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Especial: os melhores discos de 2003

09 jan 2004 às 10:59
Marcelo Camelo brilhou no melhor ano da carreira do Los Hermanos - Reprodução
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O ano de 2003 não foi broxante só para os flamenguistas (que não ganharam nada) ou para os esquerdistas que sonhavam ver Lula dar uma banana para Washington. Também foi um ano não muito estimulante para a música pop. No Brasil, os shows internacionais rarearam – veio o Coldplay e seu baladismo meia-boca, o White Stripes em má forma, picaretas como The Streets e The Rapture. De bom mesmo, Beth Gibbons no auge.

Este colunista confessa que também teve pouco com o que se entusiasmar no quesito discos. Admito que mesmos alguns álbuns incluídos no rol de melhores de 2003, que vocês podem conferir abaixo, não podem ser considerados excepcionais. Mas foram os mais entusiasmantes num ano que prometeu muito (basta ver os hypes fajutos de 2003: Yeah Yeah Yeahs, The Rapture, Audio Bullys) e entregou pouco.

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Entre os veteranos, muita gente decepcionou – Stephen Malkmus, Super Furry Animals, Belle & Sebastian, a banda dos ex-integrantes do At The Drive-In, Mars Volta – e outros preferiram passar o ano sem lançar disco (Weezer, Pato Fu, Queens Of The Stone Age). Pra colocar mais peso no lado chato dessa balança, duas figuras fundamentais do pop americano, Johnny Cash e Elliott Smith, morreram.

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O saldo então é negativo? Não mesmo. Apesar de tudo, 2003 poderá ser lembrado como o ano em que o Los Hermanos lançou um álbum já histórico ("Ventura"), e em que bandas de currículo valorizado (White Stripes, Strokes, Radiohead) reafirmaram sua importância com ótimos discos. E, apesar do panorama meio sonolento, até surgiram gratas revelações: Kings Of Leon, British Sea Power, Sleepy Jackson, The Thrills, Pretty Girls Make Graves, cujo melhor provavelmente ainda está por vir.

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E se a lógica do otimista é que um ano meia-boca é sempre sucedido por um sensacional, a lista de lançamentos prometidos para 2004 é de dar água na boca: novos de Weezer, Queens, Trail Of Dead, Pato Fu, Lobão (seu primeiro disco de inéditas desde 1999), Flaming Lips, Wilco, Beck. Para não mencionar a tradicional batelada de novatos, onde já se destaca a banda escocesa Franz Ferdinand (álbum de estréia em fevereiro). Em shows, Teenage Fanclub, Strokes, Kings Of Leon.


Por enquanto, os melhores de 2003, este ano esquisitíssimo.

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OS DEZ MELHORES DISCOS DE 2003



1) Los Hermanos – "Ventura"

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Exatamente por ter bancado a transição entre o hardcore infantil da estréia e a faceta "adulta" que viria a seguir, "Bloco do Eu Sozinho" (2001) deverá permanecer na memória afetiva como o disco favorito dos fãs dos Los Hermanos. Mas "Ventura" pode ser considerado melhor – tem letras mais bem trabalhadas, arranjos mais bem resolvidos, é menos preciosista. No quesito importância na carreira, não é tão rompedor quanto "Bloco...", mas também é fundamental já que sedimentou os Hermanos como uma unanimidade entre crítica, público e classe artística, que, de Frejat a Caetano Veloso, não poupou afagos.


Musicalmente, a banda fez por merecer: nunca o hibridismo de música brasileira e rock alternativo proposto pela banda de Marcelo Camelo se mostrou tão azeitado. Mesmo quando lembra a banda pauleira de outrora ("Cara Estranho", "Deixa O Verão") ou a dor de corno à "Anna Júlia" nas letras ("A Outra", "Do Lado de Dentro"), tudo aparece envolto numa névoa mais complexa, mais (devo dizer tal palavra?) madura. A sensacional "O Velho e o Moço" comprova a tese, ao abordar o tema terceira idade sem soar professoral.

