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A trilha sonora da sua vida

13 out 2003 às 10:59
Strokes (Julian Casablancas na extrema direita): 33 minutos impecáveis - Reprodução
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O disco vazou inteiro na rede, o lançamento está aí (20 de outubro em todo o mundo, exceto nos Estados Unidos, onde o disco só sai uma semana depois), então prepare-se para ler muito sobre "Room On Fire", o novo dos Strokes. Aguarde teorias vazias sobre a expectativa e a responsabilidade do segundo disco. Espere análises sociológicas sobre a importância do álbum na cronologia do chamado novo rock (a turma de Interpol, White Stripes, Yeah Yeah Yeahs) e outras baboseiras. Depois trate de esquecer tudo. São onze faixas que não precisam de bula.

Analisado apenas pelo viés musical, "Room On Fire" impressiona pela falta de qualidade técnica. Em certos momentos, os Strokes parecem tocar ainda pior do que em "Is This It" – confira o solo de "I Can’t Win". São só 33 minutos, e eles precisaram de dois anos para compor isso. As onze faixas são tão urgentes que parecem que foram gravadas ao vivo numa garagem, mas foram necessários meses no estúdio. E os Strokes não gastaram fita com nenhuma outra música além do repertório do disco – os singles serão preenchidos com versões ao vivo e demos. Em resumo, são músicos amadores fazendo rock tosco. Isso tem aos montes por aí. O que faz a diferença? Que credenciais os Strokes ostentam a ponto de se permitirem dispensar o melhor produtor da atualidade, Nigel Godrich (Radiohead, Travis, Beck)?

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As melodias luminosas do vocalista Julian Casablancas. Aqui, elas sustentam brilhantemente a bateria de Fabrizio Moretti, que se aproxima cada vez mais do estilo Moe Tucker (indo muito pouco além da marcação do ritmo), linhas de baixo "retas" e riffs de dois acordes. Não é necessário mais do que vinte segundos para entender como essa diferença transforma uma mera banda de garagem numa das melhores do rock atual: o disco começa com "What Ever Happened?", introduzida por uma batida meio tribal.

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Logo em seguida, o ritmo é quebrado por um enxame de guitarras, sobre o qual Casablancas se estrebucha: "eu quero ser esquecido/ e não quero ser lembrado". Reação radical ao hype? Tanto faz. Com canções ainda mais enxutas do que as de "Is This It", "Room On Fire" não tem uma faixa ruim. O nível da abertura é magistralmente mantido em "Reptilia", com o melhor riff do álbum, e sensacionais gritos na segunda parte: "o quarto está pegando fogo!". Genial.

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Aqui e ali, os Strokes flertam com tendências que não estavam presentes no primeiro disco, como o reggae, nas graciosas "Automatic Stop" (do refrão: "eu não vou te dar descanso/ eu não sou seu amigo") e "Between Love & Hate" (outra com estribilho espírito de porco: "eu nunca precisei de ninguém"), ou o soul, na maravilhosa "Under Control", pra dançar juntinho. "Eu não quero mudar sua opinião/ não quero gastar seu tempo/ só quero saber se você está bem": como o pop é delicioso quando assume seus clichês.


O primeiro single, "12:51", é um clássico instantâneo para festinhas indie, com teclados new wave e batida pra chacoalhar as cadeiras. No meio destes corpos estranhos, típicas faixas strokenianas, como "Meet Me In The Bathroom", "The Way It Is" e "You Talk Way Too Much". Como fecho de gala é especialidade da casa (quem lembra de "Take It Or Leave It"?), quem faz o encerramento é "I Can’t Win", que, com solo ruim e tudo, vai concorrer na lista de melhores músicas do ano. O riff de dois acordes, entoado por guitarras límpidas, dá pontadas na aorta à primeira audição.

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No fim, ainda escorado na tríade Velvet Underground, Stooges e Smiths, os Strokes mostram a beleza da inabilidade, a força primal que reverbera por corações adolescentes e que costuma ser chamada de rock. Haverá muita teorização sobre algo tão simples. Haverá os narizes torcidos de praxe, daqueles mesmos jornalistas que recusam hypes no atacado para mostrar "personalidade". "Room On Fire" vai além dessas questões mesquinhas. É parte da trilha sonora da sua vida. Você não tem idéia do quanto sua mente vai ser invadida por lembranças daqui a dez anos quando você ouvir aquela introdução: "there was you, upon the mountain..."



Lançamentos

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Desert Sessions"Volume 9 & 10" (Ipecac - importado)
Josh Homme, guitarrista e vocalista do Queens Of The Stone Age, já declarou que não consegue viver longe da música. Além de suas atividades na banda-mãe, vez ou outra ele se tranca no estúdio com convidados e grava as chamadas Desert Sessions, onde arrisca experimentalismos e canções que às vezes são aproveitadas no Queens (músicas como "Avon" e "Hangin’ Tree" foram registradas antes nas Sessions). Esta é a empreitada mais ambiciosa da série, já que traz os convidados mais ilustres: PJ Harvey, Twiggy Ramirez (ex-baixista de Marilyn Manson), Josh Freese, Dean, do Ween, entre outros. Este time e Homme compuseram e gravaram 14 músicas em menos de uma semana. O tempo-recorde deixa evidente a falta de critério: instrumentais sem sal, como "Covered In Punk’s Blood" e "Subcutaneous Phat", e arremedos de canções como "Holy Dime" não empolgam. Mas "Volume 9 & 10" (apesar de não ser tão bom quanto os volumes 7 e 8, lançados em 2001) paga o ingresso na sexy "I Wanna Make It Wit Chu" (ideal para o xaveco) e na maioria das faixas cantadas por PJ, vide "There Will Never Be A Better Time", "Crawl Home" (épicas) e "Powdered Wig Machine".


Para quem gosta de: Queens Of The Stone Age, Ween, Vermes do Limbo.

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Super Lisa"Super Lisa" (Independente)
Este é um projeto da cantora Clarisse Grova e do músico e produtor Felipe Radicetti, ambos do Rio de Janeiro e de currículo dentro da MPB. Clarisse chegou a gravar com César Camargo Mariano e Aldir Blanc, enquanto Radicetti trabalhou com Oswaldo Montenegro, Lô Borges e Cláudio Nucci (Boca Livre). Em Super Lisa, a dupla junta MPB com batidas eletrônicas, num resultado fiel às referências citadas e às intenções declaradas em "O Tal Trem", que reverencia "Caetano, Buarque e Noel", "a voz de Elis", e saúda Tom Jobim como "nosso mestre". Gente fã de MPB, como Ruy Castro e o jornalista Tárik de Souza, gostou.


Para comprar: www.superlisaonline.com.

Para quem gosta de: Kaleidoscópio, Fernanda Porto, MPB da Trama.


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