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Bravura, tenacidade e resolução

30 set 2009 às 17:45
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Michel de Montaigne, filósofo francês do séc. XVI, escreveu, em seus Ensaios, no capítulo Por diversos meios chega-se ao mesmo fim, que a bravura, a tenacidade e a resolução são virtudes notáveis para se enfrentarem os inimigos, pois enternecem o coração destes. Ele cita como exemplo o fato ocorrido na Baviera, onde o invasor, o Imperador Conrado III, não consentira deixar sair da cidade, dominada por ele, senão as mulheres dos fidalgos, a pé e levando consigo apenas aquilo que pudessem carregar. Elas lhe obedeceram, e carregaram em seus ombros os maridos e os filhos. Isso sensibilizou o Imperador, que passou a tratar os habitantes subjugados com humanidade.
Esse texto me fez pensar que, nos momentos de extrema necessidade, age-se extraordinariamente. É o que acontece com as famílias que têm a desventura de contar com um filho drogado: quando o problema se torna insustentável, tomam-se medidas drásticas, como acorrentar o filho para impedi-lo de se drogar, providência adotada por uma mãe em uma cidade paranaense, ou como entregar o filho ‘pequeno traficante’ à polícia esperando que, assim, ele encare a realidade e abandone a vida que leva.

FARDO PESADO DEMAIS

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Essas decisões são tomadas em momento de aflição máxima. Há uma pergunta a ser respondida, porém: onde estavam os pais quando o jovem começou a se drogar? Onde estavam eles, que não percebiam as mudanças de comportamento do filho? A resposta é clara: estavam preocupados demais com seus próprios inimigos para enxergar o que acontecia ao seu redor; estavam tão aflitos com seus dilemas que não percebiam que um inimigo maior se apoderava da vida de seu filho. Quando se deram conta, ‘a cidade já estava sitiada’, e, então, tentaram carregá-lo nos ombros na esperança de salvá-lo. Em muitos casos, porém, o fardo é pesado demais, e ninguém suporta carregá-lo sucumbindo antes de terminar a jornada. É como tentar salvar alguém que se afoga; este, no desespero, puxa seu salvador para dentro d’água, e os dois morrem.

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SUBMISSÃO, PARA INSPIRAR COMISERAÇÃO

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O que se deve fazer é não esperar que a situação se torne insuportável para partir para a ação. O maior problema, todavia, é que muitos têm como o maior inimigo a sua própria vida: age-se como se estivessem condenados a quebrar pedras a vida inteira; tudo representa um fardo grande demais para se carregar sozinho: o trabalho, o casamento, os filhos, a rotina diária. Age-se como se tivesse a vida sitiada por um cruel imperador que o submete às piores provações e passa-se a viver submisso a ele. Montaigne disse, no mesmo capítulo, que é assim que a maioria age diante de seus inimigos: com submissão, na tentativa de inspirar-lhes comiseração e piedade, enquanto que o ideal seria enfrentá-los com bravura, tenacidade e resolução.
Se as vicissitudes da vida são os inimigos a serem enfrentados, que se faça isso com coragem e determinação. Não se deve esquecer, contudo, de que a família não pode ser encarada como um deles. Ela deve ser a força maior que nos move para confrontar os problemas que se nos apresentam. Ela deve ser ‘carregada’ conosco constantemente estejamos onde estejamos, não importa aonde vamos nem com quem vamos.


CARREGAR É PARTICIPAR, É INTERESSAR-SE

Nossos familiares são nosso esteio, nosso amparo, e nós somos isso a eles também. Temos de enfrentar todos os nossos problemas, anseios e aflições tendo-os sempre ao nosso lado, sem nunca perder o entusiasmo para a vida. Todos os membros da família devem fazer parte direta e constante dos acontecimentos para se sentirem engajados nela, para se sentirem membros de fato, e não somente apensos sem valia alguma. Temos de ‘carregar’ nosso cônjuge e nossos filhos conosco diariamente, para que eles se sintam protegidos e para que saibam que podem contar conosco a qualquer momento. Quem se sente seguro não necessita de subterfúgios para se esquivar das dificuldades. Quem se sente seguro sabe encarar os problemas que enfrenta sem medo e não precisa esperar o pior acontecer para se aproximar das pessoas da família.
"Carregar" nossos entes queridos não significa tê-los como algo difícil de suportar. "Carregar" é uma metáfora para "participar" da vida de nossos filhos e cônjuge: é acompanhar a vida escolar das crianças, conhecer seus amigos, saber onde estão e aonde vão; é interessar-se pela vida do cônjuge, saber o que pensa e o que sente sobre os mais diversos acontecimentos, ser parceiro, ser amigo, ser companheiro. É fazer isso com coragem, bravura, tenacidade e resolução sem esperar que façam o mesmo para si.


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