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Curitiba Pop Festival se firma como o maior festival indie do Brasil

14 mai 2004 às 11:00
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Os organizadores do Curitiba Pop Festival bancaram a ambição e agora não tem mais jeito: eles são responsáveis pelo maior festival de indie rock do Brasil. Todo mês de maio, a capital do Paraná será a referência máxima dos adoradores das facções mais obscuras do 4 por 4 – o que, diga-se, é justo com uma cidade de vida roqueira efervescente, que abriga dezenas de bandas. As apresentações dos escoceses do Teenage Fanclub e dos americanos Pixies no último fim de semana foram tão antológicas que apagaram da memória (ao menos momentaneamente) os sucessivos erros da organização. Mas é importante não perdê-los de vista.

A lista é extensa: falha constrangedora no cálculo de pessoas que estariam interessadas em ver um show dos Pixies no Brasil (3 mil ingressos? O bafafá que se seguiu ao esgotamento das entradas obrigou a transferência do evento da Ópera de Arame para a Pedreira Paulo Leminski), opção arrogante de colocar os ingressos à venda antes na internet do que em pontos em Curitiba, o que preteriu o público local, quedas do servidor do site do festival e desrespeito aos horários prometidos nos dias em que os lotes de ingressos foram disponibilizados na rede, restrições nas opções de compra de ingressos separados para as duas noites e de meia-entrada para estudantes, a ridícula idéia de separar a platéia entre os que haviam comprado os ingressos para a Ópera e os que compraram depois que o local do evento foi transferido (sendo que estes últimos pagaram o mesmo preço!)...

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A última falha tratou de ser suplantada pelo público. Entretanto, é importante afirmar que ao menos a organização demonstrou boa vontade em consertar parte dos erros. Se desdobrou para conseguir outro servidor com urgência no primeiro dia de vendas pela internet, quando o site saiu do ar, e transferiu o evento para a Pedreira – bem ou mal, ganhou a maioria. Se esses lapsos de amadorismo forem contornados, o CPF terá vida longa. E ninguém tira dos organizadores um mérito: eles trouxeram ao Brasil os Pixies, uma das bandas mais importantes de todos os tempos. Fica difícil falar mal.

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Muita gente só queria ver Teenage Fanclub e Pixies, mas horas de rock rolaram antes que as atrações principais subissem ao palco da Pedreira. Numa seleção eclética e representativa do pop que é praticado atualmente nos rincões independentes do mercado brasileiro, vieram apresentações ótimas, irregulares, decepcionantes e ruins de verdade. Os paulistanos do Ludov, com seu pop rock bem tocado e composto e com vários hits em potencial, e o frenesi eletrônico do Sonic Jr (melhor que qualquer Fatboy Slim da vida) foram destaques. Divertido, dançante e sem medo de ser popular.


Se as duas bandas representam o caminho a ser seguido, o reunido Pin Ups continua encarnando tudo que há de mais ultrapassado no indie rock brasileiro: letras em inglês, som derivativo em excesso dos gringos, esporro para esconder a precariedade das melodias, uma desatenção comprometedora com os vocais. Na comparação direta, até um grupo da quarta divisão do rock alternativo estrangeiro como o Hell On Wheels parece coisa do outro mundo. O trio sueco mostrou power pop de qualidade, inspirado nitidamente na atração principal do CPF, surpreendeu, mas foi perdendo o gás do meio do show pra frente – apesar da histeria do encerramento.

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Quanto ao show conjunto de Frank Jorge, Flu e Wander Wildner... Vamos falar sério: se esses caras nunca estouraram, não foi por culpa da mídia-superficial-e-inculta-viciada-em-jabá-que-não-dá-valor-aos-talentos-de-verdade-e-blá-blá-blá: eles são ruins mesmo. Precedendo os Pin Ups, só aumentaram a vontade de ver logo os Pixies. Boa parte da platéia adorou. Mas é preciso ser indie demais pra ser enganado por certas coisas.


Que o Teenage Fanclub ganharia a peleja não havia dúvida – a surpresa foi a vitória por goleada. Inspirado, o trio central da banda (Gerard Love no baixo, Norman Blake e Raymond McGinley nas guitarras; os três cantam) não raro melhorou as versões de estúdio. "My Uptight Life", com mais peso nos fraseados de guitarra, e "Mellow Doubt", ainda mais despojada, abusaram do direito de emocionar. Ainda teve "Your Love Is The Place Where I Come From", "The Concept", "Neil Jung", "About You"… Como não são bobos nem nada, fecharam com "Everything Flows", a melhor música para encerrar show de todos os tempos. Histórico.

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PIXIES


Um ano atrás, o mundo não imaginava uma volta dos Pixies. E muitos menos que tal retorno pudesse ser tão arrasador. Contornando a fama de serem ruins de palco, Black Francis, Joey Santiago, Kim Deal e David Lovering fizeram história na Pedreira. Adicionaram peso e esporro aos já doentios arranjos de suas canções, Francis berrou como nunca e Kim não errou tanto quanto o esperado – a única atravessada mais séria foi em "Planet Of Sound", que ficou irreconhecível no início. Teve fã e jornalista que reclamou porque não teve papo entre as músicas. Mas a banda compensou, tanto na performance antológica quanto no acréscimo de três canções que não estavam previstas no setlist.

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Quem esteve lá, sabe, então não é preciso falar muito: os pontos altos foram muitos. A blitzkrieg sonora de "Something Against You"; o coro emocionado em "Hey"; o final de "Gouge Away", no qual os berros de Francis soaram ainda mais possuídos; a soberba choradeira de "Cactus"; "The Holiday Song", mais feroz ao vivo; o simples prazer de ver um carretel de clássicos do rock num show, tocado pelos músicos que o conceberam: "Monkey Gone To Heaven", "I Bleed", "Broken Face", "Caribou", "U-Mass".


Nas entrelinhas, ficou o imenso teor subversivo que os Pixies carregam. Na história do pop, vários artistas optaram pela transgressão artística (Beatles, Pink Floyd), outros pela transgressão performática e também sonora (Iggy Pop, Sex Pistols), e muitos se admitiram convencionais (White Stripes, Strokes). O grande segredo dos Pixies sempre foi disfarçar o perigo sob a pinta do convencional.


Quem fosse à Pedreira desavisado no último sábado talvez desdenhasse a banda que subiu ao palco: um gordinho careca, dois tiozinhos com caras de nerd, uma senhora com alguns quilos a mais e jeitão de funcionária pública. Que perigo eles poderiam oferecer? Mas é inevitável constatar que existe algo de subversivo em encaixar uma letra sobre suicídio na mais doce das melodias ("cease to resist, giving my goodbye/ drive my car into the ocean"), em cantar abertamente sobre incesto ("he took his sister from his head (...)/ and they kissed until they were dead"), em dar sentidos doentios a canções de amor (gritando: "cookie, I think you’re taaaaaame!") ou em colocar mais de sete mil pessoas para berrar um refrão de simples e bruta hostilidade: "I’ve got something against you!".

Isso tudo em composições e arranjos que parecem ironizar as fórmulas convencionais do rock, ao tangenciá-las e transmutá-las com paradas súbitas, mudanças bruscas de andamento e gritos psicopatas. Em 1988, 91, 97 ou 2004, como ouvir esse som e deixar de sentir que alguma coisa na sua vida mudou? Como um jornalista do New Musical Express bem definiu, é a banda que te faz esquecer que outras bandas existem.


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