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Canções de ninar enfumaçadas

25 mar 2005 às 11:00

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Álbum privilegia nuances mais psicodélicas do som da banda - Reprodução
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Uma hora ia acontecer. Dá para contar nos dedos a quantia de bandas na história do rock que conseguiram soltar mais do que três discos de estúdio perfeitos em seqüência. "Lullabies To Paralyze" (Interscope – importado), quarto álbum do Queens Of The Stone Age, que chegou na última terça-feira às lojas dos Estados Unidos, veio cercado de expectativa: é o primeiro disco do grupo após a saída do baixista Nick Oliveri e também sucessor de "Songs For The Deaf" (de 2002), que, ainda que distante de um sucesso planetário, foi o campeão de vendas na discografia do Queens e elevou os riffs de Josh Homme para um patamar de popularidade além dos rincões alternativóides. São duas pressões que o novo álbum não suporta.

Se o som do Queens tem duas nuances básicas, pauleira e psicodelia, Homme aqui aparentemente decidiu privilegiar a segunda, em contraponto mais ou menos nítido a "Songs For The Deaf", o mais pesado dos quatro discos da banda. O ambiente, portanto, é enfumaçado, sombrio, sufocante, permeado por andamentos moderados e aquele timbre único de guitarra se equilibrando entre riffs, passagens e solos obedientes às lições viajantes deixadas pelo Black Sabbath fase Ozzy. Nesse clima denso, pipocam de vez em quando momentos mais acessíveis, como "Little Sister", "Medication" e "In My Head", mais próximas do álbum anterior.

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"Lullabies..." vai bem até a nona faixa, "Someone’s In The Wolf", mas vá com espírito condescendente: mesmo quando acerta, o novo Queens não alcança o padrão de qualidade dos outros discos. "Everybody Knows That You’re Insane" e "Tangled Up In Plaid" englobam em pouco mais de quatro minutos cada as duas nuances já citadas, e "I Never Came" apresenta uma agradável terceira via às idéias de Homme: desliza delicada e gentilmente, antes de desembocar num final desesperado. É a melhor canção do repertório.

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Daí em diante, as coisas desandam, e não há boa vontade que salve. "The Blood Is Love" é uma montanha de riffs repetitiva e carente de melodia, "Broken Box" é Queens Of The Stone Age no piloto automático (pecado imperdoável, visto que burocracia nunca teve nada a ver com essa banda), "You Got A Killer Scene There, Man" e "Long Slow Goodbye" são arrastadas, entorpecidas, chatas. Nada, entretanto, se compara a "Skin On Skin": se bobear, é a canção sobre sexo mais tediosa da história do rock.

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Não é nem possível dizer que "Lullabies..." saiu meia boca devido à saída de Oliveri, pois o ótimo primeiro disco do Queens foi composto e gravado sem o baixista. A culpa é mesmo toda de Homme, que caminha para tornar a melhor banda de rock pesado do mundo num projeto ególatra, auto-indulgente e sem direção. Muitos grupos geniais lançaram um álbum infeliz antes de retornar à forma. Outros afundaram de vez. Teremos que esperar dois anos para saber qual foi a escolha do Queens Of The Stone Age.


LANÇAMENTOS

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Kaiser Chiefs – "Employment" (B-Unique – importado)


Tudo no disco de estréia dos ingleses do Kaiser Chiefs lembra alguma coisa do rock britânico. As duas primeiras faixas, "Everyday I Love You Less And Less" e "I Predict A Riot", vão agradar quem gosta de Franz Ferdinand. "Modern Way" remete aos colegas de sala do Bloc Party. E o restante é nitidamente influenciado pelo britpop, especialmente pelo Blur: "Oh My God" e "Saturday Night" parecem saídas de "Parklife" (de 1994) ou de "The Great Escape" (95), álbuns da banda de Damon Albarn. São canções pop competentes, mas não permanecem por muito tempo na memória. E, como dá para perceber pela quantia de bandas citadas nesta resenha, o Kaiser Chiefs sofre de uma falta de personalidade atroz.
Para quem gosta de: Bloc Party, Libertines, Franz Ferdinand.


British Sea Power – "Open Season " (Rough Trade – importado)

Este adorável quarteto inglês lançou há dois anos um competente álbum de estréia, onde influências do rock britânico dos anos 80 eram acompanhadas por referências mais pesadas, quase hardcore. A segunda faceta foi limada neste segundo disco, mais uniforme e que avança em qualidade melódica sobre o terreno sonoro inspirado em Echo & The Bunnymen, Smiths e outros menos ilustres da década retrasada – mas (quase) sem choradeira. Os destaques são o primeiro single, "It Ended On An Oily Stage", "Oh Larsen B" e "Victorian Ice". E pensar que tem gente ansiosa pelo próximo álbum do Coldplay...
Para quem gosta de: Echo & The Bunnymen, Interpol, Belle & Sebastian.


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