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Difícil de gostar

30 jul 2004 às 11:00
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A tentação para gostar de "As Próximas Horas Serão Muito Boas", segundo álbum da banda gaúcha Cachorro Grande, é enorme. Motivo um: o disco sai encartado na quarta edição da revista Outracoisa (que está saindo numerada como quinta edição), editada por Lobão, que, bem ou mal, é uma das poucas opções de publicações especializadas em música no mercado brasileiro. Motivo dois: 97% da imprensa cultural brasileira fala bem do Cachorro Grande, então alguma qualidade a banda deve ter. Motivo três: eles tratam o rock como o chamado rock "puro" deve ser. Pulinhos no palco, terninhos, selvageria, bebedeiras, pauladas descompromissadas e dançantes. Motivo quatro: você precisa desesperadamente gostar de alguma coisa no rock brasileiro além de Los Hermanos, para não pegar fama de indie ou colonizado. Bastou?

Considerando-se tais motivos, ao final da audição das 14 faixas de "As Próximas Horas..." você sai até envergonhado porque não conseguiu se empolgar. O álbum representa um salto de qualidade em relação à estréia, "Cachorro Grande" (2001), que continha uma música sensacional, "Sexperience", em meio a rocks e baladas excessivamente inspirados nos anos 60 – mais especificamente em estandartes do quatro por quatro como The Who, Kinks, Rolling Stones, as canções mais roqueiras da segunda fase dos Beatles. O repertório tendia para a macaqueação e não se sustentava sem o apelo retrô. Mesmo assim, a imprensa elogiou, e a mídia de música jovem no Rio Grande do Sul é suficiente para sustentar muitas bandas, que costumam ter vida curta quando passam muito além da divisa com Santa Catarina.

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"As Próximas Horas..." é melhor produzido, traz composições mais consistentes e na maioria de suas faixas se mostra menos dependente do ranço passadista. A faixa de abertura, "As Coisas Que Quero Lhe Falar", adiciona uma letra à Roberto Carlos a um rock de cadência moderada, de teor romântico e que resvala no brilhantismo. Quando o quarteto solta os freios e desfere suas pauladas, saem tijoladas como "Hey, Amigo" (com refrão berrado) e a faixa-título, ou músicas para dançar, como "Você Pode Até Pegar" e "Agoniada". As duas baladas do álbum, "Me Perdi" e "Que Loucura!", homenageiam respectivamente Byrds e Jovem Guarda, a segunda com tchu-tchu-tchus no refrão.

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Pelo parágrafo anterior, nota-se que "As Próximas Horas..." tem qualidades, mas seus defeitos acabam por naufragá-lo. O mais saliente é a longa duração do disco: álbum de rock "básico" não pode nunca passar dos 50 minutos. Uma tesourada de quatro músicas e do adiposo momento fantasma – quando guitarra, baixo e bateria ressuscitam algum tempo depois da última faixa morrer – resolveria o problema. Outro foco de incômodo reside nas letras: é um pecado estragar uma melodia maravilhosa como a de "Me Perdi" com uma rima tão infeliz quanto "é verdade, eu perdi a razão/ igual novela na televisão".

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A fina poesia da faixa-título deixa evidente tal sinuca: "metade do bar quer me bater/ a outra metade quer me dar". Pois é, o Cachorro Grande não fica lá muito diferente do Charlie Brown Jr ao confundir desencanação com idéias estreitas. Tal defeito, ao se somar aos vocais zombeteiros de Beto Bruno, que mais irritam do que divertem, faz com que o quarteto se torne apenas mais um representante da safra recente do rock gaúcho, que, desde Wander Wildner em carreira solo e Bidê Ou Balde, construiu uma estética baseada no som derivativo, no humor sem graça alguma, na ironia barata, num espírito de confronto escorado na necessidade de se provar uma "alternativa" ao que faz sucesso nas rádios que não são do Rio Grande do Sul. É o suficiente para enganar muitos jornalistas. Mas o Cachorro Grande pode mais do que isso.


LANÇAMENTOS

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Futureheads – "The Futureheads" (679 Recordings - importado)


2004 é dos britânicos, ninguém duvida. A tropa de calouros da terra da rainha supera em número e badalação as novidades ianques: Franz Ferdinand, Scissor Sisters, Hope Of The States, Razorlight, Ordinary Boys, a lista vai longe. O quarteto inglês Futureheads faz parte deste bolo, e é a prova definitiva de que quantidade não significa qualidade. Afinal, de cada dez bandas badaladas pelas revistas de música britânicas, umas duas se salvam. O Futureheads soa como se seus integrantes tivessem sido trancados do nascimento até os 20 anos de idade num quarto onde se colocava apenas The Clash e The Jam na vitrola. De tal forma, seu álbum de estréia parece uma única faixa de pouco mais de meia hora de duração (a única exceção é a balada "Danger Of The Water", com seus vocais quase à capela), movimentada à base de economia instrumental e melódica. Derivativo demais e sem sal algum.
Para quem gosta de: The Jam, The Clash, XTC.


Dogs Die In Hot Cars – "Please Describe Yourself" (V2 – importado)

Pois não falamos uma resenha atrás que 2004 era o ano dos britânicos? Os escoceses do Dogs Die In Hot Cars compartilham com o Franz Ferdinand, o grande hype do ano e seus compatriotas, a vontade de fazer música para dançar. O rock/pop da transição dos anos 70 para os 80 é a referência máxima do grupo, que recicla Blondie, Talking Heads, Dexy’s Midnight Runners. Natural, visto que quem falou que um dos alicerces do rock era a originalidade estava mentindo. "Please Describe Yourself" talvez funcione se alguma de suas faixas for colocada numa discotecagem entre músicas de bandas mais populares, mas nenhuma de suas melodias gruda na cabeça após algumas audições. O que, para um disco que se pretendia pop e dançante, representa um fracasso completo.
Para quem gosta de: Franz Ferdinand, Hot Hot Heat, The Rapture.


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