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Outra prova de consistência é a maneira como os Hermanos soam extremamente pop mesmo quando fazem canções sem refrão – além da própria "Cara Estranho", confira "O Vencedor" e "Um Par". A conclusão feliz é de que, apesar de já se bastar em si mesmo, "Ventura" vislumbra um futuro glorioso para o rock nacional, já que sua influência entre o povinho antenado pode resultar na proliferação de mais bandas geniais daqui a alguns anos. Quanto aos Hermanos, fica apenas o desejo de que a perigosa aproximação com a MPB retrógrada, esboçada em gestos e palavras, atos e omissões, nunca chegue a ser consumada.



2) Radiohead – "Hail To The Thief"

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Enquanto parte dos fãs cobrava uma volta às guitarras e outra (minoritária, é verdade) esperava que o Radiohead continuasse sua viagem experimentalista, a turma de Thom Yorke propôs exatamente um meio termo. Guiado por canções e não por conceitos (ao contrário de "Kid A" e "Amnesiac"), "Hail To The Thief" foi o melhor disco do Radiohead desde 1997 e referendou a escalada da banda rumo ao Olimpo dos imortais do rock. Além das tradicionais baladas arrasadoras ("Scatterbrain", "I Will", "Sail To The Moon") e dos rocks climáticos de sempre ("There There", "Go To Sleep", "2+2=5"), o quinteto reafirmou a esquisitice dos dois álbuns anteriores (em "The Gloaming", "Sit Down. Stand Up", "Backdrifts") e até arriscou novidades em seu repertório, como industrial ("Myxomatosis"), rap ("A Wolf At The Door") ou pós-punk ortodoxo ("Where I End And You Begin", de baixo sinuoso à Joy Division). Soberbo em suas várias nuances, "Hail To The Thief" faz pensar que qualquer coisa no resto da música pop que não se pareça com algo entre suas faixas simplesmente não presta.



3) Strokes – "Room On Fire"

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A estrutura cíclica e massacrante dos hypes começa a cobrar a conta dos Strokes. Lançado em meio a muita expectativa, o segundo álbum do quinteto nova-iorquino foi ofuscado pelo novo dos White Stripes, que vendeu mais, foi mais elogiado e está dando uma goleada nas listas de melhores do ano. Houve mais aplausos do que narizes torcidos, é verdade, mas boa parte da crítica e dos fãs ressaltou que "Room On Fire" apenas repete "Is This It" (como se isso fosse defeito) e é muito curto (33 minutos). Tudo sugere que daqui a dois anos não vai ser mais legal gostar de Strokes. Pena. Se apenas a vontade de parecer cool interessa a esse povo, caso Julian Casablancas continue a compor delícias como "Automatic Stop", "I Can’t Win", "Under Control", "12:51" ou "Meet Me In The Bathroom", esse pessoal não vai saber o que vai estar perdendo.



4) White Stripes – "Elephant"


O quarto disco do White Stripes é a típica obra clássica que transforma uma iguaria entre entendidos num sucesso de massa. "Elephant" disputou os primeiros lugares na parada inglesa com milionários acéfalos como Linkin Park e se tornou tão popular que chegou a colocar hit nas rádios londrinenses, notórios depósitos de mau gosto. "Seven Nation Army" e a primorosa versão para "I Just Don’t Know What To Do With Myself" puxaram o bonde, que ainda guardava lugar para pop à Beatles ("I Want To Be The Boy To Warm Your Mother’s Heart"), folk ("You’ve Got Her In Your Pocket"), country ("Well It’s True That We Love One Another") e uma maluquice grandiloqüente à Queen ("There’s No Home For You Here") entrecortando os delírios blues ("Ball And Biscuit") e a garageira de sempre ("Black Math", "Hypnotize", "Girl, You Have No Faith In Medicine"). Tão antológico que nem a polêmica passagem pelo Brasil (Jack White ganhou fama de arrogante ao se negar a atender fãs e o show no Tim Festival dividiu opiniões), nem a acusação de agressão contra o vocalista dos Von Bondies conseguiram arranhar a imagem da dupla.



