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Coadjuvantes de respeito

20 mai 2005 às 11:00
Sune Rose Wagner (à direita) é o ditador da banda - Reprodução
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Quando despontou na mídia, com o EP "Whip It On" (de 2002), a banda dinamarquesa Raveonettes foi recebida como uma recriação competente das guitarras encharcadas de microfonia, da languidez vocal e do torpor melódico do Jesus & Mary Chain. Já no lançamento seguinte, o álbum de estréia "Chain Gang Of Love" (2003), o grupo mostrou que tinha outras referências – o rock dos anos 50 e da primeira metade dos 60, alegre, com clima de festa, ambientes praianos e letras que não iam além da paixonite adolescente.

"Pretty In Black" (Sony – importado), o recém-lançado segundo álbum, reforça de vez estas intenções retrô e lima quase todas as remissões ao Mary Chain, especialmente o barulho: as guitarras aqui aparecem limpas, gentis. É antes de tudo um disco baladeiro, nas vertentes country ("If I Was Young"), r&b ("Seductress Of Bums"), folk ("The Heavens") e bubblegum ("Here Comes Mary") do arsenal das lentinhas, quase que invariavelmente decoradas com dedilhados de surf music.

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Com timbres de época e muitos ecos, a fórmula por vezes atinge resultados misteriosos, quase surreais, como uma trilha sonora de algum filme de David Lynch. Dá até para imaginar Nicolas Cage, vestido com jaqueta de pele de cobra, cantando "The Heavens" para Laura Dern...

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Os rocks desta safra, poucos e consistentes, mantêm a mesma aura de música datada e ambiência bizarra: "Sleepwalking", a melhor canção do álbum, reforça o tempero surf e empolga com a alternância de melodia insinuante e palhetadas imponentes na guitarra; "Twilight" mescla a saudade dos primeiros anos do rock com batida que poderia estar em algum disco da fase áurea do New Order; "Love In A Trashcan" é igualmente dançante, mas com um suingue mais sinuoso, adequado a algum festerê indie.


"Pretty In Black" traz três participações ilustres, de Maureen Tucker (ex-Velvet Underground), Martin Rev e de Ronnie Spector, mas os convidados aparecem tão discretamente que sua presença cheira a tentativa de valorizar ficha técnica. No fim, os Raveonettes seguem sendo uma ditadura do guitarrista, compositor e vocalista Sune Rose Wagner, e é interessante que o tal novo rock tenha uma banda que se apega à pré-história do quatro por quatro e que sabe que existem grupos que não se chamam Stooges, The Clash, The Jam, The Cure e Gang Of Four (percepção que parece escapar a muitos novatos).

Se essa diferenciação dá personalidade aos Raveonettes, ao mesmo tempo a banda não tem inspiração suficiente para ser protagonista no pop de hoje. O que não chega a ser defeito – a gente precisa de coadjuvantes enquanto os grandes de verdade não lançam nada novo.


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