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Os salvadores do rock, classe 2004

13 fev 2004 às 11:00

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As coincidências entre as carreiras de Franz Ferdinand e Von Bondies são muitas. Ambas vêm de regiões festejadas pelas platéias indie – a primeira banda vem de Glasgow, Escócia, a segunda de Detroit, a pátria do rock de garagem. As duas estão entre as apostas da vez da imprensa inglesa para 2004: até fizeram parte da NME Awards Tour, excursão de poucas datas pelo Reino Unido promovida pelo semanário New Musical Express e que teve também The Rapture e Funeral For A Friend.

Ambas tiveram seus novos discos lançados na Inglaterra no mesmo dia, segunda-feira desta semana, sendo que os CDs saem no Estados Unidos também no mesmo dia – 9 de março. Lançamento brasileiro, por enquanto, está fora de cogitação. Ambas comungam no rock de garagem simples, sem virtuosismos, mas aí começam a tomar rotas diferentes. Enquanto o Franz Ferdinand vai na linha do art rock, com guitarras inspiradas nos anos 80, os Bondies optam pela pauleira tosca do underground americano.

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A banda escocesa sai na frente por já ter alcançado ecos de reconhecimento popular ao mesmo tempo em que atraiu a badalação da mídia. O primeiro single de "Franz Ferdinand" (Domino), o disco, "Take Me Out", chegou ao segundo lugar da parada inglesa e ingressos para a turnê britânica da banda vêm sendo disputados a tapa. Mas vale quanto pesa? É possível.

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Todas as onze faixas do disco empolgam e credenciam "Franz Ferdinand" à disputa de melhor álbum de estréia do ano. O trunfo do vocalista Alex Kapranos é uma ética inatacável: música para fazer garotas dançarem. Mesmo em seus momentos introspectivos, a banda (que, sim, "emprestou" para si o nome do arquiduque cujo assassinato foi o estopim da Primeira Guerra Mundial) transmite um senso de diversão e hedonismo pouco condizente com a sonoridade cinzenta típica de Glasgow, terra da bunda-molice roqueira.

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Quem se empolga com o rock dos anos 80 (Talk Talk, The Fall, New Order, Smiths, Blondie) ou com bandas que dariam tudo para terem surgido nos anos 80 (Interpol, Radio 4, Pulp) precisa conhecer Franz Ferdinand. Além das influências da década retrasada, sente-se uma pitada de "novo" rock nos riffs ameaçadores e grudentos de "Jaqueline" e "Cheating On You", recomendados para seguidores de Strokes e Libertines.


Mesmo tendo essa inclinação para a pauleira, entretanto, o Franz Ferdinand faz mesmo música pra dançar. "Take Me Out", "Tell Her Tonight", "Darts Of Pleasure": tudo tem cara de que vai bem em qualquer festinha indie. O encanto final fica nas letras de Kapranos, com aquela tradicional ironia britânica, onde mesmo os versos mais trágicos cheiram a tiração de sarro: "eu estou tão bêbado que não me incomodaria se você me matasse" ("Jaqueline"). Como exclamaria conceituado jornalista paranaense indicado ao Prêmio Esso: sen-sa-cio-nal!

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Os Von Bondies, ao contrário do Franz Ferdinand, não precisam de muita apresentação. Se você forçar a memória, vai lembrar quem eles são: aquela bandinha, cujo vocalista (Jason Stollsteimer) tomou uns sopapos de Jack White, num rolo que pode render ao cantor do White Stripes uma temporada no xadrez...


Os Bondies surgiram em 2000, e até meados do ano passado sua relação com outras bandas de Detroit era amistosa. White produziu o primeiro disco do quarteto, "Lack Of Communication" (2001), chamou a turma de Stollsteimer para alguns shows de abertura e namorou a guitarrista baranguinha Marcie Bolen. Em determinado momento, as relações entre os dois grupos se tornaram hostis.

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Aparentemente, Stollsteimer andou alfinetando outras bandas de Detroit em entrevistas e afirmando que nunca tinha gostado da produção de "Lack Of Communication". White, por sua vez, reagiu com declarações de que os Bondies eram as ovelhas negras da cidade, os párias numa comunidade musical onde ajudar um ao outro seria regra geral. É possível que nessa ojeriza haja um tantinho de dor de corno: o vocalista do White Stripes já não namorava Marcie quando o bate-boca começou, e, segundo a boataria, a guitarrista teria sido a musa de praticamente todos os versos de "Elephant".


De modo um tanto constrangedor, o trágico/patético desentendimento acabou gerando uma promoção involuntária de "Pawn Shoppe Heart" (Warner), segundo disco dos Bondies. Num certo sentido, Stollsteimer tem razão: o som do novo álbum é bastante superior ao de "Lack Of Communication". Mas a culpa não é de White – os Von Bondies estão compondo melhor, escrevendo pela primeira vez canções com cara de hit em contraponto à garageira confusa e ao blues primitivo de melodias pouco memoráveis da estréia.

