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Ecletismo que não ofende

18 fev 2005 às 11:00
Famosos como Skank e Los Hermanos apareceram primeiro na coluna - Reprodução
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Fred Durst, do Limp Bizkit, disse certa vez com indisfarçado orgulho: "Eu nunca li um livro na vida". Em entrevista à Veja, Ivete Sangalo manifestou repúdio semelhante às letras: "Quando comecei a ficar com o Davi (Moraes, então seu namorado), fui logo perguntando pra ele: ´Você lê?’ E completei: ´Porque eu não leio. Não vem com conversinha mole de poesia pra cima de mim, não´".

Só mesmo mentes muito ignorantes para achar que música pop e livros não combinam. Nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, rock e literatura se confundem com freqüência – é só lembrar de Nick Hornby, Irvine Welsh – e a bem-nutrida imprensa especializada em sons jovens rende ótimos títulos e muitos subprodutos nas prateleiras das livrarias. Qualquer bandinha (um Darkness, por exemplo) ganha biografia poucos meses após ter disco emplacando nas paradas.

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No Brasil, o mercado de livros sobre música engatinha, acompanhando a indigência característica da indústria das letras em geral. Livros sobre rock são lançados a conta-gotas – tanto que quando algum vê a luz em dia, é preciso comemorar. "Rio Fanzine" (Record), dos jornalistas Carlos Albuquerque e Tom Leão, tenta reforçar a representatividade tupiniquim no referido nicho. O livro compila artigos publicados na coluna de mesmo nome, criada por Ana Maria Bahiana em 1986 para O Globo. Há textos que fogem do espectro musical (matérias sobre Wes Craven, Kevin Smith, por exemplo), mas são poucos.

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Apesar do subtítulo sugerir uma faceta indie – "18 anos de cultura alternativa" -, o Rio Fanzine nunca se caracterizou pelo apego extremado ao underground. Pelo contrário, sempre falou de tudo: rock, dub, reggae, música eletrônica, samba, metal, hip hop. Pelas mais de 200 páginas de "Rio Fanzine", o livro, passeiam personagens tão díspares quanto Mad Professor, Planet Hemp, Frank Black (dos Pixies), DJ Shadow, Capital Inicial, Ry Cooder, Stereolab e Gwar.

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A atividade jornalística sempre presume risco, então ao longo de 18 anos o Rio Fanzine arriscou diversas apostas que não deram certo. Gangrena Gasosa, Black Future, Dread Zeppelin e Phish são alguns dos personagens aqui presentes que pareciam que iam estourar quando surgiram, mas que capotaram devido à baixa qualidade ou à falta de sensibilidade do mercado. Mas os acertos foram muitos: Skank, Planet Hemp, Los Hermanos e Moby, para citar três exemplos de representantes da gente que bem ou mal fez o pop/rock dos últimos anos, receberam seus primeiros destaques na imprensa nacional a partir do Rio Fanzine.


A coluna antecipou e/ou acompanhou tendências como o grunge e a febre eletrônica, e, antes de todo mundo, captou a fragilidade da onda baggy (Inspiral Carpets, Charlatans, Stone Roses) que assolou a Inglaterra no início dos anos 90 antes de naufragar na historiografia da música pop. Independente desse caráter de registro, o livro se sustenta também através de leituras deliciosas, como a oportunidade em que Albuquerque se "disfarçou" de vendedor numa loja de discos no Rio numa véspera de Dia das Mães; entrevistas engraçadíssimas com doidos como Bezerra da Silva e Gangrena Gasosa; relatos sobre a produção precária da "Rolling Stone" brasileira, que freqüentou as bancas nos anos 70; e os primeiros debates sobre os polêmicos sampler e mp3.

"Rio Fanzine" só se torna enfadonho quando insiste em entrevistas que envelheceram mal, naquele estilo tipicamente jornalístico: "fulano está lançando disco novo, conta como foi trabalhar com produtor tal, como está preparando o repertório do show, planos de tocar no Brasil..." Mas quem trabalha com jornalismo diário, claro, não pode ter medo de ficar datado. E o que pode ser percebido nos artigos de "Rio Fanzine" é um desejo de se arriscar digno de aplausos e um ecletismo que não ofende.


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