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Microfonia fora da elite

28 nov 2003 às 13:40
Sharin Foo e Sune Wagner: inspiração no Jesus And Mary Chain - Reprodução
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Quem diria, os Kings Of Leon, oriundos da jacu Nashville (a terra do country), não são a banda do chamado novo rock que surgiu do local mais improvável. O título cabe à dupla Raveonettes, vindos da Dinamarca, nação de currículo musical tão obscuro quanto sua própria história – que referências você tem daquele país além do futebol dos irmãos Laudrup? Formada pelo cantor, guitarrista e compositor Sune Rose Wagner e pela baixista e vocalista Sharin Foo, a banda lança agora seu álbum de estréia, "Chain Gang Of Love" (Sony).

A exemplo de seus companheiros de geração, originalidade não é o forte dos Raveonettes. Se é impossível resenhar disco dos Strokes sem citar Stooges e Velvet Underground, ou falar de White Stripes sem lembrar de Led Zeppelin, Wagner e Foo mergulham numa referência mais recente: o rock barulhento e soturno da banda escocesa Jesus And Mary Chain, razão de ser de oito em cada dez bandas indie brasileiras nos anos 90. No EP de estréia, "Whip It On" (2002 – este não saiu no Brasil), essa influência era mais nítida, dada a languidez das melodias, a agressividade das guitarras e a melancolia das composições.

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Em "Chain Gang Of Love", houve uma sensível alteração. Wagner, que escreve as músicas da dupla (aliás, é difícil deixar de apontar a gafe: jornalista especializado em música de revista semanal de informação há mais de trinta anos no mercado achou que Sune era a loiríssima Foo, e passou uma resenha inteira descrevendo a baixista como a "cabeça" dos Raveonettes – apenas porque o segundo nome do guitarrista é Rose. Nome de mulher, só pode ser mulher, entende?), direcionou a tempestade de guitarras infestadas de microfonia para as melodias ingênuas dos primórdios do rock, alegrinhas e propícias à marcação com palminhas (como acontece na terceira faixa, "Noisy Summer").

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Também deixou em evidência os timbres de surf music de sua guitarra e deu a "Chain Gang Of Love" um inesperado clima de festa à noite na praia. Como resultado, os Raveonettes soam ainda mais retrô do que na estréia. Nas contas, a dupla oferece dois hits certeiros para as pistas indie, o primeiro single, "That Great Love Sound" (tão contagioso que rendeu clipe que pode ser visto até em emissoras que não gostam muito de música, como a MTV), e "Heartbreak Stroll", de deliciosa paradinha.

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Ainda na praia saudosista, "Little Animal" cita "Stand By Me", o clássico absoluto de Ben E. King mais conhecido na voz de Lennon, e a ótima "Love Can Destroy Everything", deliciosamente datada e de melodia romanticamente desesperançada, corre o risco de agradar o pai de todo mundo. Mas com apenas 33 minutos, "Chain Gang Of Love" é uma daquelas obras de onde é difícil arrancar destaques, dada a linearidade do repertório.


Aqui começam os problemas: faixas muito parecidas entre si, o que torna a audição um tanto enjoativa, apesar do pouco tempo de música. "Whip It On" também sofria desse mal, mas suas melodias, ainda que cinzentas, eram melhores. "Chain Gang Of Love" tem momentos de adorável ingenuidade, mas às vezes beira o banal. O anterior também ostentava as vantagens de soar menos datado e mais agressivo, além de usar a microfonia de forma mais responsável – recurso popularizado pelo Mary Chain que acaba estragando algumas faixas do novo disco.

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Dessa forma, nada em "Chain Gang Of Love" é tão empolgante quanto "Do You Believe Her" e "Beat City", as melhores músicas de "Whip It On". Fica um bom disco do tal novo rock, mas que certamente não pertence à elite dessa safra.



LANÇAMENTOS

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Mogwai – "Young Team" (Trama)


Lentamente, a Trama vai atualizando no Brasil toda a discografia da banda escocesa Mogwai (agora só falta o último, "Happy Songs For Happy People", lançado este ano), grupo que popularizou o chamado pós-rock. Traduzindo: faixas instrumentais repetitivas e extensas, com crescendos estratégicos e quase sem vocais. "Young Team" é o álbum de estréia do Mogwai, lançado originalmente em 1997. Ainda engatinhando, a banda não atinge a concisão dos dois álbuns posteriores, "Come On Die Young" (99) e "Rock Action" (2001), os melhores de sua carreira, mas acerta mais do que erra. Os destaques são as belíssimas instrumentais "Tracy", "Summer" e "A Cheery Wave From Stranded Youngsters", que parecem trilha sonora, além de "R U Still In 2 It", esta com vocais de Aidan Moffat – cantor do Arab Strap, outra banda escocesa que se apresenta sem encarar a platéia.

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Para quem gosta de: Tortoise, My Bloody Valentine, Slint.



Rogério Skylab – "Skylab IV" (Independente)


Apesar do título, este é o quinto álbum do cantor e compositor carioca underground Rogério Skylab. Desde o início da década passada, ele solta discos em que sonoridades e melodias são secundárias – seu (reduzido) público foi fisgado pelas letras desconcertantes, que abordam qualquer tipo de assunto (necrofilia, escatologia) desde que o resultado seja escroto e perturbador. Em "Skylab IV", há suingue quase black, punk rock, textos declamados e baladões setentistas, emoldurando a chinelagem de sempre, entoada por um fraseado que lembra os discos recentes de Lobão. O único escorregão é "Eu Quero Saber Quem Matou", que cita malditos como Jards Macalé e Chacal, como se Skylab reivindicasse entrada no clube. Maldito bom, como é notório, não bajula ninguém.

Para quem gosta de: Lobão, Ween, projetos paralelos de Mike Patton.


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