5) Cat Power – "You Are Free"


Pelo que se anda dizendo, os shows dela continuam uma droga, mas em estúdio Chan Marshall conseguiu diminuir consideravelmente a distância que sempre existiu entre as qualidades sobre-humanas que alguns indies lhe atribuíam e seu real talento musical em "You Are Free". Dos pianos, guitarras e violões de poucas notas utilizados pela moça, surgem baladas etéreas como "I Don’t Blame You", "Fool", "Maybe Not" e "Names", que não só são superiores a qualquer coisa que Chan gravou antes, como também se aproximam dos momentos mais dilacerantes da Patti Smith fase "Horses". Como extras, a ficha técnica é inchada com participações de Eddie Vedder (Pearl Jam) e Dave Grohl (aquele...), e um senso pop mais apurado pode ser farejado nas animadas "He War", "Speak For Me" e "Shaking Paper". Não que fosse necessário – mergulhar no lado escuro da psique de Chan (de preferência, com ela desacompanhada) já está sendo bem mais prazeroso.



6) Blur – "Think Tank"


A coisa mais óbvia a chamar a atenção em "Think Tank" é a forma como este novo Blur se distancia da bandinha britpop que cantava "Boys And Girls" no meio dos anos 90. Guitarras, que antes eram o ponto central, ficaram relegadas a segundo plano. Canções pop redondas deram lugar a experimentalismos tipo "Kid A". Timbres safrados nos anos 60 foram substituídos por efeitos moderninhos e truques de estúdio. Essa nova banda tem até um integrante a menos, o guitarrista Graham Coxon, que saiu arrotando que dava graças aos céus por não ter responsabilidade por "Think Tank". Mas esse Blur do século 21 mantém algumas características de sua encarnação anterior. Pra começar, continua gravando discos irregulares ("Brothers And Sisters", "Jets" e "Gene By Gene" são insuportáveis). Segundo, Damon Albarn ainda é melhor compondo baladas ("Out Of Time", "Good Song" e "Battery In Your Leg"). Onde conseguiu ser empolgante ("Crazy Beat", "On The Way To The Club", "Caravan"), "Think Tank" foi um dos discos do ano. E ainda tem "Ambulance", que rivaliza com "Seven Nation Army" e "2+2=5" na disputa do título de melhor faixa de abertura de 2003.

7) British Sea Power – "The Decline Of…" (importado)


Esta estréia do quarteto inglês liderado pelo vocalista e guitarrista Yan engana a todo instante. Quando o ouvinte se depara com a vinheta de 40 segundos que abre o álbum, pensa que vai ouvir mais um disco alternativo metido a cabeça, na linha Sigur Rós. É pego de surpresa logo na seqüência, quando as guitarras sujas e a urgência punk anunciam as insanas "Apologies To Insect Life" e "Favours In The Beetroot Fields". Pronto, um álbum de pauleira à inglesa. Nada disso, "Something Wicked", esperançosa e com timbres lembrando o pós-punk (Magazine, Echo & The Bunnymen), mudam a rota de novo. A seguir, "Remember Me" e "Fear Of Drowning" reúnem todos os pontos convergentes esboçados antes. As últimas surpresas são a delicadeza folk de "Blackout" (para as viúvas de Smiths) e a suíte progressiva de "Lately", que desnorteia num álbum que se pretendia enxuto. Sugerir tantas direções e não soar incoerente não é tarefa pra qualquer um. O British Sea Power surge como uma das grandes promessas para esta década.


