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A celebração da catarse

02 abr 2004 às 11:00
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Reuniões de bandas consagradas são sempre uma incógnita. Embora alguns retornos dêem certo, como as voltas do Television, que se reagrupou e lançou um disco elogiado nos anos 90, e dos Buzzcocks, a crítica e os fãs de rock sempre preferem se apegar às reuniões que deram resultados constrangedores (Sex Pistols, The Who) para apregoar que bandas simplesmente não devem voltar.

No ano passado, os Stooges bancaram uma semi-volta: fizeram alguns poucos shows pelos Estados Unidos e gravaram quatro faixas que eram a única coisa que prestava em "Skull Ring" (2003), último disco de Iggy Pop. Analisado friamente, o retorno talvez não poderia ser considerado oportunista. Afinal, entre o final dos anos 60 e o começo dos 70, os Stooges sempre foram um fracasso de vendas, ainda hoje desfrutam do status de banda cult e Iggy Pop só foi atingir o estrelato quando entrou em carreira solo.

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Mas a crise de popularidade que vinha assolando o cantor justificou plenamente a volta de sua banda original – que, sim, fez com Iggy voltasse a ficar sob os holofotes após amargar um semi-ostracismo. Previsivelmente, o melhor produto a brotar da reunião não foi "Skull Ring", mas este DVD "Live In Detroit" (MVD – importado), lançado nos Estados Unidos na semana passada. O vídeo traz o show mais importante da diminuta série de apresentações que os Stooges fizeram no ano passado, com uma performance em 25 de agosto no DTE Energy Music Theatre, em Detroit.

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Era a primeira vez em 29 anos que os Stooges se apresentavam na cidade que ficou conhecida como sua terra natal, apesar de não o ser – a banda foi formada em Ann Arbor, cidade nas cercanias de Detroit. A formação do grupo se aproximava o máximo possível da original: Iggy, os irmãos Ron (guitarra) e Scott Asheton (bateria), com Mike Watt, ex-Minutemen, tocando as linhas de baixo de Dave Alexander, morto nos anos 70. As canções da segunda fase da banda, quando James Williamson assumiu a guitarra e relegou Ron ao baixo, foram solenemente ignoradas – Iggy e os companheiros simplesmente não suportam o guitarrista (cuja participação na reunião, óbvio, sequer chegou a ser cogitada).

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A expectativa pela apresentação em Detroit tinha sido aumentada por um adiamento do show, que deveria ocorrer no dia 14 de agosto, mas um blecaute naquela região justamente no dia da apresentação cancelou o espetáculo. No dia 25, a banda tocou todas as músicas dos álbuns clássicos "The Stooges" (1969) e "Funhouse" (70), exceto "We Will Fall" e "Ann", mais a faixa-título de "Skull Ring". Com um repertório desses na mão, os Stooges não tinham como fazer feio, e a presença de Iggy Pop é sempre uma garantia de que não há chance de haver um show meia boca.


Catártica, a apresentação faz lembrar que muitos dos conceitos de pandemônio em shows de rock foram criados pelos Stooges. Incansável, Iggy provoca a platéia com palavrões e gestos obscenos, dança freneticamente, sobe nos amplificadores e simula o ato sexual, se atira no público. Ron e Scott, com aquele ar de "eu já vi tudo isso antes", apenas sorriem de canto de boca e se esforçam em tocar suas partes corretamente.

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Em andamento mais acelerado do que nos discos, pérolas como "Loose", "Down On The Street", "1969" e "I Wanna Be Your Dog" (tocada duas vezes) são aulas de primarismo em rock que nunca envelhecem. Em "Real Cool Time", o caos se instala – dezenas de pessoas invadem o palco e tentam tomar o microfone de Iggy. A multidão permanece até a canção seguinte, "No Fun", o clássico-mor do tédio adolescente, que confere ao show ares de celebração.


Pouco depois, quando os seguranças dispersam a turba, o saxofonista Steve Mackay, que colaborou com a banda nos anos 70, aparece para recriar "Funhouse" e fazer breve citação de "LA Blues". Ele permanece no palco até o fim do show, que, para o padrão Stooges, termina da forma mais família possível: sem quebradeira, com Iggy gritando "I fucking love you!" repetidas vezes.

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"Live In Detroit" só não é perfeito porque os extras são muitos fracos: resumem-se a uma apresentação morna e mal gravada dos três integrantes originais numa loja de discos em Nova Iorque, a opção de ouvir algumas músicas do show em Detroit legendadas, um depoimento de Mike Watt, uma galeria de fotos da banda e um mini-arquivo de amostras de outros DVDs da MVD. Tudo para encher lingüiça, bem diferente do já histórico show de 25 de agosto. Se todo retorno de banda for assim de agora em diante, a volta dos Pixies vai ficar longe de decepcionar.


LANÇAMENTOS

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Frank Black and The Catholics – "Show Me Your Tears" (Sum)


Um pouco antes de decidir levantar um troco com o retorno dos Pixies, Frank Black tentou uma última vez convencer o mundo de que ainda era um gênio com "Show Me Your Tears", seu nono disco depois do fim dos duendes. Não conseguiu, é claro. Com aquela mistureba de rock tradicional, country e blues bêbado que vem caracterizando os últimos discos do cantor e guitarrista, o disco até que é um dos melhores da carreira solo de Black – com destaque para as faixas "Nadine" e "Horrible Day" – mas, como de costume, não chega aos pés dos melhores momentos dos Pixies. O mundo anda precisando de Black Francis, e não de Frank Black.
Para quem gosta de: Últimos discos do Guided By Voices, "Trompe Le Monde", dos Pixies.


Mau Sacht – "#1" (Brazilbizz Music/Tratore)

Primeiro lançamento do selo paulistano Brazilbizz Music, este disco de estréia do DJ e produtor Mau Sacht se filia à categoria chill-out: música eletrônica de andamento moderado, adequada para a desaceleração pós-rave. Com uma produção enxuta, quase sem vocais, com instrumentos "orgânicos" misturados aos beats, o saldo final é simples e despretensioso. Numa enxurrada de levadas macias, sobressaem-se as belas "H.A.L." e "Road #1". Boa surpresa.
Para comprar: www.brazilbizz.com.br.
Para quem gosta de: Faixas instrumentais do Air, DJ Shadow, últimos discos do Moby.


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