A 31ª edição do Festival de Gramado foi alardeada como a maior desde a criação do evento. Talvez seja verdade, mas isso não se converteu em qualidade – apesar do calor (que atingiu improváveis 33 graus), o Festival foi bastante morno.
A maioria dos longas, tanto brasileiros como latinos, decepcionou. Duas produções, em especial, deixaram bastante a desejar: Apolônio Brasil, Campeão da Alegria, de Hugo Carvana, e o paranaense O Preço da Paz, de Paulo Morelli. O primeiro, uma bizarra homenagem às chanchadas, dividiu a opinião tanto da crítica como do público e acabou levando o prêmio especial do juri. Já O Preço da Paz conquistou os Kikitos de direção de arte, montagem (ambos merecidos) e o prêmio do juri popular.
O longa de Carvana prometia. O diretor possui bons filmes no currículo, tais como Vai Trabalhar, Vagabundo ou mesmo O Homem Nu. Além disso, o elenco contava com o talento de gente como Marco Nanini e José Lewgoy, em seu último papel. Mas o resultado é uma comédia musical desgovernada, de produção pobre e, pior, sem nenhuma graça.
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Apolônio Brasil retrata uma suposta época de ouro da boemia do Rio de Janeiro. A trama gira em torno da vida de um pianista (interpretado por Nanini) narrada em flashbacks pelas pessoas que o conheceram. São amigos e ex-amantes que foram convidados a falar por um cientista estrangeiro (Lewgoy) cujo objetivo é clonar o cérebro de Apolônio. Ainda fica pior. A justificativa é que o cérebro do pianista possui 254 "alegrons", um índice que mede a alegria de um cérebro humano, cuja média, é claro, é bastante inferior. Enfim, daí para frente é um festival de bobagens que não divertem, chegando ao ponto de se sustentar em piadas sobre flatos e arrotos. O elenco também parece estar no piloto automático, sem o menor brilho. A exceção é Jonas Bloch que, no papel de um major nos anos da ditadura militar, é responsável pela única seqüência memorável do filme.
Já o longa paranaense O Preço da Paz tem uma produção estonteante, com cenários suntuosos e uma fotografia muito bem resolvida. É pena que falte alma ao filme, que conta a invasão de Curitiba pelos Maragatos em campanha contra o Marechal Floriano e a intervenção do Barão do Serro Azul (Herson Capri). É um filme que assume um tom grandiloqüente, mas não dá a menor bola para alguns de seus personagens, como a esposa do Barão, vivida por Giulia Gam – uma personagem completamente sem função na trama. Há ainda as boas presenças de Lima Duarte e José de Abreu, mas é pouco para sustentar o filme, que mais parece uma mini-série global.
Mas se os filmes não ficaram à altura do que se esperava, não se pode dizer o mesmo do clima de glamour que tomou conta da cidade. Durante o festival é impossível dar dois passos sem esbarrar com alguém famoso. Além disso existem as concessões típicas, como o longo tapete vermelho e as badaladas festas nos hotéis que fazem a alegria dos caçadores de autógrafos. Tudo muito divertido, claro. Mas talvez seja o momento de Gramado reavaliar seu futuro – afinal apenas o charme da festa não é o suficiente para credenciá-lo como referência mundial.