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Autoramas retificados

22 ago 2003 às 18:09

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Bacalhau, Simone e Gabriel no Japão: acertando menos do que de costume - Reprodução
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A existência dos Autoramas é algo a ser comemorado pelo pop nacional, diga-se. O trio carioca é uma das poucas bandas de rock do país que transitam por aquela corda bamba tênue entre o mercadão e o underground, seara cujos representantes podem ser contados nos dedos (Los Hermanos, Pato Fu...), mas que trazem a esperança de que a boa música entre nas rádios ou ao menos alcance a sobrevivência que merece.

A banda lança agora "Nada Pode Parar os Autoramas", seu terceiro disco, cuja trajetória heróica vem recebendo mais destaque nas resenhas do que as músicas que o compõem. Gabriel Thomaz (voz e guitarra), Simone do Vale (baixo) e Bacalhau (bateria) tinham soltado seus dois primeiros discos pela gigante Universal, que praticamente condenou os dois trabalhos ao fracasso comercial com distribuição e divulgação incompetentes.

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Sem dinheiro, a banda foi registrando canções com produtores amigos (sete, no total) e lentamente foi constituindo o repertório de "Nada Pode...". Por fim, fecharam o lançamento com o selo goiano Monstro Discos, a única gravadora independente do Brasil que se aproxima de algo "grande". Moral garantida entre as platéias alternativas graças aos perrengues para registrar sua música e à pequena projeção no exterior (com turnê no Japão), os Autoramas poderiam ter gravado qualquer coisa. Não chegaram a fazer isso, mas erraram muito.

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"Nada Pode..." é o disco menos inspirado da breve história do grupo. Aqui, o trio se arrisca a envelhecer fazendo rock básico – e a fórmula guitarra-baixo-bateria pode ser mágica, mas é necessário muito esforço para não cair na repetição exagerada. Gabriel ainda continua escrevendo letras espertas, que ora optam pela ironia ferina ("você acha que fez do melhor jeito/ mas não estou satisfeito/ poderia ter feito melhor", aponta a hilária "Rei da Implicância") ou pelo baladismo ingênuo, à Jovem Guarda (grande influência), mas está acertando menos do que de costume.

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Prova disso é a chata "Nada A Ver", de refrão infantil e irritante que apenas varia sobre o título da canção. A forma como Gabriel e Simone cantam a música, aliás, denuncia um dos maiores defeitos dos Autoramas: desafinação pode ser tolerada dentro do rock, mas até o limite da paciência. Essa falta de cuidado naufraga faixas de qualidade como "O Inferno São os Outros" e "Beleza".


De resto, o disco é um típico registro dos Autoramas, com todas as (boas) influências facilmente detectáveis. "Megalomania" traz um riff potente à Mudhoney, e a surf music se faz presente na ótima instrumental "Multiball". Os Pixies rondam "Resta Um", até na interpretação de Simone, que lembra Kim Deal, e o já citado iê-iê-iê brasileiro dos anos 60 se faz sentir na excelente "Música de Amor", um power pop no jeito que traz um refrão deliciosamente bobo como só o rock se permite ser: "eu te amo tanto/ você não imagina quanto".

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É a única faixa de "Nada Pode..." que justificaria sua presença numa hipotética coletânea dos Autoramas, o que indica o quanto as coisas não deram certo. Por mais complicado que seja criticar uma banda corajosa assim, é preciso esperar para ver se Gabriel, Simone e Bacalhau conseguem arregimentar um novo repertório que seja mais próprio à sua digna carreira.



Lançamentos

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Hives"Barely Legal" e "Your New Favourite Band" (Trama)


Entusiasmada pelo relativo estouro de "Hate To Say I Told You So", a Trama lança no Brasil mais dois discos dos suecos do Hives. "Barely Legal" é o primeiro álbum da banda, de 1997, e traz 14 tijoladas insanas. O disco foi lançado no exterior pelo selo Burning Heart, especializado em punk rock, então as influências moicanas estão presentes até em excesso. Muitas faixas não chegam aos dois minutos, e nenhuma passa dos 180 segundos. Os Hives ainda engatinhavam e faziam antes mais barulho do que as gemas pop de "Veni Vidi Vicious" (álbum de 2000, que traz "Hate To Say..."), mas o disco vale pela divertida "Automatic Schmuck", que adiciona guitarras de surf music à gritaria. "Your New..." é uma coletânea de doze faixas lançada em 2001 pelo selo inglês Poptones. Traz três músicas não incluídas nos dois álbuns dos Hives, mais quatro clipes para ver no computador. Serve como apresentação.

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Para quem gosta de: Ramones, Sex Pistols, Strokes.


Buzzcocks"Buzzcocks" (Trama)


"Buzzcocks" é o lendário quarteto inglês liderado pelo tiozinho Pete Shelley fazendo o que sabe fazer melhor: punk rock com melodias assobiáveis, com uma qualidade que muita molecada de hoje em dia não anda conseguindo alcançar. É o melhor disco de inéditas da banda em anos, e o primeiro lançado pelo grupo desde a bem-sucedida turnê brasileira em 2001 (que passou por Londrina). O espírito 77 está presente até na capa, tosquíssima. Por alguma razão, as melhores faixas são ímpares: a cinco, "Driving You Insane", traz um refrão tão perfeito que vai levar a música a qualquer lista de melhores de 2003. A sete, "Sick City Sometimes", e a nove, "Certain Move", trazem pauleira com choradinhas no ponto certo – emocore, uma ova. Uma aula.

Para quem gosta de: Weezer, Strokes, Cherry Bomb.


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