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Os três acordes que salvaram o mundo

07 nov 2003 às 10:59

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Iggy Pop e Ron Asheton (ao fundo), juntos no palco: beirando a terceira idade, fúria juvenil quase intacta - Reprodução
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Qualquer moicano deveria encarar a notícia como os demais fãs de rock receberiam o anúncio de uma volta (a essa altura do campeonato, só espírita) dos Beatles: The Stooges, a banda punk primordial, a que lançou as raízes das guitarradas de três acordes, se reúne após quase trinta anos separada. Os três sobreviventes da formação original, Iggy Pop (vocais), e os irmãos Ron (guitarra) e Scott Asheton (bateria), retornaram com um show elogiado no Coachella Festival, na Califórnia, no final de abril.

A festa se estendeu a um punhado de outras apresentações, incluindo um show triunfal em Detroit – metrópole vizinha à cidade natal da banda, Ann Arbor – em 25 de agosto, e faixas inéditas no novo CD de Iggy, "Skull Ring", que chegou esta semana às lojas de todo o mundo pela Virgin. No exterior, a volta do grupo vem sendo saudada como a segunda vinda de Cristo, com shows lotados e resenhas pra lá de generosas do novo disco. No Brasil, a reunião foi praticamente ignorada – compreensível, visto que por aqui venceu a versão "britânica" da história do punk, que prega burramente que Clash e Sex Pistols criaram o estilo.

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Em seus pouco mais de sete anos de atividade, entre o final dos anos 60 e a primeira metade dos 70, os Stooges lançaram três álbuns fundamentais. Sem eles, nem Nirvana nem Charlie Brown Jr. O primeiro, "The Stooges" (1969), traz as faixas mais conhecidas da banda, como "I Wanna Be Your Dog" e "No Fun", mas não captava a selvageria que o grupo promovia ao vivo. Na época, o quarteto (completado pelo baixista Dave Alexander) ganhou notoriedade pelas estripulias de Iggy – que, no palco, se lambuzava com creme de amendoim, se cortava com cacos de vidros e xingava a platéia.

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O segundo álbum, "Fun House" (1970), era bem mais agressivo e melhor produzido, o que colocou os Stooges num patamar superior ao de outros representantes do som garageiro da época, como MC5 e The Sonics. Após a saída de Alexander (que morreria em 1975), James Williamson foi recrutado, deslocando Ron Asheton para o baixo. Nessa formação, soltaram "Raw Power" (1973), que entra fácil em qualquer lista dos discos mais barulhentos da história, antes do fim, ocasionado pelo envolvimento maciço com drogas e a incapacidade da banda em vender discos.

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Os Stooges só viraram lenda no final daquela década, quando os moleques do badalado punk inglês atingiram o sucesso plagiando riffs de Ron e de Williamson e macaqueando a agressividade de Iggy no palco. Pelo jeito, a briga com o segundo guitarrista foi feia. Ele não foi chamado para a reunião e os shows da volta têm ignorado o repertório de "Raw Power".


Num momento em que bandas como Strokes e White Stripes fazem fortuna reciclando o som primal da banda, os Stooges poderiam ter bancado uma volta integral. Iggy, porém, preferiu restringir uma nova incursão da banda original em estúdio a quatro músicas de seu novo CD solo. Elas são de longe o que há de melhor em "Skull Ring", o que, neste momento, significaria uma redenção do vocalista, que desde os anos 80 não lança nada que preste.

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A faixa que abre o CD, "Little Electric Chair", retrabalha o riff de "TV Eye" (clássico de "Fun House") e a ambiência daqueles primeiros discos: gritinhos, poucos acordes, solos psicodélicos de Ron e a batida "reta" de Scott. As outras três, "Skull Ring", "Loser" e "Dead Rock Star", vão na mesma linha e trazem riffs impecáveis. Seria insanidade exigir que o novo material fosse tão explosivo quanto os clássicos da banda, mas Iggy e os Asheton até se garantem. A fúria juvenil de outrora se manifesta quase intacta, embora os três músicos beirem a terceira idade (Iggy está com 56 anos).


Se o disco fosse um compacto com essas quatro faixas, ou se os Stooges tivessem registrado um álbum inteiro, Iggy teria atingido a salvação. Mas o vocalista cismou de gravar material inédito com sua atual banda de apoio, os Trolls, e chamar convidados nada especiais. A primeira faixa de trabalho, "Little Know It All", por exemplo, foi gravada com o grupinho teen Sum 41 (bobagem na linha Blink 182) e traz aquele clima rock de arena que só impressiona moleque que nunca ouviu Stooges. Em "Supermarket" e "Private Hell", quem aparece é o Green Day. As duas faixas parecem saídas de um disco desta banda, e não de um álbum de Iggy Pop – bom frisar, isso não é elogio.


Por fim, a cantora modernete Peaches (que se apresentou no Tim Festival) colabora em "Rock Show" e "Motor Inn", duas faixas de tortura bruta. A primeira ainda tem a qualidade de ter apenas dois minutos. A segunda, nem isso. Nas faixas com os Trolls, Iggy retoma aonde havia parado em seu último CD, "Beat ‘Em Up" (2001), ou seja, trata-se de uma coleção de riffs pesados, batida acelerada e pouca inspiração. "Perverts In The Sun", "Superbabe", "Whatever", nada se salva. Além disso, "Skull Ring" repete um defeito grave do CD anterior: são faixas demais (16 ao todo), o que torna a audição um suplício quando os Stooges saem de cena.

Com o prestígio recuperado, Iggy deve ter achado que fez um grande favor aos irmãos Asheton ao lhes telefonar para propor a reunião. Financeiramente, foi exatamente isso. Agora, musicalmente, são Ron e Scott que acabam por salvar o velho Iguana. É hora dos Stooges voltarem de verdade.


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