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Como nossos pais

30 set 2009 às 18:10
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"Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não. Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém..." (Belchior)

Sempre gostei de ouvir as músicas de Belchior. Uma delas recitei no discurso de formatura quando eu fora escolhido paraninfo da turma. Era a composição Como nossos pais, eternizada por Elis Regina na década de 1970. O trecho mais conhecido é o que inicia o texto de hoje.

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ACEITAMOS AQUILO CONTRA O QUAL LUTAMOS

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Em meu discurso, falava aos alunos da importância de respeitar seus pais e suas peculiaridades (dos pais). Quando nos tornamos adultos responsáveis ficamos muito parecidos com eles: vivemos mais ou menos como eles viveram; cremos em crenças parecidas com as deles; tomamos decisões semelhantes às deles; aceitamos, portanto, como verdade aquilo contra o qual lutamos durante a fase de adolescentes rebeldes - pela qual nem todos passam.

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TRÊS DIAS DE PAZ E MÚSICA


Esses dias, em virtude do aniversário de quarenta anos do Festival Woodstock ("Uma exposição aquariana: 3 dias de paz & música"), pensei novamente na composição de Belchior e percebi o quão certo ele estava: a maioria daqueles jovens que invadiram a fazenda onde ocorria o Festival não hesitava em se drogar e viajava sem destino pelo mundo afora pregando a paz, o amor, o desapego às coisas materiais. "Sexo, droga e rock and roll" era seu lema. Naqueles três dias (15, 16 e 17 de agosto de 1969), dispuseram-se a passar fome e a dormir sem conforto algum, enlamearam-se e enregelaram-se em consequência da chuva que castigou a todos que se encorajaram a enfrentar aquela multidão ensandecida para ver e ouvir seus ídolos. Talvez nem os viram ou os ouviram, pois havia mais de quinhentas mil pessoas naquele local. Conseguiram ver o palco somente os que estavam nas proximidades dele. A maioria estava longe demais, física e mentalmente. Segundo alguns documentários sobre o Festival, muitos nem barracas levaram; dormiam ao relento, enrolados em cobertores e lonas plásticas. Era o caos.

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CONTRACULTURA


Imaginem como se sentiram os pais daqueles jovens, adultos estadunidenses supostamente equilibrados que faziam parte de famílias conservadoras (Aliás, a sociedade estadunidense era extremamente conservadora naquela época. Essa era uma das conjunturas às quais os hippies se contrapunham. É a contracultura mais famosa de todos os tempos).
Os telejornais mostraram o que estava ocorrendo durante o Festival: a multidão tentando se aproximar do palco; centenas de carros abandonados, devido ao gigantesco congestionamento: mais de cem mil carros bloqueavam a rodovia que dava acesso à fazenda, impossibilitando a ocorrência das primeiras apresentações musicais, pois nem os artistas conseguiam chegar ao Festival. Jovens seminus dançando, drogando-se, brincando na lama, amando-se ao ar livre, sob os olhares de todos.

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CALAMIDADE PÚBLICA


Imaginem o que pensavam os pais. Imaginem o desespero deles. Sem saber se o(a) filho(a) estava bem e se ficaria bem até o fim daquela loucura, que era considerada calamidade pública. Não havia alimentos nem água suficientes para todos. Da mesma forma como se tornara quase impossível chegar ao local, sair de lá também o era. Os pais desses jovens passaram alguns dias de inquietude, de medo, de desassossego que certamente lhes tiraram a paz, a tranquilidade.


RESPEITÁVEIS SENHORES E SENHORAS SEXAGENÁRIOS

Muitos daqueles jovens inconsequentes são hoje respeitáveis senhores e senhoras sexagenários. Lutavam contra o establishment (ordem ideológica, econômica, política e legal que constitui uma sociedade ou um Estado), e se tornaram condutores do bom andamento da coletividade. Queriam o desapego às coisas materiais, e construíram um patrimônio para seus filhos e netos. Pregavam o amor livre e formaram famílias impolutas, cheias de dignidade, virtuosidade e elevação de caráter.
É. Belchior estava certo: vivemos como nossos pais. Por isso não se pode levar muito a sério as ideologias radicais da juventude que vão contra as tradições cristalizadas pela sociedade. Há de se tentar mudar aquilo que não condiz com o que é bom, que não condiz com o que representa o bem. Há, porém, de se saber que nossas raízes são fortes e que nosso destino será ditado por elas. Vale mais a pena conhecê-las e tentar melhorá-las, sem ser radical demais.


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