8) Ed Harcourt – "From Every Sphere"


Este segundo álbum do cantor e compositor inglês talvez seja o grande disco perdido de 2003. Aparentemente, após apenas três anos do estouro de Badly Drawn Boy, baladas delicadas e rocks com harmonias refinadas não encontram mais lugar no coração da crítica, que preferiu eleger embustes como Audio Bullys e Rapture. Com tamanha indiferença, fica até difícil de acreditar que "From Every Sphere" tenha saído no Brasil. Centrando foco em baladas compostas ao piano e ao violão, amparadas em guitarras discretas e cordas eventuais, a musicalidade de Harcourt é o elo perdido entre dois gênios nascidos no outro lado do Atlântico que morreram cedo demais, Jeff Buckley e Elliott Smith (este morreu em outubro – num aparente suicídio). Delícias pop de potencial radiofônico, como "All Of Your Days Will Be Blessed" e "Watching The Sun Come Up", são ladeadas ao romantismo despudorado de "Sister Reneé", "Bleed A River Deep" e "Jetsetter". Se morrer amanhã, Harcourt vira lenda.



9) Kings Of Leon – "Youth & Young Manhood"


Num ano em que a qualidade das bandas hypadas não esteve nem de longe à altura das apostas de anos anteriores, o Kings Of Leon foi a melhor nova banda de rock a sair dos Estados Unidos em 2003. O quarteto tinha como atrativos uma biografia improvável – são três irmãos filhos de um pastor protestante, e o quarto integrante é primo deles – e o visual caipira, que complementava o som, uma mistura da sujeira dos neo-garageiros (White Stripes, Strokes) com o rock jeca de Lynyrd Skynyrd e Creedence Clearwater Revival. Alguns críticos questionaram se o que era anacrônico ontem poderia ser cool hoje. Mas resistir à farra de "Red Morning Light", "Wasted Time" ou "Molly’s Chambers" é difícil.



10) Sleepy Jackson – "Lovers" (importado)


Ao lado da estréia da banda irlandesa The Thrills, "So Much For The City", "Lovers" foi o disco mais assobiável e ensolarado de 2003 – com a vantagem de que não perde o gás do meio para a frente. O grupo vem da Austrália, é liderado pelo vocalista Luke Steele e se especializa em escrever baladas e rocks leves, com melodias adesivas na linha power pop. Os arranjos privilegiam violões, guitarras country, pianos e um maravilhoso corinho feminino a reforçar os refrões, caldo que rende um punhado de canções difíceis de tirar da cabeça: "Good Dancers", "Rain Falls For Wind", "Tell The Girls I’m Not Hanging Out", a psicodélica "Don’t You Know"... "Lovers" tem potencial tanto pra agradar o indie menos esnobe quanto o refém das FMs, o que já o caracteriza como um grande álbum pop. É o som que a finada Video Hits e o Bidê ou Balde estariam fazendo se tivessem talento.



A LISTA DOS LEITORES


Por incrível que pareça, existe sintonia entre este colunista e seus leitores. Os votos do público renderam uma lista praticamente idêntica à da coluna nos quatro primeiros lugares, diferente apenas nas posições. Ficou assim:



1) Radiohead – "Hail To The Thief"


2) Los Hermanos – "Ventura"


3) White Stripes – "Elephant"


4) Strokes – "Room On Fire"


5) Belle & Sebastian – "Dear Catastrophe Waitress"



O Radiohead leva a coroa com apenas dois votos de vantagem sobre o Los Hermanos. De estranho no ninho, só o novo do Belle & Sebastian, espinafrado por esta coluna, mas que demonstra que a banda de Stuart Murdoch continua com platéia fiel no Brasil. O ganhador do sorteio é MATHEUS LINI SEGURA, de CAMBÉ, que vai receber em casa o pôster do White Stripes, com MC5 no verso.


A coluna tira um respiro e volta no final de janeiro. Que em 2004 não faltem bons discos e bons shows – pra gente voltar a rachar a cabeça na hora de fazer listas de melhores do ano...


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