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O Homem de Preto ainda em forma

05 set 2003 às 10:59
Cash no estúdio: arranjos enxutos e covers inusitadas - Reprodução
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Johnny Cash ainda é o homem. Aos 71 anos, ele é praticamente o único veterano relevante da música pop, ao gravar discos que merecem ser apreciados pelas suas qualidades musicais, e não pela miopia da crítica reacionária e dos fãs apaixonados, que se negam a enxergar a derrocada de suas vacas sagradas. A Universal coloca agora nas lojas brasileiras mais uma prova, "American IV: The Man Comes Around", que havia sido lançado no exterior no segundo semestre do ano passado.

Como o título indica, trata-se do quarto disco da parceria de Cash com o produtor Rick Rubin – mais conhecido pelos seus trabalhos com gente do rock pesado, como Slayer e Red Hot Chili Peppers -, iniciada em meados da década passada. A série toda se caracteriza por canções registradas em arranjos enxutos, que raramente vão além do violão e piano, e por covers inusitadas, que deram ao septuagenário cantor um inesperado verniz alternativo.

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Ele já gravou músicas de artistas tão díspares quanto Soundgarden, Beck, Tom Petty, Nick Cave, Will Oldham e U2, quase sempre superando as gravações originais – quando Bono Vox ouviu a versão de "One" (presente em "American III: Solitary Man", de 2000), deve ter sentido vontade de se matar.

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Houve quem enxergasse nas interpretações solenes de "American IV" uma despedida de Cash, que vem enfrentando problemas de saúde, o que é um tanto exagerado. O cantor ainda grava countrys com entusiasmo de garoto, como em "Give My Love To Rose" e "Danny Boy", onde quase chega aos gritos. Mas, a exemplo dos trabalhos anteriores, o álbum decola mesmo quando Cash adota um tom introspectivo, amargo, de uma tristeza discreta como a foto da capa, com o cantor de olhos fechados, cabeça baixa, lábios cerrados.

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Exatamente por isso, a primeira metade do disco é superior à segunda. Na faixa-título, de inspiração religiosa, Cash machuca com o refrão poderoso, sublinhado por um dedilhado de piano letal. Em seguida, vem "Hurt", do Nine Inch Nails, que rendeu um belíssimo clipe que concorreu nas principais categorias do último Video Music Awards, e que demonstra a maior qualidade do cantor na hora de registrar músicas de outros: readaptar o tom ao seu vozeirão marcante, de tal forma que a melancolia dos versos soa própria. "Todo mundo que eu conheço/ vai embora no final", mastiga o refrão.


Ainda no quesito covers, Cash surpreende com a releitura de "Personal Jesus", do Depeche Mode, que vai ouriçar as orelhas dos ouvintes de FMs, e consegue atribuir sabores novos até a duas das canções mais manjadas de todos os tempos, "Bridge Over Troubled Water", de Simon e Garfunkel, e "In My Life". Se tia Rita Lee ouvisse o que Cash fez com o clássico dos Beatles, ia mandar queimar as fitas master de seu pavoroso CD de versões do quarteto de Liverpool.

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No fim, independente de ser constituído de covers ou não, "American IV" flui sem sobressaltos, guiado de forma segura por um intérprete ímpar. Cash até resgata uma gema da pior safra de Sting ("I Hung My Head"), adicionando-a a um conjunto de registros imortais. "First Time Ever I Saw Your Face" e "Desperado" soam etéreas, com aquela tristeza que não abate o ouvinte depressivo, e sim aponta a redenção.


Dá para esperar mais, felizmente – Rubin divulgou recentemente à imprensa que, entre o final deste ano e o começo do próximo, Cash deve lançar uma caixa de CDs com músicas registradas durante as gravações da série American e que nunca viram a luz do dia. O Homem de Preto ainda é o homem.

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Lançamentos


Jane’s Addiction"Strays" (EMI)

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Após o pseudo-retorno de "Kettle Whistle" (1997), uma coletânea de faixas ao vivo e sobras de estúdio de sua primeira encarnação, o Jane’s Addiction empreende uma volta autêntica, com disco inédito, Lollapalooza e tudo. Apenas o baixista Eric Avery, que brigou feio com o vocalista Perry Farrell, não topou participar. A abertura do disco assusta, com um riff new-metaleiro de Dave Navarro em "True Nature", o que faz lembrar a influência do Jane’s nessa nova onda do rock americano, de nomes como Linkin Park e Limp Bizkit, na junção de som pesado e psicodelismo. Mas logo entra a voz recheada de eco de Farrell e coloca tudo nos eixos. Entre a pauleira e a viagem, a banda oferece canções dignas da marca Jane’s Addiction, como a extensa "The Riches" e a orientalizante "Everybody’s Friend", que lembra Led Zeppelin, referência do quarteto desde sempre. No geral, ainda que não seja tão bom quanto os discos clássicos do grupo, "Strays" merece atenção por trazer uma banda veterana e importante ainda em forma.


Para quem gosta de: Mars Volta, Queens Of The Stone Age, grunges.

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Electric Six"Fire" (Sum)


É claro que não ia demorar pra alguém fazer a mistura: rock de garagem podrão com discoteca, no estilo do final dos anos 70. O Electric Six, de Detroit, a capital do rock tosco, faz música tanto para balançar a cabeça quanto a cintura, como se os punks invadissem os clubes onde John Travolta dava seus passinhos. A viagem rende pelo menos uma canção sensacional, "Danger! High Voltage!", que traz Jack White (White Stripes) nos vocais e já é hit em festinhas indie. Infelizmente, o resto do repertório é pouco mais do que uma boa piada, e as outras canções apenas reciclam de forma menos inspirada a excitação atingida na faixa citada. Exceto a ótima "Nuclear War", menos de um minuto e meio de pauleira mal-educada, e as calminhas "Synthesizer" e "I Invented The Night", de graciosa linha de baixo.

Para quem gosta de: White Stripes, KC & The Sunshine Band.


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