O IBGE divulgou hoje (27/maio) os dados do Produto Interno Bruto (PIB) referente ao 1º trimestre de 2004. Os resultados ficaram em linha com nossas projeções e ligeiramente acima das expectativas do mercado.
Na comparação contra o 1º trimestre de 2003, o PIB registrou crescimento de 2,7%, o primeiro resultado positivo ter registrado duas quedas consecutivas no 3º e 4º trimestre de 2003. Nessa mesma base de comparação os crescimentos dos três grandes setores da economia foram: Agropecuária 6,4%, Indústria 2,9% e Serviços 1,2%.
Já na comparação com o último trimestre de 2003, excluindo os efeitos sazonais, a taxa de crescimento do PIB foi de 1,6%. Na distribuição por setores as taxas de crescimento foi a seguinte: Agropecuária 3,3%, Indústria 1,7 e Serviços 0,4%.
Entre os grandes setores da economia, o destaque positivo ficou por conta da recuperação do setor industrial, que saiu de uma retração de 1,7% no quarto trimestre de 2003 para um crescimento positivo de 2,9%, sempre na comparação contra o mesmo período do ano anterior.
Esse movimento de recuperação do setor fabril só foi possível devido a alguns fatores: i) redução dos juros, ampliação do crédito e incentivos fiscais – IPI automóveis menor; ii) manutenção do crescimento das exportações de bens de capital (principalmente máquinas e equipamentos para agricultura) e de bens de consumo duráveis (principalmente automóveis) e; iii) recuperação do setor da construção civil, que ainda se mantém negativo, mas numa intensidade muito menor do que no 4º trimestre/03.
Entre os subsetores que compõem o setor industrial, a Extrativa Mineral e Construção Civil apresentaram taxas negativas também na comparação contra o 1º trimestre do ano passado (-3,9% e -2,3%, respectivamente). Entretanto, a queda da Extrativa é justificada pela base de comparação muito elevada, pois, o 1º trimestre de 2003 foi o maior período de produção do setor desde 1990. Já a Construção Civil, apresentou melhora significativa, pois, passou de uma queda de 11,1% no 4º trimestre para apenas uma queda de 2,3% no 1º trimestre, sempre em comparação ao mesmo período do ano passado. Parte da recuperação da Construção Civil deveu-se a queda dos juros e ampliação do crédito, que são fatores que traz de volta o estimulo ao financiamento de imóveis.
Quanto ao setor da Agropecuária, o crescimento de 6,4% frente ao 1º trimestre de 2003 deveu-se ao bom desempenho tanto da agricultura quanto da pecuária, que se beneficiaram das crises da vaca-louca nos Estados Unidos, gripe aviária na Ásia e do maior preço das commodities agrícolas.
COMPARATIVO COM DEMAIS PAÍSES EMERGENTES E DESENVOLVIDOS:
Quando comparado o crescimento do PIB brasileiro com alguns países emergentes e industrializados, o que se percebe é que o Brasil continua registrando crescimento pífio. Isso se justifica principalmente pela postura ainda gradualista do Copom acerca das decisões de política monetária que continuam afetando de forma negativa as expectativas futuras. O fato é que os países que passaram por crises muito mais profundas que o Brasil se recuperaram e, ainda, continuam registrando taxas de crescimento elevadas.
EXPECTATIVA PARA OS PRÓXIMOS TRIMESTRES:Analisando o cenário atual e considerando alguns fatores é possível afirmar que a expectativa de crescimento do PIB de 3,5% para este ano projetado pelo governo dificilmente ocorrerá.
Para que o PIB registre crescimento de 3,5% em 2004, ele terá que apresentar uma taxa de elevação média nos próximos trimestres de 3,8%. Afinal, é necessário recuperar os 2,7% que ficou abaixo da média esperada para o ano, de 3,5%. O PIB é uma variável de fluxo, ou seja, sua contabilização é pontual (trimestre a trimestre) e não sobre um estoque passado. Diante disso, listamos alguns fatores que embasam nosso cenário, a saber:
i) o crescimento da economia está relacionado com o setor externo, principalmente na área de bens de capital (basicamente máquinas e equipamentos agrícolas) e bens de consumo duráveis (basicamente automóveis). Entretanto, o bom desempenho observado nos primeiros meses do ano não deverá se repetir nos que virão, pois o setor da agricultura praticamente já se abasteceu de equipamentos para realizar a colheita deste ano - que ocorre em maior intensidade no terceiro trimestre. Outro fator é o aumento dos juros nos Estados Unidos, esperado para ocorrer no dia 30 de junho de 0,25 ponto percentual. Este deverá impedir, ainda que de forma modesta, o crescimento do consumo, portanto, afetará a produção doméstica.
ii) há ainda o interesse do governo chinês de desacelerar o crescimento de mais de 9% para algo em torno de 7%, fato que coloca em alerta os produtores nacionais que exportam para a China, pois dificilmente haverá alguém que trabalhará com um crescimento de 9%, diante do risco não desprezível de acumular estoques indesejáveis.
iii) com a manutenção dos juros domésticos (Selic) até agosto (inclusive), pois a inflação (IPCA) entra em trajetória ascendente daqui em diante, espera-se um arrefecimento nos próximos meses. Com isso, os setores voltados ao crédito, que são justamente os setores, que estão carregando a economia nas costas, além é claro da agropecuária, continuarão em compasso de espera.
iv) nível de renda e emprego ainda baixos, fato que mantém o consumo das famílias em nível moderado de crescimento – o consumo das famílias representa aproximadamente 60% do PIB. Com isso, a demanda interna é reduzida, afetando diretamente os setores de bens de consumo duráveis e semi e não duráveis que representam aproximadamente 1/5 da produção industrial.
Dessa forma, acreditamos que, no contexto atual, tanto nossa projeção de 3,1% de crescimento do PIB quanto a projeção do governo de 3,5% dificilmente serão atingidas. Logo, muito provavelmente faremos nova revisão para baixo do crescimento econômico brasileiro para este ano.
Créditos: Alexsandro Agostini Barbosa é economista da Global Invest