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Expectativas atendidas

10 set 2004 às 11:00
Conor Deasy, vocalista dos Thrills: pés fincados no primeiro escalão - Reprodução
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Considerando-se o ritmo vertiginoso da produção e do consumo de música pop na atualidade, em que bandas são laureadas como geniais numa temporada para no ano seguinte sua existência sequer ser lembrada, chega a ser confortante quando artistas que prometiam muito em seus primeiros passos realmente atendem às expectativas. Em 2003, a banda irlandesa Thrills e o cantor inglês Ed Harcourt sugeriram um futuro promissor, ao apresentarem dois dos melhores discos do ano, respectivamente "So Much For The City" e "From Every Sphere".

Ambos saíram no Brasil dentro da série "Made In Europe" da EMI, que anunciava as melhores intenções – CDs de artistas iniciantes estrangeiros a preços menos salgados do que a média – mas parou por ali mesmo. Agora, Thrills e Harcourt retornam: seus novos álbuns ganham as prateleiras britânicas na próxima segunda-feira. É mera coincidência o fato de ambos lançarem disco no mesmo dia, mas quase não parece – os irlandeses e Harcourt comungam muitas influências em comum, todas incensuráveis: Beatles, Beach Boys, Byrds, Zombies.

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"Let’s Bottle Bohemia" (Virgin – importado), segundo álbum dos Thrills, é mais significativo porque a banda liderada pelo vocalista Conor Deasy ainda tinha degraus a subir para fincar pés no primeiro escalão do rock atual. Afinal, se "So Much For The City" continha composições iluminadas, padecia um pouco de um certo deslumbramento bobinho com a América nas letras (as canções foram escritas depois que os integrantes da banda passaram férias nos Estados Unidos) e da irregularidade do repertório, que por vezes fraquejava.

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O novo álbum supera esses defeitos e reafirma as qualidades de seu antecessor: harmonias consistentes, melodias grudentas, refrões com pinta de hits imediatos, eventuais arranjos de cordas milagrosos - o final de "Not For All The Love In The World" chega às raias da sinfonia. Ingredientes inéditos na receita dos Thrills são algumas pitadas de cinismo e amargura nas letras de Deasy, vide "Saturday Night", impregnada de tensão nos versos e que destila melancolia num refrão de melodia solar ("eu sou apenas um homem/ e nem sou um dos melhores"), ou a ironia ferina de "You Can’t Fool Old Friends With Limousines".

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Justapondo rock brando ("Tell Me Something I Don’t Know"), pop perfeito ("Whatever Happened To Corey Haim?", "The Irish Keep Gate-Crashing") e baladas doídas ("Found My Rosebud"), "Let’s Bottle Bohemia" já é um dos grandes álbuns de 2004. E se presta bem ao clichê "disco de afirmação" sem que isso soe ofensivo.


Já Harcourt tinha muito pouco a melhorar em relação a "My Every Sphere". "Strangers" (Heavenly – importado), seu terceiro álbum, segue na toada de canções pop com muito piano, guitarras discretas e harmonias vocais. Além das boas referências citadas alguns parágrafos atrás, Harcourt saca outras: o folk onírico de Nick Drake ("The Trapdoor"), os momentos de euforia de Elliott Smith ("Born In The 70s"), Lennon solo ("The Music Box"), as baladas cortantes de Jeff Buckley ("Open Book", "This One’s For You").

Grandiloqüente ("Let Love Not Weigh Me Down") e minimalista ("Something To Live For") quando necessário, "Strangers" sugere um mundo sonoro quase perfeito, em que gente outrora confiável não envelhece mal: Harcourt é um Badly Drawn Boy que nunca saiu da fase "About A Boy", um Stuart Murdoch que não deixou o Belle & Sebastian virar repartição pública (ouça "Black Dress"). O único problema reside nas letras, nas quais o cantor recorre a alguns clichês ao falar de amor e soa ingênuo quando tenta ser político. É um pecado menor - o maior costuma ser prometer e não cumprir.


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