilma conheceu o advogado gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo, com quem se casou e teve a única filha. Juntos, eles foram perseguidos pela ditadura. Condenada por subversão, Dilma passou quase três anos – de 1970 a 1972 – no Presídio Tiradentes, na capital paulista.

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Tortura


No discurso dessa segunda-feira (29) em que foi ao Senado apresentar sua defesa no processo de impeachment, Dilma lembrou a perseguição, a prisão e a tortura sofrida durante o regime militar, episódios que sempre citou ao longa da vida pública. "Na luta contra a ditadura, recebi no meu corpo as marcas da tortura. Amarguei por anos o sofrimento da prisão. Vi companheiros e companheiras sendo violentados, e até assassinados", disse.

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A jornalista Rose Nogueira, de 70 anos, foi companheira de prisão de Dilma. Presa em novembro de 1969, separada do filho recém-nascido e torturada, Rose foi levada ao Presídio Tiradentes, em São Paulo, onde conheceu Dilma. As duas dividiram a cela com mais 50 presas políticas.


"Dilma chegou com mais duas moças. Ela era mais jovem que eu e logo marcou presença porque estudava muito. Era muito disciplinada e participava de todas as organizações coletivas. Era o único jeito de suportar aquilo ali. Éramos todas muito machucadas, inclusive com lembranças. Dilma chamava a atenção por isso", lembrou a jornalista.

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"Passei só alguns meses com ela. Saí e fiquei em liberdade vigiada por dois anos e pouco. Dilma ficou três anos presa, mas tudo o que a gente discutia, sobretudo política, tudo para ela era o Brasil primeiro. 'Isso é bom para o Brasil?', perguntava."


Vida política

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Livre da prisão, Dilma mudou-se para Porto Alegre em 1973. Fez novo vestibular e retomou os estudos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, em 1975, começou a trabalhar como estagiária na Fundação de Economia e Estatística do governo gaúcho. No ano seguinte, deu à luz a filha Paula Rousseff Araújo.


Com o marido Carlos Araújo, participou da fundação do PDT no Rio Grande do Sul e trabalhou na assessoria da bancada estadual do partido entre 1980 e 1985. Em 1986, o então prefeito de Porto Alegre, Alceu Collares, escolheu Dilma para a Secretaria da Fazenda.

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Dilma também foi diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre, quando participou da campanha de Leonel Brizola pelo PDT ao Palácio do Planalto em 1989 – ano da primeira eleição presidencial direta após a ditadura militar. No segundo turno, foi às ruas defender o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi derrotado pelo representante do PRN, Fernando Collor.


No início da década de 1990, Dilma retornou à Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, como presidente da instituição. Em 1993, com a eleição de Alceu Collares para o governo gaúcho tornou-se secretária de Energia, Minas e Comunicação.


Em 1998, iniciou curso de doutorado em Economia na Universidade Estadual de Campinas, mas, já envolvida na campanha sucessória no Rio Grande do Sul, não chegou a defender tese. A aliança entre PDT e PT elegeu Olívio Dutra governador e Dilma ocupou, mais uma vez, a Secretaria de Energia, Minas e Comunicação do estado. Dois anos depois, filiou-se ao PT.


Em 2002, Dilma foi convidada a participar da equipe de transição entre os governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula (2003-2010).


Lula a conheceu no Rio Grande do Sul, como secretária de Minas e Energia do governo de Olívio Dutra. No governo Lula, tornou-se ministra de Minas e Energia.


Entre 2003 e 2005, com a criação do chamado marco regulatório (leis, regulamentos e normas técnicas), comandou uma ampla reformulação no setor. Além disso, presidiu o Conselho de Administração da Petrobras, introduziu o biodiesel na matriz energética brasileira e criou o programa Luz para Todos.


Em 2005, Lula escolheu Dilma para a chefia da Casa Civil. Nesse cargo, ela assumiu o comando de programas estratégicos como o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, e Minha Casa, Minha Vida - chegou a ser chamada de "mãe do PAC".


Ela também coordenou a comissão interministerial encarregada de definir as regras para exploração das reservas de petróleo na camada pré-sal e integrou a Junta Orçamentária do Governo.


O ex-ministro das Cidades e ex-governador gaúcho Olívio Dutra, de 75 anos, que conheceu Dilma na década de 70, quando presidia o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, falou sobre a capacidade técnica de Dilma.


"Dilma tinha um acúmulo de senso crítico, um bom cabedal de informações e conhecimento. Lembro bem que, na época, laptop era coisa rara. Ela foi uma das primeiras pessoas a utilizar muito bem essa ferramenta. Tinha um arquivo considerável, uma avaliação sempre segura".


Câncer


Com perfil enérgico e gerencial, Dilma abandonou o ar sisudo ao revelar que estava com câncer linfático, em 2009. Fez sessões de quimioterapia, perdeu o cabelo e usou peruca por uns tempos. No final daquele ano, os médicos a declararam curada.


Eleição


No dia 3 de abril de 2010, Dilma, que nunca havia disputado um cargo eletivo, deixou a equipe ministerial para se candidatar à Presidência da República pelo PT, com apoio de Lula.


No segundo turno das eleições, em 31 de outubro de 2010, Dilma derrotou o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB). Aos 63 anos, Dilma Rousseff foi, então, eleita presidenta da República, com quase 56 milhões de votos. A primeira mulher a presidir o Brasil.


Em 2013, foi considerada como a segunda mulher mais poderosa do mundo, atrás apenas da chanceler alemã Angela Merkel, pela revista Forbes.


A reeleição, conquistada também em segundo turno, veio em 2014. No dia 25 de outubro daquele ano, com 54.501.118 votos (51,64%), Dilma foi reeleita, derrotando o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), que teve 51.041.155 votos (48,36%).


Impeachment


Dos mais de 30 pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff que chegaram à Câmara dos Deputados no ano passado, o então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acolheu apenas o que foi apresentado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr e Janaína Paschoal, no dia 21 de outubro. A presidente foi acusada de crime de responsabilidade fiscal e de edição de decretos sem autorização do Legislativo.


Dilma alega inocência, afirmando que não havia infringido a lei, e diz que é vítima de um golpe liderado por Eduardo Cunha e Michel Temer, seu vice-presidente com quem teve uma relação conturbada.


Fernando Collor, primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura militar, foi o primeiro chefe de governo brasileiro afastado do poder em um processo de impeachment.


Com Dilma Rousseff, é a segunda vez que um presidente perde o mandato no mesmo tipo de processo. Aprovado na Câmara e no Senado, o processo entrou na fase de julgamento na última quinta-feira (25). Em maio, ela foi afastada temporariamente da Presidência da República após os senadores acatarem o processo.

Com a saída de Dilma, encerra-se um ciclo de 13 anos de governos petistas.


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