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Bula: pule direto para a terceira faixa, "C’mon C’mon", primeiro single do disco. Com alternância de silêncio e gritaria, e a repetição hipnótica em coro do título da canção, é um número com potencial para se tornar a "Last Nite" ou a "Hate To Say I Told You So" dos Bondies. Nada no restante de "Pawn Shoppe Heart" é tão empolgante, mas alguns momentos chegam perto.


No peso hard rock de "No Regrets", na garageira desenfreada de "Broken Man" (de letrinha tão boba que tangencia a genialidade: "eu sou um homem quebrado/ essa é minha banda quebrada") e na montanha de gritos descerebrados de "Been Swank" e "Mairead" (blues com guitarras surf music), dá até pra dizer que o Mudhoney voltou – isso, claro, descontando o fato de que o Mudhoney ainda existe.

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Nas faixas em que Marcie e a baixista Carrie Smith cantam, os Von Bondies se aproximam de bandas bubblegum com meninas no vocal: Elastica, The Muffs, Sleater Kinney. Algo que incomoda em "Pawn Shoppe Heart" é a sensação de que se trata de um disco divertido, mas que ainda não está no nível dos melhores representantes do novo rock, como Strokes ou White Stripes. Mesmo assim, vale a pena apostar. A versão demencial para "Try A Little Tenderness", de Otis Redding, que entra como faixa secreta, demonstra que ao menos personalidade os Von Bondies têm.



LANÇAMENTOS

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PB – "Songbook Vol. 1" (Inker)


Indie nacional gosta de posar de justiceiro, de dizer que gosta de bandas geniais que o mercadão rejeitou, mas também dá suas pisadas. Enquanto elogia qualquer porcaria com terninho e gravata que vem de Porto Alegre, deixa passar belos trabalhos como o deste grupo paulistano PB. "Songbook Vol.1" é um daqueles discos tirados a fórceps: a banda existe há mais de dez anos e nunca tinha conseguido gravar um álbum propriamente dito. O repertório é tudo que o Skank quis fazer em "Cosmotron" (mas faltou talento): canções pop solares, com influências sessentistas e também do rock inglês dos anos 80 (imagine Smiths, The Cure fase "The Head On The Door"...). O diferencial em relação a outras bandas que seguem a mesma tendência está nas melodias iluminadas ("Luz"), no gosto pela guitarra ("El Mentiroso") e na superioridade instrumental ("Histórias Sem Valor"). Se cair na mão de algum programador de FM com mais de dois neurônios, um abraço.


Para comprar: [email protected].


Para quem gosta de: Smiths, Legião Urbana, últimos discos do Skank.



The Fiery Furnaces – "Gallowsbird’s Bark" (Sanctuary – importado)


Toda ceninha musical tem suas ovelhas negras. Os Fiery Furnaces vêm de Nova Iorque, mas não têm nada a ver com o rock garageiro de Strokes e Yeah Yeah Yeahs. A banda é formada pelos irmãos Eleanor e Matthew Friedberger, e lembra muito outros grupos lo-fi cult com garotas nos vocais e arranjos simples: Vaselines, Young Marble Giants. A princípio, este álbum de estréia cheira a gozação, com sintetizadores vagabundos, letras esquisitas e melodias quase infantis, como em "Up In The North" e "Inca Rag/Name Game". Mas os Fiery Furnaces mostram pluralidade ao aumentar a guitarra em "South Is Only A Home" e "I’m Gonna Run" (ambas na linha Velvet Underground), fazer pop do bom em "Two Fat Feet" e "Tropical Ice-Land" e eventualmente até falar sério, na tristinha "Rub-Alcohol Blues". Simples e uma delícia.


Para quem gosta de: Vaselines, Lambchop, Cat Power.



BALADA


Na próxima terça, dia 17, a Terça Tilt volta a rolar no Bar Valentino (Avenida Bandeirantes, perto do Moringão), em Londrina. O som vai ser pilotado pelos DJs Cristiano e Claudio Yuge, que está indo embora – vai trabalhar na sucursal da Folha de Londrina em Curitiba. O som é o de sempre: rock alternativo de todos os cheiros, cores e espessuras, de Weezer a Sonics, de Sebadoh a Misfits. A partir das 21h30.



PROMOÇÃO

A banda curitibana Extromodos disponibilizou uma cópia de seu CD de estréia, "Pra Ficar" (Fan Music), pra ser sorteado entre os leitores desta coluna. Você já leu sobre eles aqui: o trio faz pop rock com apelo radiofônico, na linha de grupos estrangeiros como Matchbox Twenty. Para conhecer mais, vá ao site www.extromodos.com.br. Para concorrer ao sorteio, basta clicar na caixinha de contato com este colunista, logo abaixo, e mandar uma mensagem dizendo quais são as cinco bandas sobre quem você queria ler mais neste espaço. Fácil, fácil. Você deve dar o seu recado até o dia 26 de fevereiro: o resultado da promoção sai na coluna do dia 27. Não esqueça de escrever seu endereço e telefone pra contato.


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