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Avalanche de barulho limpo

22 jun 2003 às 13:38

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Fala a verdade: poderia existir no mundo gol mais feito do que o Metallica teria que marcar com este "St. Anger" (Universal)? O décimo álbum da banda americana é o lançamento mais aguardado do rock pesado em anos – a expectativa pelo trabalho ofuscou até mesmo a popularidade de nomes recentes do gênero, como Korn e Linkin Park, que são amados com uma devoção que a turma de James Hetfield (vocalista e guitarrista) parecia incapaz de despertar novamente.

Pois "St. Anger" está lá, batendo recordes nas paradas. Não é difícil de entender tamanho frisson: há quatro anos o Metallica não lançava um disco; há seis não soltava um trabalho com músicas inéditas; a saída do baixista Jason Newsted, há pouco mais de dois anos, e a internação de Hetfield numa clínica de recuperação deram aos fãs a sensação amarga de que a coisa tinha ido para o vinagre. Se o Metallica voltasse, era inevitável que fosse aclamado com entusiasmo. Era possível que os fãs engolissem até um novo "Load", fracasso lançado há sete anos.

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Pois "St. Anger" surpreende por reafirmar a crença do Metallica no rock pesado, estilo musical que a própria banda havia tentado sepultar no álbum de 1996 e em seu igualmente fraco sucessor, "Reload", do ano seguinte, à base de rostos maquiados, figurino da moda e tentativas de escapar musicalmente do gueto heavy metal.

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Não se trata, entretanto, de volta ao passado. Nem na época primal de "Kill ‘Em All" (1983), o primeiro álbum, o Metallica soava tão agressivo ou simplório. Hetfield e Kirk Hammett (guitarrista) parecem ter sofrido de amnésia e esquecido como compor os dedilhados e riffs elaborados do Álbum Preto, de 1991, que transformou a banda em campeã de vendas. Tudo é pesado, ameaçador, monocórdico. Sem nenhum solo de guitarra (acredite) e com pouco espaço para melodia.

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A primeira música, "Frantic", é disparada a melhor do CD, porque é a que mais se aproxima de algo pop. Mas não deixa de causar susto: abre de forma avassaladora, com batidona hardcore quadrada e riffs de puro thrash metal. Aí, cai no fraseado ameaçador que será a base do refrão. A voz de Hetfield está irreconhecível – lembra um Max Cavalera menos gutural. São quase seis minutos de heavy metal puro sangue. Aí, justamente por privilegiar o rock pesado ortodoxo, "St. Anger" vira tortura para ouvidos não-treinados.


O tédio que o resto do repertório provoca é tão grande quanto o despertado por um disco do My Bloody Valentine em quem não conhece indie, ou por uma discotecagem do Orbital para quem não sabe diferenciar os inúmeros rótulos da música eletrônica, tão mortal quanto a modorra despertada por um show de Ivan Lins para quem não deseja desesperadamente defender a alegada superioridade da música brasileira.

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O novo Metallica guarda mais relações com ídolos da seara thrash metal, como Slayer e Anthrax, praia chatinha da qual já fez parte e conseguiu se distanciar, do que com a banda que soube transpor a fronteira do underground nos hits "Enter Sandman" e "The Unforgiven". Às vezes, incomoda menos, nas aceleradas "Dirty Window" e "Shoot Me Again". Mas na maioria dos casos torra de vez, teoria comprovada, por exemplo, nos oito minutos e meio de "Some Kind Of Monster", um museu tedioso de riffs, ou no torturante encerramento, "All Within My Hands".


O quarteto (agora com Robert Trujillo, ex-Suicidal Tendencies, no lugar de Newsted – o produtor Bob Rock tocou baixo nas gravações) em certos momentos quase engana o comprador e se aproxima da banda pop – sem que isso significasse menos peso – que já foi no começo dos anos 90, como na choradeira breve da faixa-título ou na guitarra dedilhada que introduz "The Unnamed Feeling". Quando você começa a gostar de "St. Anger", entretanto, tudo é soterrado por uma avalanche de barulho limpo.

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Difícil dizer em que ponto dos últimos quatros anos o Metallica se tornou uma banda quase que completamente diferente. "St. Anger" deve seguir vendendo bem enquanto a curiosidade pela volta do grupo continuar fisgando os leigos em rock pesado, mas se o que vier na seqüência perseguir a mesma nota aqui sugerida, a volta da turma de Hetfield ao underground é mera questão de tempo.


Não que isso pareça incomodar, claro. "Esse é o meu mundo / e você não pode mandar nele, otário", aponta o vocalista, em "My World". Sintomático? Sinta só em "Invisible Kid": "eu estou bem / apenas vá embora". Fica à vontade, tio.

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LANÇAMENTOS


Pitty"Admirável Chip Novo" (Deckdisc)

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É por causa de discos como este, o primeiro trabalho solo da ex-vocalista da banda baiana Inkoma, que o adepto das FMs às vezes chega à conclusão de que o rock nacional é uma arte perdida. Pitty se vale das piores referências estrangeiras (new metal, as barangas do riot grrrl) para forjar som pesado com letras que tentam dizer alguma coisa. Quando quer passar "mensagens", a moça na verdade passa ridículo, como nos refrões auto-ajuda das péssimas "Máscara" ("seja você / mesmo que seja estranho") e "Teto de Vidro" ("quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra"). Mas se sai ainda pior quando tenta ser romântica, como na constrangedora "Equalize" ("eu vou equalizar nós dois/ numa freqüência que só a gente conhece"). Até Rodox consegue ser melhor.


Para quem gosta de: Tihuana, O Surto, Charlie Brown Jr.

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Idlewild"The Remote Part" (EMI)


O Idlewild já foi uma das melhores bandas do superestimado rock escocês, mas infelizmente caminha a passos largos para a burocracia total. Se em seu primeiro álbum, "Hope Is Important" (1998), o quarteto tocava punk divertido e inconseqüente, a partir do segundo, "100 Mirrors" (2000), começou a juntar som pesado com lamúrias, como se os Smiths se arriscassem no emocore. Se no anterior ainda extraía pérolas em meio à choradeira, em "The Remote Part" o Idlewild emociona pouco e chateia muito. Salvam-se as duas primeiras, "You Held The World In Your Arms" e "A Modern Way Of Letting Go", mais "(I Am) What I Am Not".

Para quem gosta de: Sebadoh, Jimmy Eat World, emocore.


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