Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade

A volta do sonho

30 jan 2004 às 10:59

Compartilhar notícia

siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

A música produzida pelo Air sempre foi associada à palavra "sonho". Os produtores-compositores franceses Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel misturam toques eletrônicos discretos e vocais taciturnos e delicados muitas vezes reprocessados no computador com instrumentos analógicos, doçura melódica e contida inspirada na música de seu país e na bossa nova, e letras de amor. Apesar de classificada sob o rótulo "eletrônica", sua música está tão próxima da obra de Nick Drake quanto da do Kraftwerk.

O ambiente de sonho, adequado a trilhas sonoras – tanto que a dupla já assinou duas -, ganhou tintas de rock progressivo no segundo álbum, "10,000 Hz Legend" (2001), um caleidoscópio sonoro onde era possível enxergar tons fortes de Pink Floyd. A crítica, que havia aplaudido de forma quase unânime a estréia, "Moon Safari" (1998), torceu o nariz, o que impregnou a expectativa pelo terceiro disco, "Talkie Walkie" (EMI), que chegou esta semana às lojas (Brasil incluso), de uma certa aura de redenção. "Air de volta à forma", saudou a resenha da revista inglesa Q.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


Ainda que a história não seja bem por aí (afinal, "10,000 Hz Legend" é um bom disco), "Talkie Walkie" tem realmente algumas vantagens em relação ao seu antecessor. É mais enxuto (apenas dez músicas), menos deslumbrado no experimentalismo e instrumentalmente mais econômico. A partir de composições simples e melódicas, Dunckel e Godin desenham uma atmosfera densa sem ser ameaçadora (ao contrário dos delírios prog do segundo álbum), rica sem fugir da sutileza pop.

Leia mais:

Imagem de destaque

Prêmio de consolação

Imagem de destaque

Semestre gordo

Imagem de destaque

Sem má vontade

Imagem de destaque

Item obrigatório


Para isso, encontraram parceiro adequado no produtor Nigel Godrich, o homem que pilotou todos os discos do Radiohead desde "Ok Computer" (1997) e que reabilitou Beck em "Sea Change" (2002), e que se especializou na pesquisa apurada de timbres que faz com que todos os artistas com que trabalha soem "espaciais". Considerando-se que o som do Air era alienígena de saída, a escolha do produtor não poderia ser mais acertada.

Publicidade


A presença de Dunckel e Godin na capa do CD é até sintomática, porque pela primeira vez os dois gravaram todos os vocais principais de um de seus discos (antes, havia presença considerável de convidados). O sonho começa de forma tensa, no piano de notas pontiagudas e na melodia solene de "Venus", que logo são sucedidos pela euforia do primeiro single, "Cherry Blossom Girl". Para dar um nó na cabeça de quem cataloga o Air como eletrônico, do primeiro ao último segundo a faixa é decorada por um... violão. Momento cantarolável e adesivo, como Aphex Twin ou Daft Punk nunca vão ser capazes de fazer.


No quesito trilha sonora, "Talkie Walkie" oferece as instrumentais "Mike Mills" e "Alone In Kyoto", esta última presente em "Encontros e Desencontros", festejado novo filme de Sofia Coppola (para quem o Air já tinha escrito a trilha de "As Virgens Suicidas", de 2000). De ressonância "10,000 Hz Legend", "Run" é o único momento dispensável do disco, com vocais adulterados repetindo insistentemente o título da música, e "Another Day" e "Biological" lembram que a faceta Pink Floyd do Air não está morta, apenas adormecida.

Publicidade


"Alpha Beta Gaga", "Universal Traveler" e "Surfing On A Rocket" completam o sonho: a primeira escancara a janela de onde é possível visualizar o sol em "Talkie Walkie", ao se escorar totalmente num desavergonhado assobio. A segunda faz o ridículo termo chill-out (o relaxamento pós-balada dos ravers) fazer sentido e a terceira coloca um refrão festivo e simples para resgatar a melodia tristonha dos versos.


"Talkie Walkie" acaba sendo realmente uma volta do Air, sem que isso necessariamente signifique que a dupla está melhor ou não do que há três anos: apenas é um retorno de Dunckel e Godin à sonoridade que nos ensinou a reconhecê-los, na fase "Sexy Boy" e "All I Need" (faixas de "Moon Safari"). Mas mesmo quem não tiver ciência prévia pode chegar – 2004 nem chegou ao final de seu primeiro mês e já tem um de seus grandes discos.

Publicidade



LANÇAMENTOS


The Stills – "Logic Will Break Your Heart" (Vice – Importado)

Publicidade


A audição de qualquer faixa da estréia deste quarteto de Montreal, Canadá, permite a conclusão: os shoegazers, afinal, não morreram. A exemplo de Ride, Lush, Chapterhouse e outras bandas britânicas bundas-moles do início da década passada, os Stills gravam rocks com guitarras ora límpidas e melódicas, ora empapuçadas de esporro dissonante, quase sempre em tons menores. As vantagens do grupo são os bons vocais (e não os mugidos incompreensíveis dos shoegazers tradicionais) e composições melhores, que infelizmente ainda não são suficientes para salvar o disco. "Ready For It", "Still In Love Song" e "Yesterday Never Tomorrows" são ilhas num oceano de canções apenas "passáveis".


Para quem gosta de: Travis, Ride, Teenage Fanclub.

Publicidade



Extromodos – "Pra Ficar" (Fan Music)


Trio curitibano formado pelo vocalista e guitarrista Bira Ribeiro, o baixista André Becker e o baterista Álvaro Jr., os Extromodos chegam ao primeiro álbum propriamente dito, após uma demo. O disco é distribuído pela Fan Music, um dos poucos selos independentes (o único?) do pop paranaense. Em contraponto às garagens ruidosas da capital, os Extromodos gravam rock radiofônico, recheado de violões, vocais bem pronunciados e letras que se pretendem existenciais, tudo na linha de grupos estrangeiros contemporâneos como Matchbox Twenty ou Goo Goo Dolls, ainda que soe mais pesado aqui e ali, como em "Sexo de Almas". Com potencial para agradar alguma gravadora grande.

Publicidade


Para quem gosta de: Matchbox Twenty, Goo Goo Dolls, Leoni.



DICA 1


Está no ar a terceira edição da revista eletrônica Londrina Stereo (http://www.londrinastereo.dilk.com.br). No cardápio, matérias direcionadas ao rock independente: Betty By Alone, Grenade, Autoramas, Espíritos Zombeteiros, além de corpos estranhos como DJ Patife e um especial sobre moda e música. Bem escrita e feita com tesão, vale a visita.



DICA 2

No dia 3 de fevereiro, rola no bar Valentino a segunda edição da Terça Tilt, festa do rock alternativo pilotada por este colunista e pelo colega Claudio Yuge (o homem dos quadrinhos, na barra aí do lado). A partir desta, a farra passa a ser quinzenal: dia 17 tem mais, e de março em diante continua... Desnecessário dizer, pinta o fino: Sonic Youth, Pavement, Weezer, Los Hermanos. A partir das 21 horas, no bar Valentino (Avenida Bandeirantes, perto do Moringão). Entrada franca.


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade
LONDRINA Previsão do Tempo