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Divertido, mas nem sempre certeiro

26 jan 2004 às 10:59
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No exterior, se a imprensa não tivesse badalado tanto Nirvana, Suede (os hypes mais bem sucedidos da história do rock - e que hoje, por ironia, são festejados pelos mesmos críticos brasileiros "independentes" e "inteligentes" que rejeitam no piloto automático qualquer novo hype), Strokes ou White Stripes, é provável que até hoje você não teria ouvido falar de nenhuma dessas bandas. No Brasil, terra com considerável população de analfabetos e onde apenas uma porcentagem mínima dos letrados compra jornal, ser querido pela crítica nunca significou carreira sólida ou sucesso comercial.

Vide Max de Castro, que pode alugar o espaço que quiser nos cadernos 2 da vida para despejar sua verborragia vazia, mas nunca caiu no gosto do povão. Há três anos, a Bizz saudava a Bidê Ou Balde como a salvação do pop nacional. A revista acabou, assim como o (pouco) prestígio da banda.

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A badalação em torno do Los Pirata, trio paulistano que acaba de lançar seu primeiro álbum, "En Una Onda Neo-Punque" (Volume 1), se assemelha à estrutura dos hypes gringos: capa de caderno de cultura em jornal de circulação nacional, carinho do público antenado, artigos elogiosos de radialistas da velha guarda alardeando que a banda é a melhor coisa surgida no pop brasileiro nos últimos vinte anos... Se caísse nas mãos do New Musical Express, amanhã você baixava tudo que encontrasse deles no Kazaa sem pensar duas vezes.

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A primeira aparição do Los Pirata na mídia aconteceu no segundo semestre de 2001, quando o clipe demo de música "Nada" foi exibido no programa "Piores Clipes do Mudo", da MTV, então apresentado por Marcos Mion. O vídeo concorreu em duas categorias no Vídeo Music Brasil daquele ano, melhor democlipe e pior clipe do ano. Não levou nenhum dos dois prêmios.

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"En Una Onda..." é o resultado de anos de militância underground. Os integrantes da banda adotam pseudônimos amalucados (Paco Garcia, Loco Sosa e Jesus Sanchez) e um incompreensível conceito chicano - as letras são cantadas em espanhol vagabundo, eventualmente substituído por um inglês entoado com igual heterodoxia. Nada contra o clima engraçadinho: afinal, de Mutantes a Pato Fu, o rock brasileiro sempre transitou pela via humorística. Mas, é claro, se você for daqueles indies que levam tudo a sério (daqueles que ainda acreditam que o Belle & Sebastian anda gravando discos que prestam), passe longe.


No som, o Los Pirata faz um punk rock de batida Duracell, sem barulho ou esporro excessivo, com lascas de surf music. A influência nítida é Pixies, evidente em "BateChica", que lembra sensacionalmente as faixas cantadas em espanhol por Black Francis. À exceção da última faixa, a jam bêbada "Interminable 1", nenhuma das músicas de "En Una Onda..." foge desse espectro de tiração de sarro e/ou pauleira.

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O hit instantâneo é "Nada", claro, mas sobram destaques, como a pesada "Blackbird", a cadenciada "Paloma", com clima de terror pândego e escaleta afônica no final, a nervosa surf music de "Tid Bits", e embalos para o pogo de sabores variados: "Si, Pero No Mucho", "Shirley Sala 3", "Xá Lá Lá"... Os fãs de cultura pop em geral não vão conseguir evitar o sorriso em "Vader", que cita o tema do lado negro da Força em "Star Wars".


"En Una Onda...", entretanto, tem defeitos. Em primeiro lugar, sofre de excesso de vinhetas, o que lá pelo meio do disco quebra o ritmo da festa. Em segundo, o humor do Los Pirata nem sempre é certeiro: vide "Las Hamburguesas", besteira engraçadinha que não passa de um anúncio sem graça de lanchonete. Por fim, a curta duração das canções (a maioria não chega aos dois minutos) impede maior prolongação do entusiasmo. Tosqueira não pode significar falta de criatividade: o Los Pirata poderia temperar mais suas canções com trechos instrumentais como o que decora a já citada "BateChica", ou acentuar esquisitices esboçadas aqui e ali. Sem isso, é apenas mais uma banda de garagem.

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Com jeitão de fita demo, "En Una Onda..." acaba repetindo a lógica de 90% dos hypes estrangeiros: após tanta falação, ouvi-lo não deixa de ser decepcionante. Melhor esperar o próximo.


LANÇAMENTOS

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Muse - "Absolution" (Warner)


Este terceiro álbum da banda inglesa Muse é o primeiro do grupo a ser lançado no Brasil. Das dezenas de imitadores de Radiohead que surgiram após "Ok Computer" (1997), a turma liderada pelo vocalista Matt Bellamy sempre foi mais descarada no plágio - tudo, do clima melancólico das composições aos crescendos nos arranjos, passando pelos vocais idênticos aos de Thom Yorke, é derivativo. Nas acrobacias do gogó de Bellamy sente-se também um dedinho de Jeff Buckley, gênio americano que bateu as botas em 1997. "Absolution" tem canções de qualidade, como "Apocalypse Please" e "Falling Away With You", mas a histeria das interpretações não esconde a escassez de boas melodias. Além disso, Bellamy tem o grave defeito de, ao contrário de seus inspiradores, não valorizar o silêncio - a grandiloqüência e a pseudo-intensidade dos arranjos (escorados em piano, guitarras pesadas e cordas) tentam estender artificialmente momentos de êxtase, o que acaba dando uma dor de cabeça dos diabos.

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Para quem gosta de: Radiohead, Jeff Buckley, Coldplay.



Primal Scream - "Dirty Hits" (Sony)


Esta primeira coletânea do Primal Scream ignora solenemente os dois primeiros discos da banda e começa a contar a história a partir do momento em que o grupo caiu nas graças da crítica, com "Screamadelica" (1991). Pretendo-se um retrato de uma das bandas mais importantes e ao mesmo tempo superestimadas do pop britânico dos anos 90, "Dirty Hits" sabiamente não é irregular como os álbuns de carreira do combo liderado por Bobby Gillespie (vocalista e ditador). Da mistura indie dance dos primeiros passos, em "Loaded", "Come Together" e "Movin’ On Up", contaminadas pela euforia Madchester (leia-se Stone Roses, Happy Mondays), surge o primeiro flerte com o dub, "Higher Than The Sun". Após os tropeços da fase roqueira de "Give Out But Don’t Give Up" (1994), o ambiente enfumaçado volta a dar a tônica nas viajantes "Kowalski" e "Long Life", até desaguar no híbrido de rock com eletrônica da pesada pelo qual o Primal Scream é conhecido pela nova geração: "Miss Lucifer", "Swastika Eyes", "Kill All Hippies", a sensacional versão para "Some Velvet Morning" (com vocais de Kate Moss). Ainda serve para festas moderninhas. Único senão: cadê "Star"?

Para quem gosta de: Chemical Brothers, Prodigy, Radiohead fase
"Kid A".


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